Colada a um dos destinos turísticos mais conhecidos da Suíça, Täsch abriga 62% de estrangeiros e tem maioria portuguesa desde os anos 2000. A força de trabalho vinda de Portugal sustenta o turismo local, mas a integração entre comunidades ainda é limitada.
À
primeira vista, poucos lugares são mais tipicamente suíços do que Täsch, com os
seus tradicionais chalés de madeira, trilhos para caminhadas e proximidade
direta com o Matterhorn, uma montanha tão icónica que há muito tempo adorna as
barras de chocolate Toblerone. O pequeno vilarejo do cantão do Valais, situado num
vale a mais de 1400 metros de altitude, é conhecida como a principal porta de
entrada para Zermatt, um dos principais pontos turísticos do país.
Noutras
palavras, em Täsch está a entrar na Suíça dos cartões-postais. E, no entanto, é
talvez um dos lugares onde tem menos probabilidade de encontrar falantes
nativos de “Wallisertitsch”, o dialeto local.
6 em cada 10 habitantes não são suíços
O
município abriga a maior proporção de estrangeiros do país. Das 1366 pessoas
que residiam lá durante todo o ano em 2023, 848 não tinham nacionalidade suíça,
ou 62%, segundo o Departamento Federal de Estatísticas (BfS, na sigla em
alemão). No total, vivem lá quase quarenta nacionalidades.
Num
país onde mais de um quarto da população é estrangeira, não é surpreendente que
algumas localidades tenham uma alta percentagem de estrangeiros. No entanto, é
possível contar nos dedos das mãos os municípios que, como Täsch, abrigam mais
estrangeiros do que suíços.
Mas
o que torna Täsch verdadeiramente único na Suíça é o facto de uma nacionalidade
estrangeira formar a maioria da população. Há vários anos, homens e mulheres
portugueses superam em número os suíços (41% e 38% da população da vila,
respectivamente).
Mais
de 255 mil cidadãos portugueses vivem na Suíça, tornando-os a terceira
nacionalidade estrangeira mais representada no país. O cantão de Valais, e em
particular o Vale de Zermatt, é um dos seus locais preferidos.
Migrantes mantêm Zermatt em funcionamento
A
explicação está justamente no forte poder de atração de Zermatt. O terceiro
município mais visitado da Suíça recebe, todos os anos, turistas do mundo
inteiro e registou, em 2024, 1,6 milhão de dormidas, distribuídas ao longo do
ano.
É
preciso muita gente para manter uma máquina turística deste porte a funcionar,
e a maioria é de estrangeiros – em grande parte, portugueses. Centenas de
trabalhadoras e trabalhadores imigrantes ocupam empregos de baixa remuneração
nos setores de hotelaria e restauração (como ilustra este recente projeto fotográfico),
manutenção e serviços de todo tipo.
Uma
parte importante da população estrangeira vive na própria Zermatt. Mas a falta
de moradias acessíveis na estação, somada ao facto de ser um local de difícil
acesso (carros são proibidos), leva muitas pessoas que trabalham ali a
preferirem morar em vilarejos vizinhos – Täsch, mas também Randa ou Saas-Fee.
A crise económica impulsionou a imigração
A
presença da comunidade portuguesa na área de Zermatt remonta à década de 1980.
Naquela época, essa força de trabalho, muitas vezes não qualificada, emigrou
para encontrar trabalho nas regiões turísticas dos Alpes.
No
início dos anos 2000, a entrada em vigor da livre circulação de pessoas
incentivou a imigração para a Suíça de cidadãos de toda a União Europeia,
permitindo que eles se estabelecessem permanentemente e trouxessem as suas
famílias.
Posteriormente,
a crise económica da década de 2010, que atingiu severamente vários países do
sul da Europa, em particular Portugal, amplificou significativamente o fenómeno.
Desde a melhoria da situação económica em Portugal, o crescimento da população
portuguesa em Täsch estabilizou-se.
Choque cultural
No
auge da crise em 2012, quando a imigração portuguesa estava a aumentar em
Täsch, a Swissinfo foi um dos primeiros veículos de comunicação a
relatar o choque cultural que isso representava, tanto para a pequeno vilarejo
no Alto Valais quanto para os recém-chegados.
Vários
meios de comunicação internacionais, incluindo a BBC e o jornal
português Público, interessaram-se posteriormente por este enclave
português aos pés do Matterhorn, onde se pode encontrar bacalhau e pastéis de
nata no supermercado e onde também são celebradas missas em português.
“Os
portugueses podem ser muito barulhentos”, brincou o representante da comunidade
lusófona à BBC. “Os moradores vão dormir às nove da noite, ou mesmo meia-hora
antes, e não gostam muito que façamos barulho antes das dez da noite. É algo a
que temos de nos adaptar.”
Um
membro da diretoria da Täsch disse à Swissinfo que os contactos eram
bons, mas que os principais problemas eram o baixo nível de alemão e a baixa
participação da população portuguesa na comunidade. Ele acrescentou, no
entanto, que havia observado uma melhoria: “Os portugueses estão a investir
aqui, comprando casas ou abrindo pequenos negócios. Eles estão a mostrar que
vieram para ficar.”
Convivência pacífica
Noutra
reportagem mais recente do canal de televisão SRF (em alemão), vários moradores
de Täsch observam que estrangeiros e suíços vivem mais lado a lado do que
realmente juntos. “Já não é mais uma única aldeia unida”, lamenta um homem
entrevistado, garantindo, no entanto, não ter nenhum problema com a outra
metade da população.
A
delegada de integração Eva Jenni, por sua vez, fala de uma “convivência
pacífica”, em que “cada um deixa o outro em paz”.
A
política de integração de Täsch faz com que a localidade seja regularmente
apresentada como um laboratório em matéria de imigração e convivência. As
autoridades locais já haviam adotado, há vários anos, uma série de medidas para
favorecer a aproximação entre as comunidades. Isso inclui, principalmente, um
forte foco no ensino de alemão nas escolas, campanhas de informação e a
organização de eventos interculturais.
Mas,
ressalta Eva Jenni, “não se pode obrigar as pessoas a misturarem-se”. Os
portugueses e portuguesas de Täsch “não têm realmente pressão para se
integrar”, explica ela. A maioria deles vem não apenas do mesmo país, mas
também da mesma região, e possui muitos parentes no local. Os membros da
comunidade mantêm laços estreitos e poderiam, sem dificuldade, viver no dia a
dia sem sequer precisar falar alemão.
Vilarejo revitalizado
Esses
desafios, no entanto, são menos presentes na segunda geração, que na sua
maioria domina melhor o idioma e tem mais vínculos com os habitantes locais.
Além
disso, Täsch, cuja população nativa diminui ano após ano, também reconhece o
quanto deve à imigração. “Se não houvesse mais estrangeiros aqui, teríamos
menos mão de obra no setor do turismo. As escolas fechariam e os professores
perderiam o sustento. Haveria toda uma série de problemas”, resume um morador
entrevistado pela SRF. “Podemos analisar a questão de todos os ângulos, mas no
fim das contas precisamos viver juntos.” Pauline Turuban – França in “Swissinfo”
Sem comentários:
Enviar um comentário