Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Moçambique - Apoio chinês foi “crucial” para a Frelimo durante e após guerra de independência, diz investigador

O investigador Pedro Seabra considerou que a China teve um “papel crucial” no apoio militar e ideológico à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), durante e após a luta contra a administração portuguesa



“A influência chinesa, através do maoismo, acabou por ajudar a desbloquear alguns dos debates internos e por prevalecer sobre outras opções”, explicou Seabra, vice-diretor do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE).

Em causa estava a necessidade de incorporar “objetivos, agendas” e soluções governativas para o pós-independência, adaptadas às especificidades da luta armada em Moçambique, num contexto de competição ideológica entre a China e a União Soviética, cujos modelos de organização política e militar eram distintos.

A ideologia de Mao Zedong, fundador da China comunista, promovia a mobilização das massas rurais, a guerra de guerrilha e a autossuficiência – princípios que a Frelimo viria a adotar na luta pela independência, apontou Seabra. “Estamos a falar de uma luta armada com uma componente muito semelhante, ou muito próxima, daquilo que também foi a própria revolução chinesa”, descreveu. “O apoio de camponeses, a utilização de táticas de guerrilha, a construção de exércitos populares. Tudo isso fazia, desde logo, mais sentido do ponto de vista do maoismo do que do bolchevismo”, de caráter predominantemente urbano, acrescentou o investigador.

A mobilização dos camponeses para a luta armada culminou com a vitória na guerra civil contra as forças nacionalistas de Chiang Kai-shek e a fundação da República Popular da China, em 1949.

A luta pela independência de Moçambique começaria 15 anos mais tarde, com o primeiro ataque da Frelimo contra um posto administrativo colonial português em Chai, na província de Cabo Delgado, no norte do país.

Dois anos depois, Mao lançaria a Revolução Cultural, uma campanha política de massas para “aprofundar a luta de classes sob a ditadura proletária”, que durante uma década mergulhou a China no caos e no isolamento.

Ainda assim, o país asiático acolheu dezenas de combatentes da Frelimo em campos de treino militar, onde receberam formação em táticas de guerrilha rural, sabotagem, manuseamento de explosivos e doutrina político-militar maoista. Também figuras influentes da Frelimo foram recebidas por Pequim, incluindo Samora Machel.

O líder da guerra da independência de Moçambique e primeiro Presidente do país, de 1975 até à sua morte, em 1986, visitou a China quatro vezes — duas das quais antes da independência, em 1971 e em fevereiro de 1975.

A China tornar-se-ia um dos primeiros países a estabelecer relações diplomáticas com Moçambique, logo no próprio dia da independência, 25 de junho de 1975.

As relações continuam próximas: Moçambique é hoje um dos poucos países a manter com a China um Acordo de Parceria e Cooperação Estratégica Global — um dos níveis mais elevados da diplomacia chinesa — que reforça não só o diálogo político, mas também a “cooperação ativa” em áreas como “segurança, energia, infraestruturas, defesa e tecnologia”.

Além do país africano, apenas Rússia, Paquistão, Camboja, Laos, Myanmar, Tailândia e Vietname — todos países vizinhos ou na órbita da China — celebraram o mesmo tipo de acordo com Pequim.

Em Maputo, a ligação ao passado revolucionário chinês ficou também marcada na toponímia: a Avenida Massano de Amorim, situada num dos bairros nobres da cidade, passou a chamar-se Avenida Mao Tsé-Tung. In “Ponto Final” - Macau


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