Na
vila alentejana de Vila Viçosa, ergue-se o busto de Florbela Espanca
(1894-1930), um dos mais reconhecidos ‘filhos da terra’. A poetiza dá também
nome ao cineteatro e a biblioteca, assim como à rua onde está uma casa onde
viveu.
É
nessa casa, com sinais de degradação, que se projeta construir uma casa-museu
para divulgar ao público o espólio de Florbela Espanca.
Na
fachada há uma placa com o texto “Nesta casa viveu Florbela Espanca”, uma
caricatura da poetisa e, abaixo dela, o conhecido verso “E é amar-te, assim,
perdidamente…“
“Existe
um carinho muito grande” por Florbela na sua “terra natal”, diz à agência Lusa
Noémia Serrano, vice-presidente do Grupo Amigos de Vila Viçosa, que detém um
“espólio valioso” com “cerca de 100 peças” da poetisa, legado pelo seu terceiro
e último marido, Mário Lage.
No
país, “penso que o nosso espólio é o segundo, em termos de riqueza”, destaca,
indicando que “o primeiro está na Biblioteca Nacional, em Lisboa”, e que, em
Matosinhos, onde Florbela viveu os seus últimos anos e onde morreu, “também
existe alguma coisa”.
O
nome da poetisa, que funciona como “chamariz” turístico local, “quebra” as
“fronteiras” do concelho alentejano e mesmo do país e atrai investigadores
vindos de longe.
“Florbela
Espanca é uma grande poetisa nacional” e tem “um peso fundamental para a
cultura nacional e também de Vila Viçosa”, assinala Luís Nascimento,
vice-presidente da câmara municipal.
Interessados
em consultar o espólio, chegam “muitos mestrandos e doutorandos” de
universidades do Brasil, país onde “Florbela é mesmo muito importante”, conta
Noémia Serrano.
E
investigadores “de Oxford”, em Inglaterra, ou de “S. Francisco”, nos Estados
Unidos, e “de várias universidades” nacionais também “rumam” à vila,
acrescenta.
Peças
do Grupo Amigos de Vila Viçosa e manuscritos do acervo da poetisa pertencentes
à Fundação da Casa de Bragança, que foram adquiridos no tempo do então
presidente do conselho administrativo e, agora, Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa, estão expostos no Paço Ducal de Vila Viçosa, até ao
próximo dia 12, numa mostra comemorativa da escritora.
“Temos
manuscritos do ‘Dominó Preto’ que foram adquiridos” quando Marcelo Rebelo de
Sousa foi “presidente do conselho administrativo da Fundação da Casa de
Bragança”, a par de “manuscritos” e do próprio “berço de Florbela”, do Grupo
Amigos de Vila Viçosa, conta Tiago Salgueiro, técnico superior do
Museu-Biblioteca da Casa de Bragança.
Espólio
corre o risco de se perder
Num
congresso recente sobre a escritora, investigadores brasileiros visitaram a
mostra e “ficaram extremamente emocionados por verem estes materiais” escritos
pelo “próprio punho” de Florbela Espanca, relata.
“Isto
dá-nos uma ideia daquilo que poderia vir a ser o impacto da casa-museu num
futuro próximo. Portanto, o que desejamos é que o projeto se possa vir a
concretizar a curto prazo”, diz Tiago Salgueiro, que, como investigador e
membro de um grupo de cidadãos, lançou, há uns anos, um abaixo-assinado em
defesa da casa-museu e tem identificado coleções particulares com “objetos
relacionados com Florbela Espanca”.
Em
casas pela vila, descobriu manuscritos, pinturas de João Maria Espanca, pai da
escritora, “a banheira onde a Florbela tomou banho” e respetiva “botija de gás”
e até “uma escrivaninha que também terá pertencido à família e à própria
Florbela”.
“Há
um espólio muito considerável que corre o risco de se perder”, alerta,
defendendo que a casa-museu “é fundamental” para proteger as peças e reuni-las
num “espaço digno”, que permita “a fruição pública” e seja motivo de atração
turística.
“Muitos
dos proprietários estão disponíveis para fazer esse depósito a longo prazo”,
reunindo “todas essas coleções num espaço que, efetivamente, sirva de homenagem
à Florbela Espanca e à sua obra literária”, garante Tiago Salgueiro à Lusa,
lamentando que o avanço do projeto tenha “sido complicado” porque “não tem
existido vontade política”.
A
criação da casa-museu “é uma batalha que já tem barbas”, marcada por “muitas
dificuldades, tanto por parte da família” detentora da casa, “como por parte da
edilidade, que umas vezes tem verba, outras vezes não tem”, afiança Noémia
Serrano.
Mas,
desta vez, a porta-voz do Grupo Amigos de Vila Viçosa acredita no sucesso das
negociações: “Penso que está tudo a conseguir-se para que o objetivo seja
atingido” e o grupo “terá todo o gosto em possibilitar a mostra do espólio”.
O
vice-presidente da câmara lembrou que “já há alguns anos” que o município
contacta com “os proprietários do edifício onde viveu” a poetisa: “Continuamos
em conversações, temos em orçamento a rubrica para poder adquirir esse
edifício, estamos a aguardar respostas para que essa aquisição possa ser
feita”.
A
autora do ‘Livro de Mágoas’, ‘Livro de Soror Saudade’, ‘Charneca
em Flor’ ou ‘Juvenília’ é considerada uma das mais brilhantes
poetisas de língua portuguesa de todos os tempos. Florbela Espanca nasceu em
Vila Viçosa, a 08 de dezembro de 1894, e faleceu em Matosinhos, de 07 para 08
de dezembro de 1930, com 36 anos. Foi sepultada naquela localidade, mas os seus
restos mortais foram depois trasladados para o cemitério de Vila Viçosa. In “Mundo
Português” – Portugal com “Lusa”
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