Para
registrar as histórias contadas de geração em geração que mantêm a tradição de
um povo, e representar as narrativas orais infantis de países africanos de
língua portuguesa, a escritora Avani Souza Silva produziu o livro A África
Recontada para Crianças, lançado recentemente pela Editora Martin Claret.
A
obra reúne contos e fábulas de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e
São Tomé e Príncipe.
“Há
mais de 20 anos eu pesquiso as narrativas, literaturas e culturas africanas, e
o livro surgiu a partir do material que coletei durante todo esse tempo”,
afirma a escritora ao Jornal USP.
Com
recursos do Programa de Ação Cultural (Proac) do governo do Estado de São
Paulo, o projeto foi realizado em 2014. A publicação só não pôde ser feita antes
por conta das responsabilidades acadêmicas de Avani, que é mestre e doutora
pelo Programa de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Segundo
ela, a motivação para o projeto também passa pelas leis brasileiras, que
demandam o ensino da história e da cultura africana, afro-brasileira e indígena
na educação fundamental e média. “Mas existe pouco material didático e pouco
investimento na formação do professor para ele ser instrumentalizado a dar
esses textos em sala de aula”, conta Avani.
Ela
ainda foi convidada por duas escolas para falar sobre o livro, e acredita que
isso possa abrir caminhos para as literaturas africanas, principalmente de
tradição oral, no ensino fundamental e médio.
De
acordo com ela, os principais animais que protagonizam essas histórias em Cabo
Verde são o boi e o lobo, na Guiné-Bissau é a lebre, em São Tomé e Príncipe é a
tartaruga, em Angola é o cágado e em Moçambique é o coelho.
“As
fábulas e os contos desses países apresentam com bastante frequência os animais
típicos de cada uma dessas localidades”, atesta Avani.
O
livro também apresenta narrativas que tratam de temas como a justiça, a boa
convivência e a escravidão. É o caso dos contos Os Velhos e sua Sabedoria, A
Adivinha, O Tambor Africano e Quanto Custa um Escravo?. “A seleção que eu fiz
privilegia esses temas e esses animais para dar uma noção da cultura oral em
cada um desses lugares”, diz.
Nesse
sentido, a autora também defende que o livro não foi feito apenas para
crianças, embora tenha o selo infantojuvenil e uma linguagem mais acessível a
elas. “Essas histórias que eu reconto são narradas oralmente nos serões
familiares e comunitários naqueles países, de que participam crianças, adultos e
idosos. Não é algo restrito.”
Com
o conteúdo, a autora acredita que é possível criar mais empatia, que pode
ajudar a sociedade a discutir melhor a base da própria formação étnica
brasileira. “É preciso olhar para esses povos e falar sobre eles para que possamos
entender mais sobre nós mesmos.” In “Mundo Lusíada” - Brasil
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