Composta por 120 obras, a nova colecção permanente do
Museu Picasso, em Málaga, apresenta vertentes menos conhecidas da obra do
mestre do cubismo
O
museu instalado na cidade natal de Pablo Picasso reformou a sua colecção
permanente, com obras que surpreendem e consolidam a imagem de um artista em
constante busca, por sentir “uma fobia de se tornar escravo de si mesmo”,
segundo José Lebrero, director artístico.
“Descobrimos
mais uma vez alguns aspectos do trabalho de Picasso que poderíamos conhecer
pelos livros, mas agora, como estão em exibição, podemos perceber ainda melhor”
a diversidade de um artista que “gostava pouco” de ser “académico”, acrescentou
à agência EFE.
Depois
de um prolongado fecho devido à pandemia, os corredores do Palácio Buenavista
reabriram portas com uma colecção de 120 obras, com curadoria de Pepe Karmel,
professor do Departamento de Arte da Universidade de Nova Iorque. Segundo
Lebrero, Karmel divide a carreira de Picasso em três etapas, sendo que na
primeira “considera-o como um revolucionário quando vai a Paris e nasce o
cubismo”.
A
segundo fase corresponde ao período entre guerras, quando Picasso se tornou
“uma referência da vanguarda”, e Karmel descreve-o como um “velho mago” durante
o terceiro período entre as décadas de 1940 e 50. Nesta última fase, Picasso
granjeou “reconhecimento internacional além de feudos artísticos, mas ainda
criando e surpreendendo no seu retiro no sul da França”.
Essa
cronologia usa conceitos tradicionais para ancorar a exposição, como retratos
ou naturezas-mortas, e desvenda “obras-surpresa”, como a tapeçaria de 1957
criada a partir de “Les Demoiselles d’Avignon”, pertencente a Picasso.
Na
secção dedicada à natureza morta está outra referência da colecção, “O Copo de
Absinto” (1914), um “soco na tradição da escultura” da época, através de uma
representação banal do recipiente onde era servida aquela típica bebida
alucinogénia.
Na
década de 1920, o mestre espanhol direccionou o seu olhar para a pintura
clássica e “questionou noções neoclássicas que tinham sido alvo de abusos e que
alimentaram críticas a Picasso, que não queria necessariamente ser o artista
cubista que se adequava à vanguarda”, realçou Lebrero.
Na
fase seguinte, esteve vinculado ao surrealismo, apesar de não ser um pintor
surrealista.
A
sua representação da forma feminina figurava sobretudo como “fantasia ou
fantasmagoria”. Entre 1927 e 1932, as mulheres pintadas por Picasso tornaram-se
“uma série de fragmentos conectados”, além de assumirem formas orgânicas como
“vegetais, raízes ou tubérculos”.
A
colecção também inclui referências à mitologia greco-latina e à figura do
Minotauro, “personagem que tem algo de humano e selvagem” e “que se relaciona
com as suas obsessões e desejos e com os temas da carnalidade, posse, força e
submissão”, acrescentou o especialista.
Quando
Paris foi libertada dos nazistas, o trabalho de Picasso era “sombrio, não
alegre ou optimista”, com figuras e personagens que transmitiam “mais incerteza
ou distância do que proximidade”, porém, segundo Lebrero, a partir de 1944, o
pintor reinventou-se e produziu figuras femininas “mais positivas”.
Grande
parte da mostra é dedicada ao interesse de Picasso por animais – corujas,
gatos, touros e pombos foram recorrentes em trabalhos nos anos 50, 60 e 70.
As
obras “surpreendem todos, decepcionam alguns e, por um tempo, são consideradas
residuais e decadentes, mas depois são apreciadas pela sua sensação de
liberdade”, sintetizou o director artístico. In “Jornal
Tribuna de Macau” – Macau com
agências internacionais
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