Beatriz Basto da Silva foi a oradora do “Serão com
Histórias” realizado na Fundação Rui Cunha. A conversa teve como mote os
“Encontros e Desencontros” em Macau e de que forma marcaram a identidade do que
considera ser o sentimento de ser Macaense
O
termo Macaense é “indefinível” por se tratar de um sentimento, defendeu Beatriz
Basto da Silva, historiadora portuguesa, residente em Macau desde 1970,
professora e autora de várias obras relacionadas com a história do território.
“Ser
Macaense é um sentimento de pertença que temos e que não se torna generalizado
se nós não estivermos cá”, defendeu Beatriz Basto da Silva, antes de iniciar a
sessão inserida no ciclo “Serões com Histórias”.
O
sentimento a que se refere é sobre uma identidade própria da cidade resultado
de “Encontros e Desencontros”, título da conversa que teve com o público ontem
na Fundação Rui Cunha. “Os encontros estão no facto das pessoas se juntarem
aqui em Macau e de irem construindo, porém, trata-se de construções
movimentadas, sempre em mudança, o que também gera desencontros. Nem sempre as
pessoas que chegam são compreendidas pelas que já cá estão”, e vice-versa
afirmou.
A
investigadora considera a comunidade macaense muito competitiva e que, por via
disso se acaba por isolar, gerando vários desencontros entre si.
Sendo
uma “terra verdadeiramente de migrações”, “Macau deriva de várias origens, e
essas origens moldam a forma, a maneira de ser”, desde o seu início, explicou.
Num
primeiro momento, motivadas por questões religiosas mais tarde em resultado de
um “cruzamento de interesses”, as migrações fizeram com quem as pessoas se
começassem a estabelecer no território dando origem a esta região especial, em
vários aspectos.
A
historiadora apontou à Tribuna de Macau uma forma de observar todas as épocas
de migrações nos dias de hoje. “Basta uma pessoa sentar-se à mesa e perceber a
origem de cada um dos ingredientes. Daí já percebe que vieram da Índia, da
Tailândia, de Timor, do Japão, da África, do Brasil entre outros, que fizeram
comércio de colonos, entre eles países europeus. A começar por ingleses,
holandeses, franceses e depois toda a espécie de países nórdicos mesmo os do
Báltico, também cá chegaram. Como é que se nota? Alguns já se diluíram, mas uma
maneira de ver é às refeições”, explicou.
Pela
segunda vez a assumir o papel de oradora nos “Serões com Histórias”, mostrou-se
satisfeita por ver a sala cheia para uma conversa “agradável e descontraída”.
“É uma boa maneira de acabar a tarde e útil. Damos de nós e partilhamos com os
interessados o nosso testemunho além de ser um encontro de amigos”, afirmou.
Beatriz
Basto da Silva reforçou a importância da iniciativa por reunir as pessoas, até
porque “as coisas que têm alguma graça tendem a desaparecer depressa em Macau”,
apontando como justificação a comunidade pouco fixa deste “lugar de passagem”.
Para
o futuro deseja para Macau “encontros pacíficos e de respeito. Encontros de
possibilidade de habitação, de tolerância como até agora. Bem como a ligação
com a China favorável”.
“Ao
contrário de Hong Kong, nós temos uma posição mais favorável para o respeito
que a China tem por nós (…) até porque nunca tivemos nenhum dissidente. Por
outro lado, aqui em Macau, devia haver mais espaço para a língua portuguesa,
nomeadamente nas repartições públicas”, sublinhou.
A
primeira sessão do ano dos “Serões com Histórias”, foi promovida pelo Centro de
Reflexão, Estudos e Difusão do Direito de Macau e pela Associação dos Antigos
Alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco (AAAECPN). A moderar a sessão esteve
José Basto da Silva, presidente da AAAECPN e filho da oradora. Sofia Rebelo –
Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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