Líderes
da comunidade luso-malaia afirmaram que espaços de restauração no bairro
português em Malaca estão a ser indevidamente arrendados a pessoas que não
pertencem à comunidade lusodescendente.
Pelo
menos quatro restaurantes, num total de 10, foram subarrendados por pessoas
externas à comunidade do Bairro Português em Malaca, onde se estima viverem
ainda entre mil a dois mil lusodescendentes em cerca de 180 casas, denunciou o
regedor cultural do Bairro português em Malaca, Martin Theseira.
Também
Joseph Santa Maria, um dos representantes da minoria luso-malaia perante o
estado de Malaca, confirmou à Lusa a existência destes casos, que estão a gerar
revolta dentro da comunidade do bairro.
O
Governo local determina o arrendamento destes espaços exclusivamente à
comunidade lusodescendente, explicou Joseph Santa Maria.
“O
Governo não pode permitir esta transferência a pessoas de fora da comunidade”,
frisou o regedor cultural do Bairro português em Malaca, cidade onde em 1509
Diogo Lopes Sequeira, enviado do rei D. Manuel, aportou para estabelecer
relações e dois anos mais tarde Afonso de Albuquerque desembarcou, demolindo a
Grande Mesquita e levantando no local uma fortaleza que seria um importante
entreposto comercial, durante cerca de 100 anos, até à tomada da cidade pelos
holandeses.
As
denúncias já chegaram ao ‘mayor’ de Malaca, Mansor Sudin, que assegurou, em
declarações ao jornal The Malaysian Insight, que vai investigar o caso.
“Se
estas denúncias forem verdadeiras, o Conselho Histórico da Cidade de Malaca vai
encerrar os contratos com os inquilinos”, prometeu o autarca.
Os
dois lusodescendentes mostraram-se satisfeitos com a tomada de posição do
‘mayor’ de Malaca.
“Protegendo
o interesse da comunidade, o Governo tomará uma ação se alguém vender ou alugar
o espaço a um empresário que não seja português de Malaca. É uma notícia
positiva para a comunidade”, congratulou Joseph Santa Maria.
Este
caso só acontece porque membros da comunidade decidiram trespassar os
restaurantes a pessoas que não pertencem ao bairro. Quanto a isso, o regedor
cultural mostrou-se compreensivo e solidário para com estes membros da
comunidade. “Não tinham dinheiro e decidiram fazer isto”, afirmou.
Para
além da ilegalidade destes casos, a perda da autenticidade gastronómica nestes
restaurantes é vista também como um problema sério que a comunidade não pode
virar as costas.
“Quem
não é da comunidade não cozinha como nós e por isso a autenticidade
gastronómica vai-se perder”, afirmou.
Para
além da gastronomia, a comunidade do bairro português em Malaca mantém ainda
vivas muitas tradições e costumes portugueses, como o crioulo de matriz
portuguesa kristang, uma língua agora ameaçada de extinção, que emprega a maior
parte do seu vocabulário do português, mas a sua estrutura gramatical é
semelhante ao malaio e extrai as suas influências dos dialetos chinês e
indiano.
Outro
dos laços que esta comunidade ainda mantém com a antiga metrópole são as
tradições católicas, que fazem parte da identidade cultural desta população
como por exemplo o Natal e as festas de São Pedro. In “Bom dia
Europa” – Luxemburgo com “Lusa”
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