Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Suíça – Portugueses são a população maioritária no município de Täsch

Colada a um dos destinos turísticos mais conhecidos da Suíça, Täsch abriga 62% de estrangeiros e tem maioria portuguesa desde os anos 2000. A força de trabalho vinda de Portugal sustenta o turismo local, mas a integração entre comunidades ainda é limitada.


À primeira vista, poucos lugares são mais tipicamente suíços do que Täsch, com os seus tradicionais chalés de madeira, trilhos para caminhadas e proximidade direta com o Matterhorn, uma montanha tão icónica que há muito tempo adorna as barras de chocolate Toblerone. O pequeno vilarejo do cantão do Valais, situado num vale a mais de 1400 metros de altitude, é conhecida como a principal porta de entrada para Zermatt, um dos principais pontos turísticos do país.

Noutras palavras, em Täsch está a entrar na Suíça dos cartões-postais. E, no entanto, é talvez um dos lugares onde tem menos probabilidade de encontrar falantes nativos de “Wallisertitsch”, o dialeto local.

6 em cada 10 habitantes não são suíços

O município abriga a maior proporção de estrangeiros do país. Das 1366 pessoas que residiam lá durante todo o ano em 2023, 848 não tinham nacionalidade suíça, ou 62%, segundo o Departamento Federal de Estatísticas (BfS, na sigla em alemão). No total, vivem lá quase quarenta nacionalidades.

Num país onde mais de um quarto da população é estrangeira, não é surpreendente que algumas localidades tenham uma alta percentagem de estrangeiros. No entanto, é possível contar nos dedos das mãos os municípios que, como Täsch, abrigam mais estrangeiros do que suíços.

Mas o que torna Täsch verdadeiramente único na Suíça é o facto de uma nacionalidade estrangeira formar a maioria da população. Há vários anos, homens e mulheres portugueses superam em número os suíços (41% e 38% da população da vila, respectivamente).

Mais de 255 mil cidadãos portugueses vivem na Suíça, tornando-os a terceira nacionalidade estrangeira mais representada no país. O cantão de Valais, e em particular o Vale de Zermatt, é um dos seus locais preferidos.

Migrantes mantêm Zermatt em funcionamento

A explicação está justamente no forte poder de atração de Zermatt. O terceiro município mais visitado da Suíça recebe, todos os anos, turistas do mundo inteiro e registou, em 2024, 1,6 milhão de dormidas, distribuídas ao longo do ano.

É preciso muita gente para manter uma máquina turística deste porte a funcionar, e a maioria é de estrangeiros – em grande parte, portugueses. Centenas de trabalhadoras e trabalhadores imigrantes ocupam empregos de baixa remuneração nos setores de hotelaria e restauração (como ilustra este recente projeto fotográfico), manutenção e serviços de todo tipo.

Uma parte importante da população estrangeira vive na própria Zermatt. Mas a falta de moradias acessíveis na estação, somada ao facto de ser um local de difícil acesso (carros são proibidos), leva muitas pessoas que trabalham ali a preferirem morar em vilarejos vizinhos – Täsch, mas também Randa ou Saas-Fee.

A crise económica impulsionou a imigração

A presença da comunidade portuguesa na área de Zermatt remonta à década de 1980. Naquela época, essa força de trabalho, muitas vezes não qualificada, emigrou para encontrar trabalho nas regiões turísticas dos Alpes.

No início dos anos 2000, a entrada em vigor da livre circulação de pessoas incentivou a imigração para a Suíça de cidadãos de toda a União Europeia, permitindo que eles se estabelecessem permanentemente e trouxessem as suas famílias.


Posteriormente, a crise económica da década de 2010, que atingiu severamente vários países do sul da Europa, em particular Portugal, amplificou significativamente o fenómeno. Desde a melhoria da situação económica em Portugal, o crescimento da população portuguesa em Täsch estabilizou-se.

Choque cultural

No auge da crise em 2012, quando a imigração portuguesa estava a aumentar em Täsch, a Swissinfo foi um dos primeiros veículos de comunicação a relatar o choque cultural que isso representava, tanto para a pequeno vilarejo no Alto Valais quanto para os recém-chegados.

Vários meios de comunicação internacionais, incluindo a BBC e o jornal português Público, interessaram-se posteriormente por este enclave português aos pés do Matterhorn, onde se pode encontrar bacalhau e pastéis de nata no supermercado e onde também são celebradas missas em português.

“Os portugueses podem ser muito barulhentos”, brincou o representante da comunidade lusófona à BBC. “Os moradores vão dormir às nove da noite, ou mesmo meia-hora antes, e não gostam muito que façamos barulho antes das dez da noite. É algo a que temos de nos adaptar.”

Um membro da diretoria da Täsch disse à Swissinfo que os contactos eram bons, mas que os principais problemas eram o baixo nível de alemão e a baixa participação da população portuguesa na comunidade. Ele acrescentou, no entanto, que havia observado uma melhoria: “Os portugueses estão a investir aqui, comprando casas ou abrindo pequenos negócios. Eles estão a mostrar que vieram para ficar.”

Convivência pacífica

Noutra reportagem mais recente do canal de televisão SRF (em alemão), vários moradores de Täsch observam que estrangeiros e suíços vivem mais lado a lado do que realmente juntos. “Já não é mais uma única aldeia unida”, lamenta um homem entrevistado, garantindo, no entanto, não ter nenhum problema com a outra metade da população.

A delegada de integração Eva Jenni, por sua vez, fala de uma “convivência pacífica”, em que “cada um deixa o outro em paz”.


A política de integração de Täsch faz com que a localidade seja regularmente apresentada como um laboratório em matéria de imigração e convivência. As autoridades locais já haviam adotado, há vários anos, uma série de medidas para favorecer a aproximação entre as comunidades. Isso inclui, principalmente, um forte foco no ensino de alemão nas escolas, campanhas de informação e a organização de eventos interculturais.

Mas, ressalta Eva Jenni, “não se pode obrigar as pessoas a misturarem-se”. Os portugueses e portuguesas de Täsch “não têm realmente pressão para se integrar”, explica ela. A maioria deles vem não apenas do mesmo país, mas também da mesma região, e possui muitos parentes no local. Os membros da comunidade mantêm laços estreitos e poderiam, sem dificuldade, viver no dia a dia sem sequer precisar falar alemão.

Vilarejo revitalizado

Esses desafios, no entanto, são menos presentes na segunda geração, que na sua maioria domina melhor o idioma e tem mais vínculos com os habitantes locais.

Além disso, Täsch, cuja população nativa diminui ano após ano, também reconhece o quanto deve à imigração. “Se não houvesse mais estrangeiros aqui, teríamos menos mão de obra no setor do turismo. As escolas fechariam e os professores perderiam o sustento. Haveria toda uma série de problemas”, resume um morador entrevistado pela SRF. “Podemos analisar a questão de todos os ângulos, mas no fim das contas precisamos viver juntos.” Pauline Turuban – França in “Swissinfo”






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