Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Portugal - Investigação do CIBIO-InBIO faz capa da Science



Um estudo liderado por uma equipa internacional composta, na sua maioria, por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), da Universidade do Porto, e que descreve pela primeira vez o gene responsável pelas diferenças de cor entre machos e fêmeas nas aves, foi escolhido para ser a capa na edição de 12 de junho de 2020 da revista Science. É a primeira vez que um artigo assinado por autores correspondentes da U.Porto merece tal destaque naquela que é – a par da Nature – a mais prestigiada revista científica do mundo.

A plumagem das aves foi considerada, durante muito tempo, um fenómeno para além da compreensão humana. O estudo agora publicado vem dar a conhecer o mecanismo responsável pelas cores mais exuberantes que os machos de muitas espécies de aves normalmente ostentam.

Para conhecer este fenómeno, geralmente denominado por Dicromatismo Sexual (um tipo de dimorfismo sexual que ocorre quando os sexos de uma mesma espécie diferem na coloração), os investigadores utilizaram uma raça peculiar de canários vermelhos – os canários Mosaico – que herdaram dos seus ancestrais um gene responsável pela produção de penas vermelhas. A descoberta deste gene foi realizada em 2016 por Miguel Carneiro, o investigador que liderou este estudo.

“Os canários Mosaico proporcionaram-nos uma oportunidade única para encontrar os genes responsáveis pelo dimorfismo sexual, porque podemos criar canários nos quais a única diferença entre eles é o facto de terem dicromatismo sexual ou não”, salienta o investigador do CIBIO-InBIO.





Com genomas muito semelhantes, mas …

Através da sequenciação do genoma dos canários Mosaico, os investigadores encontraram uma única região divergente no ADN, quando comparado com o ADN de outras variedades de canários. “É surpreendente que estas diferenças tão drásticas na coloração das penas sejam determinadas por um único gene”, explica Miguel Carneiro.

Este gene codifica uma enzima que “degrada os pigmentos vermelhos e amarelos. A diferença entre os machos com cores vivas e as fêmeas com cores esbatidas é resultado da quantidade de pigmentos que são depositados nas penas. Assim, este tipo de gene pode dar origem a machos mais coloridos e fêmeas com menos cor”, refere Ricardo Jorge Lopes, um dos primeiros autores do artigo publicado na Science, autor da fotografia da capa e que também é Curador de Aves no Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP).

Os resultados do trabalho revelaram ainda que este gene se comporta da mesma forma em outras espécies de aves da mesma família, fazendo crer que este pode ser um mecanismo comum para o dicromatismo sexual em aves.

Com este novo conhecimento, os investigadores acreditam que se abrem novas possibilidades no estudo da evolução da expressão das cores em machos e fêmeas. Por outro lado, será mais fácil entender como as estratégias de acasalamento e de nidificação, pressões de predação e a luz ambiental afetam a evolução da coloração em aves.

Para além do CIBIO-InBIO, a equipa responsável pela descoberta contou ainda com a participação de investigadores da Universidade de Coimbra, Universidade Washington em St. Louis (EUA) e Universidade de Auburn (EUA).



Sobre a Science

Publicada desde 1880, pela American Association for the Advancement of Science (AAAS), a Science Magazine é considerada, ao lado da Nature, uma das revistas científicas mais antigas e influentes do mundo.

Com mais de 500 mil leitores e um dos mais elevados fatores de impacto do mundo, a revista tem como foco a publicação das mais importantes descobertas científicas nos diferentes ramos do conhecimento. Entre as descobertas reveladas pela Science incluem-se os resultados das missões do programa Apollo da NASA, os primeiros estudos sobre o vírus da Sida – Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) – ou o mapa completo do genoma humano.

A concorrência para publicar na Science é por isso muito intensa, sendo que menos de 7% dos artigos submetidos são aceites para publicação. Universidade do Porto “Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos” - Portugal

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