Dispositivo médico desenvolvido por uma equipa multidisciplinar do i3S e da Faculdade de Engenharia já está protegido em 20 territórios
Falamos
de um sistema de esterilização reutilizável que permite eliminar os
microrganismos que infetam, por exemplo, cateteres de diálise e, assim,
dispensa o uso de antibióticos e outros químicos antisséticos que podem
danificar o corpo humano. Foi pensado e criado por uma equipa multidisciplinar
de investigadores da Universidade do Porto e já tem patente concedida em
Portugal, em mais de uma dezena de outros países europeus e, agora, no Chile.
“A
concessão de patente que protege esta invenção no Chile representa uma
validação formal da novidade, originalidade e caráter disruptivo da nossa
tecnologia”, refere Patrícia Henriques, investigadora do Instituto de
Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto (i3S) e uma das inventoras do
dispositivo.
“Ao
ser reconhecida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INAPI) no
Chile, a invenção ganha um selo oficial de inovação, o que fortalece
significativamente a sua credibilidade”, acrescenta.
Esta
é a primeira tecnologia “made in U.Porto” a alcançar uma concessão de patente
neste país sul-americano. A invenção já foi protegida na Europa, via patente
unitária, e a equipa aguarda agora notícias dos institutos de propriedade
industrial do Brasil, Canadá, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Índia e
México, acreditando “estar no bom caminho para a concessão na Arábia Saudita”,
outro país que seria um estreante para as patentes da U.Porto.
A
tecnologia foi desenvolvida durante a tese de doutoramento de Patrícia
Henriques, sob orientação de Inês Gonçalves, também investigadora do i3S/INEB.
Da equipa de inventores fazem também parte Fernão Magalhães e Artur Pinto,
investigadores do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente,
Biotecnologia e Energia (LEPABE) da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP).
O
caráter inovador do dispositivo levou à criação de uma empresa – a GOTECH
Antimicrobial – que, em janeiro deste ano, licenciou a invenção.
Um novo passo “para a melhoria dos cuidados de saúde”
“O
Chile tem importância estratégica para a GOTECH
Antimicrobial devido ao crescente uso de cateteres em
pacientes de hemodiálise e ao risco associado de infeções da corrente sanguínea
(CRBSIs)”, explica Patrícia Henriques.
A
equipa vê aquele país como um mercado em expansão e com uma taxa significativa
de complicações associadas aos cateteres, o que significa que “há uma clara
necessidade de soluções antimicrobianas eficazes”, acrescentam.
Esta
concessão representa um passo importante na estratégia de proteção regional da
GOTECH, que será complementada com a concessão de patente no México e no
Brasil, “reforçando assim a cobertura em três dos mercados mais relevantes da
região”.
Para
a equipa, esta proteção permitirá “garantir exclusividade comercial, fortalecer
parcerias locais e aumentar a atratividade do ativo para investidores e stakeholders
latino-americanos”, dizem. O objetivo é, então, “poder contribuir para a
melhoria dos cuidados de saúde e abrir portas para a expansão na América
Latina”, onde já identificaram oportunidades significativas.
Do laboratório para o mundo
A
tecnologia agora patenteada no Chile destaca-se pelo seu elevado potencial
clínico e comercial, aplicável não só em dispositivos de desinfeção de
cateteres, mas em outros dispositivos médicos. Já foi validada em ambiente
laboratorial, tendo demonstrado “segurança e eficácia contra microrganismos
clinicamente relevantes, incluindo multirresistentes e fungos”, explicam os
cientistas.
Os
próximos passos envolvem terminar e otimizar o protótipo e passar para a
produção em escala piloto com empresas certificadas. Têm também em vista a
realização de um estudo clínico piloto entre 2025 e 2026, com um dos grandes
prestadores de serviços de diálise à escala global. Acreditam que um estudo em
pacientes “fornecerá evidências clínicas essenciais para apoiar a
miniaturização, validação técnica e posterior condução de um estudo clínico
multicêntrico em vários países do mundo.”
Neste
momento, e em colaboração com o INESC TEC, a equipa está a aplicar a tecnologia
no desenvolvimento da GOcap® – uma tampa reutilizável para desinfeção de
cateteres de hemodiálise.
“A
GOcap®, um dispositivo médico de classe IIa, já foi validada em condições
clinicamente relevantes, nomeadamente em cateteres de hemodiálise
comercialmente disponíveis e utilizando isolados clínicos obtidos de cateteres
de hemodiálise infetados.”, concluem. Universidade do Porto - Portugal
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