Um
artigo acabado de publicar na revista Nature Communications mostra,
pela primeira vez, que existem menos ligações entre neurónios, as chamadas
sinpases, no cérebro dos doentes com esquizofrenia. Esta hipótese da disfunção
sináptica já tinha sido levantada há algum tempo, com base em exames post
mortem, mas nunca tinha sido verificada em vida. O novo estudo, que teve a
participação do psiquiatra e investigador português Tiago Reis Marques,
envolveu dois institutos de referência de Inglaterra, o Kings College e o
Imperial College, e pode mudar a forma como se encara a doença, o diagnóstico e
o tratamento.
“Já
tínhamos percebido [em autópsias] que nos doentes com esquizofrenia o volume
cerebral é menor tal como a espessura do córtex. Com este trabalho demos um
primeiro passo no sentido de mostrar que há um menor número de sinapses”
afirmou Tiago Reis Marques.
A
esquizofrenia, tal como todas as doenças do cérebro, é um problema de natureza
complexa e que só agora começa a ser compreendido. “Acontecem muitas
alterações, mas todas elas subtis, difíceis de detetar em exames como a
Ressonância Magnética”, sublinha Tiago Reis Marques. “Já tínhamos percebido [em
autópsias] que nos doentes com esquizofrenia o volume cerebral é menor, tal
como a espessura do córtex. Com este trabalho demos um primeiro passo no
sentido de mostrar que há um menor número de sinapses”, resume.
A
investigação, que demorou três anos – desde o momento em que se começou a
desenhar o estudo até à publicação dos resultados –, só foi possível graças ao
desenvolvimento da tecnologia PET (emissão de positrões), que permite ver o
cérebro dos doentes com um pormenor sem precedentes. Exigiu também uma
conjugação de esforços das equipas médicas e de investigação dos dois
institutos londrinos, que se agruparam em consórcio. “Cada um dos exames PET
custa cerca de sete mil euros”, nota o psiquiatra.
Para
estudar a malha de sinapses, os cientistas recorreram à proteína SV2A, cuja
concentração está associada ao número de ligações entre os neurónios. Ou seja,
esta proteína funciona como um marcador sináptico: quanto mais proteína houver,
maior é o número de sinapses no cérebro analisado. Injetando uma substância
radioativa, que se liga à SV2A, tornando-se visível num exame PET, foi possível
comparar a arquitetura cerebral dos 18 voluntários saudáveis e dos 18
pacientes. Nestes últimos verificou-se que os níveis da SV2A eram menores em
áreas como o córtex frontal, envolvido no processamento da memória e dos traços
de personalidade – precisamente algumas das funções mais afetadas pela
esquizofrenia.
“Os
tratamentos atuais para a esquizofrenia têm como alvo apenas um aspeto da
doença – os sintomas psicóticos. Mas para os debilitantes sintomas cognitivos,
tais como a perda de capacidade de planeamento e os problemas de memória,
causadores de muito mais incapacidade a longo prazo, não há qualquer tratamento”,
sustentou Oliver Howes.
Já
há algum tempo que se suspeitava de que falhas na comunicação entre neurónios
eram responsáveis por pelo menos parte dos sintomas de esquizofrenia, como
apatia, confusão mental, alucinações e défice cognitivo. A medicação ajuda a
controlar os sintomas, mas não trata a doença. Além disso, o último
antipsicótico a entrar no mercado já fez 60 anos, e nem todos os pacientes
respondem bem ao tratamento (um em cada cinco casos não apresenta melhoras com
a terapêutica disponível). A partir deste conhecimento da Biologia da doença,
os cientistas esperam conseguir encontrar novas vias de tratamento e
diagnóstico, até mesmo para outras doenças do cérebro. “Os tratamentos atuais
para a esquizofrenia têm como alvo apenas um aspeto da doença – os sintomas
psicóticos. Mas para os debilitantes sintomas cognitivos, tais como a perda de
capacidade de planeamento e os problemas de memória, causadores de muito mais
incapacidade a longo prazo, não há qualquer tratamento”, realça num comunicado
do Imperial College o responsável pelo estudo, Oliver Howes.
“Pensa-se que a perda de sinapses está na origem destes sintomas”, conclui o
professor de Psiquiatria Molecular.
Para melhor compreender
a evolução da doença, o grupo pretende agora continuar o estudo, monitorizando
a variação da concentração da proteína SV2A em diferentes fases da doença. “Não
sabemos se a perda na proteína ocorre logo no início, se numa fase mais
avançada, se esta perda está na origem ou é uma consequência da esquizofrenia”,
diz Tiago Reis Marques. Sara Sá – Portugal in "Visão"
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