Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Macau - Economia caiu 48,7% no primeiro trimestre de 2020

A economia de Macau caiu 48,7% no primeiro trimestre, reflectindo uma quebra que não surpreendeu os economistas ouvidos pelo Jornal Tribuna de Macau, devido à actual conjuntura no sector do jogo. Porém, apesar de Macau ter uma grande reserva financeira, alertam que esta situação poderá tornar-se incomportável e defendem a abertura das fronteiras como solução

O Produto Interno Bruto (PIB) sofreu uma descida anual de 48,7%, em termos reais, durante os primeiros três meses deste ano. Segundo salientou a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), “embora não tenha ocorrido qualquer contágio a nível comunitário em Macau, a economia do território, em que predominam as exportações de serviços, sofreu um grave impacto da queda drástica da procura global”.

Economistas contactados pela Tribuna de Macau consideraram que a queda era “expectável” tendo em conta a correlação com as receitas do sector do jogo, que também estão em queda devido ao encerramento das fronteiras, para conter a disseminação do novo coronavírus.

“Podemos notar que a resposta do PIB é muito próxima do que aconteceu com a quebra das receitas do jogo”, que como é natural, “nesta altura é muito acentuada”, indicou Albano Martins. Por isso, o economista sublinha que a recuperação económica depende das regras impostas nas fronteiras.

“Não há outra hipótese de recuperação a não ser pela via da abertura das fronteiras de Macau a jogadores chineses e de Hong Kong, claro neste momento mais da própria China Continental”, defendeu.

No que diz respeito à procura interna, segundo os dados oficiais, as exportações de serviços desceram 60%, em termos anuais, com destaque para as quedas de 61,5% nas exportações de serviços do jogo e de 63,9% nas exportações de outros serviços turísticos. As exportações de bens diminuíram 23,5%.

Albano Martins esclareceu que “Macau não exporta bens, só exporta serviços, o que é o termo técnico económico para dizer que nós vendemos produtos, que são serviços no território de Macau, a não residentes. Chamamos exportação de serviços, mas não há exportação nenhuma”.

Neste contexto, Albano Martins considera que as actuais restrições de entrada são desproporcionais à dimensão do problema da pandemia. “Quem entender que pode melhorar a economia de Macau estando apenas preocupado com a saúde pública está enganado. Isto é um binómio, as duas coisas dependem uma da outra, mas é preciso a determinada altura haver um grau de risco”.

“Quando há mais de 50 dias que não temos contaminação nenhuma, nós estamos a dar um tiro nos próprios pés”, disse, alentando que este “tiro nos próprios pés” custa muito dinheiro ao Governo. “Não estou preocupado com as receitas do jogo em si. Estou preocupado com as receitas do jogo do Governo que são substancialmente elevadas para serem perdidas apenas porque quem decide as questões económicas, mistura as questões económicas com as questões de saúde publicas”.

Por sua vez, José Sales Marques diz que a recuperação económica será “certamente só depois do Verão”.

“Apesar do consumo interno estar a recuperar, até pela injecção dos cartões de consumo electrónico o consumo representa uma parte não tão significativa, [do PIB] sobretudo, o consumo interno dos residentes. Portanto, enquanto não recuperarmos o número de visitantes, quer em termos gerais, quer particularmente, visitantes que venham cá jogar, vamos continuar a ter valores muito baixos em termos do PIB”, explicou.

Quanto ao Governo “já chegou ao limite daquilo que vai fazer do ponto de vista de injecção na economia, aquilo que podemos chamar de estímulos fiscais”. “O que vamos ter a partir de agora é o regresso do funcionamento normal da economia de Macau”, indicou referindo-se às duas rondas de apoios que totalizaram uma injecção de 13,6 mil milhões de patacas na economia local.

Sales Marques destacou ainda que o Executivo já assumiu um orçamento deficitário para o corrente ano e que os valores referentes ao primeiro trimestre correspondem às expectativas traçadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). “Aquilo que está previsto pelo FMI é uma queda de 29% para este ano e, por enquanto, acho que essa previsão está mais ou menos dentro daquilo que poderá acontecer”.

Um “amortecedor” parcial

Por outro lado, José Isaac Duarte, observa que as “previsões dependem de um conjunto de pressupostos, que nesta altura são muito difíceis de definir”.

“Abril foi 5% das contas do ano passado. No primeiro semestre foi um período de adaptação onde as pessoas foram postas em ‘lay-off’ ou despedidas, ainda têm algumas poupanças e por isso não têm padrões de consumo, mas a cada mês que passa essa situação se irá agravar mais”, alertou o economista. “Já estamos a metade do ano, não podemos ficar assim o ano todo”, indicou, acrescentando que as iniciativas do Governo serão insuficientes dada a dependência económica do sector do jogo e das receitas das despesas dos visitantes.

Os economistas afirmaram ainda que a reserva financeira tem capacidade para suportar esta situação durante bastante tempo, mas Isaac Duarte nota que “as reservas também precisam ser reabastecidas”.

“Existe um amortecedor, mas que servirá apenas parcialmente. Nunca será um amortecedor que substitui o resto da economia. As despesas totais do Governo representam cerca de 25% do PIB, por isso o Governo tem de cobrar esses impostos, uma vez que não vende serviços”, afirmou Isaac Duarte.

Por outro lado, no que diz respeito ao sector privado, “precisa de manter os padrões de vida, e em alguns casos padrões de vida mínimos porque começará a haver pessoas com carências para satisfazer as necessidades básicas”.

O comunicado da DSEC referente ao primeiro trimestre indica ainda que a procura interna “arrastada principalmente pelas diminuições do investimento em activos fixos e da despesa de consumo privado, não obstante o aumento de cinco por cento da despesa de consumo final do Governo”, teve uma queda de 17,5%. A despesa do consumo privado sofreu uma descida de 15,2%, justificada pela redução no consumo fora de casa e nas viagens.

No campo das despesas, o Governo adquiriu mais equipamentos de protecção e materiais médicos, lançou medidas de apoio financeiro e reservou hotéis para quarentenas, “incrementando assim a amplitude ascendente da despesa de consumo final do Governo, passando de 1,9% no trimestre anterior para cinco por cento”.

A amplitude descendente do investimento em activos fixos foi agravada com um decréscimo anual de 37,2%. Por outro lado, investimento em obras públicas registou uma subida anual de 47,8%.

Em termos anuais, as importações de bens caíram 30,8% dadas as diminuições na despesa de consumo privado, no investimento e nas despesas dos visitantes. Sofia Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

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