O
médico português Francisco Pavão considera que Angola “fez a diferença” ao
adoptar com antecipação medidas de prevenção e combate à covid-19, salientando
que a população está também “mais preparada” para viver com epidemias.
Após
dois meses de estado de emergência e uma semana de calamidade pública, Angola
regista actualmente 81 casos da doença e quatro óbitos, sendo o país lusófono
com menor número de infectados.
O
especialista de saúde pública, radicado em Luanda, considera que Angola fez a
diferença tomando medidas precoces.
“Em
Janeiro, o aeroporto 4 de Fevereiro em Luanda já fazia um controlo sanitário a
todos os cidadãos que chegavam com medição de temperatura” e rastreios aos
viajantes, adoptando em Fevereiro e início de Março “medidas exigentes” para
cidadãos provenientes de países com circulação comunitária, incluindo
quarentena obrigatória e testagem depois de 14 dias de confinamento, declarou à
Lusa.
As
medidas de saúde pública, como o distanciamento social e a lavagem das mãos,
ajudaram também no controlo da disseminação da doença.
O
facto de a população “estar preparada para epidemias e rapidamente se ter
percebido da ineficácia” de resposta do incipiente sistema de saúde angolano
terá também contribuído para que muitas pessoas tenham decidido adoptar
confinamento e as regras de higiene recomendadas pelas autoridades, indicou o
médico.
“O
que se sabe é que o vírus em África não tem tido a mesma força devastadora que
noutros países do mundo”, sublinhou Francisco Pavão, assinalando, no entanto,
que há um desconhecimento significativo sobre a circulação do vírus devido à
falta de capacidade de testagem.
“Para
conhecermos a circulação do vírus entre a população temos de fazer testes e é
aquilo que não se está a fazer aqui, seja pela dificuldade em obter testes,
seja pela dificuldade em obter materiais”, explicou, acrescentando que só
aumentando o número de testes se poderá “saber quem está infectado, isolar e
tratar”.
Questionado
sobre a abordagem adoptada pela Organização Mundial de Saúde para combater a
doença, Francisco Pavão realçou que foram adoptadas as medidas básicas
aconselhadas em saúde pública para combater a circulação de um vírus:
distanciamento social, medidas de etiqueta respiratória, lavagem frequente das
mãos.
Outras
medidas como a quarentena ou o teletrabalho dependem mais das condições sociais
e económicas da população.
“Sabemos
que isso não está disponível para todos”, disse o especialista, salientando que
a população “suportou com grande coragem as medidas de confinamento e soube
rapidamente adaptar-se a essas exigências”, fabricando máscaras caseiras ou
adoptando sistemas artesanais para lavagem das mãos nos candongueiros (táxis
colectivos).
Francisco
Pavão destacou ainda a “pedagogia imensa” das autoridades angolanas que levou a
que as medidas promovidas para controlar a disseminação da doença começassem
rapidamente a entrar no quotidiano dos cidadãos.
Por
exemplo, enquanto na Europa se discutia ainda o uso de máscaras, Angola
adoptava já esta medida de protecção individual, indicou.
Com
a adopção do estado de calamidade em Angola, que prevê o alívio de algumas
restrições para preparar o regresso a normalidade, Francisco Pavão considera
que é necessário “acompanhar o comportamento da curva epidemiológica”, para
avaliar se é necessário retroceder em algumas medidas ou não.
Francisco
Pavão, também secretário permanente da Comunidade Médica de Língua Portuguesa,
diz que “há muitas avaliações a serem feitas quando a doença estiver mais
controlada”, mas é possível para já retirar alguns ensinamentos.
“O
que esta crise sanitária demonstrou é que todos temos um papel predominante e
importante na contenção e disseminação da doença. Todos contam para diminuir a
transmissibilidade do vírus, para a prevenção da doença e para a protecção do
próximo”, frisou. In “O Século de Joanesburgo” – África do Sul” com “Lusa”
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