O
uso das redes sociais não se restringe aos comentários políticos, entre os
quais uma grande parte são interpretações falsas com objetivo partidário.
Numerosos canais se dedicam ao setor da saúde, podendo ser simples conselhos
sem grande importância ou indicação de chás calmantes ou para bem dormir.
Entretanto,
o surgimento da inteligência artificial vem facilitando a criação de canais
destinados à saúde, onde vozes artificiais e figuras de branco com medidores de
pressão no pescoço fazem as vezes de médicos inexistentes. No Youtube, o
objetivo seria o de obter milhares de inscritos com acesso à monetização ou a
uma discreta indicação de produtos à venda.
Isso
já tem sido denunciado pela imprensa, porém desta vez é um médico cardiologista
de Brasília, André
Wambier, quem deu o alerta, valendo-se de sua notoriedade
com seus 5,5 milhões de inscritos no seu canal. "Eu cansei de ver canais
sem qualquer credibilidade espalhando absurdos sobre saúde e colocando sua
saúde em risco".
Esse abuso não ocorre apenas nos canais das
redes sociais brasileiras, a Agência portuguesa Lusa alerta pelo Sic Notícias quanto à existência no
TikTok de profissionais de saúde gerados por Inteligência Artificial promovendo
desinformação médica. Os médicos de blusa branca são deepfakes
manipulados na imagem e na voz para difundir falsas informações.
Assim,
existe praticamente uma campanha ou um grupo especializado na criação e
manutenção desses deepfakes com o objetivo de
vender suplementos ou produtos médicos, como sendo recomendações legítimas.
Para tanto utilizam a figura falsa de um médico, apresentado como bastante
experiente. Um bom antivírus deteta rapidamente a tentativa de golpe ou de
falsa publicidade. Para um observador atento, a imitação de médico mostra
expressões faciais pouco naturais e a voz embora imite a de um bom locutor soa
como artificial ou robótica.
No
Brasil, alguns desses canais de aconselhamento médico só têm a voz robótica,
que se atrapalha ao chegar nas vírgulas dos textos que recita, enquanto na tela
aparecem paisagens naturais, florestas, praias ou montanhas com fundo musical.
Nada a ver com saúde, pura enganação.
No
seu alerta, o cardiologista André Wambier mostra, no seu Youtube, o canal da Dra. Laura Vasconcelos, no
Instagram, no qual não consta um documento essencial ao exercício da medicina,
o registro CRM, do Conselho Regional de Medicina.
Entretanto,
o youtube mais importante indicado é o da dra. Juliana, sem sobrenome e sem
registro CRM. Sua voz soa falsa como a do GPS no carro e em quase todos os
vídeos aparece o título "Eu suplico ou eu imploro" em letras
maiúsculas.
A robot Juliana, avatar digital, tem sempre a mesma posição na tela e suas mãos repetem sempre o mesmo movimento. "Esses canais colocam no ar diversos vídeos por dia, são verdadeiras fábricas de mentira!", diz o cardiologista André Wambier, CRM 17276 DF. Para ele, esses canais usam o medo e a curiosidade mórbida para atrair as pessoas a uma teia de mentiras e desinformação. "Esses canais são uma mistureba indigesta de informações superficiais e rasas". Rui Martins – Suíça
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Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador
do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas,
que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos
emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da
Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto
Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça,
correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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