Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Brasil – Florianópolis, a exceção, completa um mês sem mortes

Já nos primeiros dias de combate ao vírus, o entendimento da secretaria de saúde local era o de seguir os rumos de países que conseguiram bons resultados no enfrentamento à pandemia



Enquanto os números da Covid-19 disparam nas maiores cidades do Brasil, Florianópolis parece ter conseguido controlar a pandemia. A capital de Santa Catarina, cuja população é de 500 mil habitantes, tem taxa de transmissão (R0) considerada baixa, soma 814 casos e não registra mortes em decorrência da doença há um mês. Segundo os dados oficiais, o último dos sete óbitos foi confirmado em 4 de maio. Mas como o município evitou um avanço desenfreado do coronavírus?

Há algumas medidas apontadas pela administração municipal como fundamentais para conter a pandemia. A primeira delas é o estabelecimento precoce de normas para manter as pessoas em casa. “Já no dia 13 de março, tivemos o primeiro decreto para o isolamento social, um dos primeiros entre as capitais do Brasil. Tivemos praticamente uma quarentena estabelecida na nossa cidade”, conta o prefeito Gean Loureiro (DEM), em entrevista ao Estado de Minas.

No aeroporto internacional da cidade, foram instaladas barreiras sanitárias. Nos desembarques, os passageiros são submetidos a um protocolo que inclui um teste de coronavírus e recebem orientações para permanecerem em casa por pelo menos sete dias - prazo dobrado em caso de pessoas com sintomas da doença.

Já nos primeiros dias de combate ao vírus, o entendimento da secretaria de saúde local era o de seguir os rumos de países que conseguiram bons resultados no enfrentamento à pandemia. Por isso, a cidade ampliou a testagem da população, estratégia que conseguiu ser implementada em função da compra antecipada de exames. “Isso permite que a gente, além de identificar a doença de maneira precoce, tratando para não chegar em estado grave, consiga testar todos os contatos dos últimos sete dias (de quem testou positivo)”, diz Loureiro.

A estratégia de enfrentamento à pandemia na cidade também passa por multar quem descumprir as normas sanitárias, monitorar o deslocamento das pessoas para medir o nível de isolamento social, identificar as redes de contato de quem testou positivo e criar um serviço de telemedicina que atendeu cerca de 60 mil pessoas (12% da população da cidade). “Estamos falando de pelo menos 10 mil idosos que iriam a unidades de saúde com o risco de contaminarem ou serem contaminados”, diz Loureiro.

A tecnologia também foi usada para conscientizar a população. Pessoas que vivem em casas localizadas a até 200 metros de pacientes diagnosticados com COVID-19 recebem notificações. “Foram disparados mais de 20 mil SMS (mensagens de texto) informando que existiam casos próximos. Isso começou a dar uma demonstração de que a doença estava mais próxima da pessoa do que ela imaginava”, afirma.

Reabertura

Em meio ao cenário tecnicamente positivo, Florianópolis começou a reabrir o comércio já em 20 de abril. O entendimento das autoridades públicas locais é que a cidade está em fase de “risco moderado” no enfrentamento à pandemia. Portanto, as lojas devem seguir algumas regras, como a obrigatoriedade do uso de máscaras, o limite de um cliente por atendente e o espaço de quatro metros quadrados entre as pessoas.

“Nas nossas medidas, levamos em conta um artigo que foi publicado na Universidade de Stanford, que é o The Hammer and the Dance (O Martelo e a Dança), que explica o combate nas cidades que tiveram sucesso. Você dá a martelada, que é praticamente uma quarentena geral. Nosso R0, que é o fator de transmissão, estava em 3,7 e caiu para 1,2. Mantivemos o isolamento. Hoje, é 0,89, com oscilação de 0,2 para cima ou para baixo. Isso significa que uma pessoa transmite para menos de uma pessoa. E a gente controla essa dança (reabertura da cidade)”, diz Loureiro.

Nos primeiros dias de reabertura do comércio, o Centro de Florianópolis teve grande movimentação de pessoas. Apesar disso, a capital catarinense não apresentou crescimento exponencial no número de casos da doença. O entendimento é que as medidas de precaução têm sido cumpridas pela população. O processo de retomada das atividades avançará na próximo dia 17, quando o transporte coletivo municipal voltará a funcionar após quase três meses parado. Contudo, as linhas intermunicipal, interestadual e internacional, além de fretados, continuarão suspensas.

As regras para o retorno dos ônibus, que não funcionarão nos fins de semana, já estão alinhadas pelas autoridades sanitárias. As normas incluem testagem e treinamento de todos os trabalhadores, ampliação da frota, lotação máxima de 40% dos assentos disponíveis, obrigatoriedade de uso de máscara, proibição de pagamento em dinheiro (para evitar contato entre as pessoas), disponibilização de álcool em gel e monitoramento do cumprimento das medidas por meio de câmeras.

Para evitar aglomerações nos ônibus e nos terminais, outra medida foi dividir a atividade econômica da capital em oito grupos e definir períodos específicos de funcionamento para cada um deles. O objetivo é evitar os ‘horários de pico’ e manter os índices de lotação dos ônibus entre 20% e 30%.

Porém, a volta dos ônibus pode dificultar a identificação e a testagem de contatos das pessoas que contraírem a doença. Por isso, a cidade vai exigir que todos os passageiros façam um registro por QR Code em seus celulares quando iniciarem uma viagem. “Se tiver alguma pessoa contaminada, vamos saber todos os que estavam dentro do ônibus e ter condição de chamar todos para fazer o teste para ver se houve alguma transmissão naquele momento”, explicou o prefeito.

Apesar do avanço na reabertura da cidade, Loureiro relatou que há pressão, especialmente do setor empresarial, para acelerar o processo. “Imagine todo o comércio abrir no estado e só não abrir em Florianópolis. Como foi a pressão em cima de mim? Imagine todo o transporte coletivo funcionando e o nosso só abrindo no dia 17, com o comerciante dizendo que não tem cliente para comprar porque não tem ônibus para levar até o centro da cidade. É natural que se tenha uma pressão. A pressão é até legítima. Meu papel é avaliar essa pressão dentro de um quadro técnico”, finalizou. João Marques – Brasil in “Correio Braziliense”

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