Filho
de portugueses emigrados na Alemanha, o ‘chef’ Mário Vieira viveu em 18 países,
antes de se instalar numa das mais vibrantes cidades da China, onde serve
pratos tradicionais portugueses num resort de luxo.
“Os
chineses gostam muito de marisco e de bacalhau”, referiu o lusodescendente,
radicado há 12 anos em Changsha, cidade com cerca de oito milhões de habitantes
e capital da província de Hunan.
“Também
faço feijoada, cozido à portuguesa, trouxas de ovos ou pão-de-ló”, enumera.
Outro prato que “sai bem” é o frango piri-piri: “Às vezes são duas da manhã e
estou na piscina a fazer frango no churrasco”.
Mário
Vieira nasceu na Alemanha há 50 anos, filho de um casal de Alcobaça, distrito
de Leiria. Trabalha na cozinha há três décadas, com passagens por Grécia,
Itália, Rússia, Egito, Tailândia ou Vietname.
Em
2007, uma firma alemã encarregou-o de uma visita de prospeção à China, para
estudar a abertura de um restaurante.
“Fui
do Norte ao Sul da China e quando cheguei a Changsha, com base na informação
que obtive sobre os planos de desenvolvimento da cidade, decidi ficar”,
recorda.
Não
se enganou: Nos últimos dez anos, o PIB (Produto Interno Bruto) de Changsha
cresceu 460%, o ritmo mais alto entre todas as cidades da China, segundo dados
oficiais, refletindo a estratégia de Pequim de descentralizar a riqueza
concentrada no litoral.
Capital
da dinastia Han, há mais de dois mil anos, a cidade conservou poucos traços
desse passado: dezenas de arranha-céus erguem-se hoje nas margens do rio Xiang,
onde, quando Mário chegou, “não existia nada”.
“Aqui,
numa semana, muita coisa muda. Não sei o que se vai passar nos próximos cinco
anos”, descreve o lusodescendente, acrescentando que se identifica com a
dinâmica local.
“Não
há um dia igual”, diz.
A
cidade é também sede da Hunan Broadcasting System, a segunda maior cadeia
televisiva da China, a seguir à estatal CCTV, e produtora de alguns dos mais
populares programas de televisão do país e da Mango TV, plataforma ‘online’
com cerca de 50 milhões de usuários diários e programação original.
Milhares
de jovens chineses acorrem todos os anos a Changsha na esperança de integrarem
a crescente indústria de entretenimento do país, alimentando uma vibrante vida
noturna, com discotecas, bares de ‘karaoke’ e restaurantes cheios até de
madrugada, durante toda a semana.
“O
chinês de Changsha gosta muito de sair”, retrata Mário. “Esta cidade não para,
durante 24 horas”.
Em
2014, Mário casou-se com uma chinesa, com quem, entretanto, teve um filho.
A
ligação à gastronomia vem do pai, que era também ‘chef’ de cozinha e tinha um
hotel e um restaurante na cidade alemã de Dusseldorf.
O
pai queria que estudasse medicina ou que fosse para padre, mas Mário sempre
quis ser chefe, “apesar dos sacrifícios” que a profissão exige.
“Tens
que ter tempo para toda a gente, menos para ti”, aponta. “Os ‘chefs’ são como
os palhaços: têm que fazer rir as pessoas, estejas cansado ou com problemas,
tens que estar sempre pronto”, descreve.
De
Portugal, que já não visita há quatro anos, diz gostar sobretudo da
tranquilidade do norte: “Lisboa é muito interessante, mas eu prefiro o
sossego”.
E
sente saudades da costa, apesar das vastas praias do Oceano Pacífico.
“Não
há cheiro igual ao do oceano Atlântico”, diz. In “Mundo
Português” - Portugal
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