O investigador Pedro Seabra considerou que a China teve um “papel crucial” no apoio militar e ideológico à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), durante e após a luta contra a administração portuguesa
“A
influência chinesa, através do maoismo, acabou por ajudar a desbloquear alguns
dos debates internos e por prevalecer sobre outras opções”, explicou Seabra,
vice-diretor do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de
Lisboa (ISCTE).
Em
causa estava a necessidade de incorporar “objetivos, agendas” e soluções
governativas para o pós-independência, adaptadas às especificidades da luta
armada em Moçambique, num contexto de competição ideológica entre a China e a
União Soviética, cujos modelos de organização política e militar eram
distintos.
A
ideologia de Mao Zedong, fundador da China comunista, promovia a mobilização
das massas rurais, a guerra de guerrilha e a autossuficiência – princípios que
a Frelimo viria a adotar na luta pela independência, apontou Seabra. “Estamos a
falar de uma luta armada com uma componente muito semelhante, ou muito próxima,
daquilo que também foi a própria revolução chinesa”, descreveu. “O apoio de
camponeses, a utilização de táticas de guerrilha, a construção de exércitos
populares. Tudo isso fazia, desde logo, mais sentido do ponto de vista do
maoismo do que do bolchevismo”, de caráter predominantemente urbano,
acrescentou o investigador.
A
mobilização dos camponeses para a luta armada culminou com a vitória na guerra
civil contra as forças nacionalistas de Chiang Kai-shek e a fundação da
República Popular da China, em 1949.
A
luta pela independência de Moçambique começaria 15 anos mais tarde, com o
primeiro ataque da Frelimo contra um posto administrativo colonial português em
Chai, na província de Cabo Delgado, no norte do país.
Dois
anos depois, Mao lançaria a Revolução Cultural, uma campanha política de massas
para “aprofundar a luta de classes sob a ditadura proletária”, que durante uma
década mergulhou a China no caos e no isolamento.
Ainda
assim, o país asiático acolheu dezenas de combatentes da Frelimo em campos de
treino militar, onde receberam formação em táticas de guerrilha rural,
sabotagem, manuseamento de explosivos e doutrina político-militar maoista.
Também figuras influentes da Frelimo foram recebidas por Pequim, incluindo
Samora Machel.
O
líder da guerra da independência de Moçambique e primeiro Presidente do país,
de 1975 até à sua morte, em 1986, visitou a China quatro vezes — duas das quais
antes da independência, em 1971 e em fevereiro de 1975.
A
China tornar-se-ia um dos primeiros países a estabelecer relações diplomáticas
com Moçambique, logo no próprio dia da independência, 25 de junho de 1975.
As
relações continuam próximas: Moçambique é hoje um dos poucos países a manter
com a China um Acordo de Parceria e Cooperação Estratégica Global — um dos
níveis mais elevados da diplomacia chinesa — que reforça não só o diálogo
político, mas também a “cooperação ativa” em áreas como “segurança, energia,
infraestruturas, defesa e tecnologia”.
Além
do país africano, apenas Rússia, Paquistão, Camboja, Laos, Myanmar, Tailândia e
Vietname — todos países vizinhos ou na órbita da China — celebraram o mesmo
tipo de acordo com Pequim.
Em
Maputo, a ligação ao passado revolucionário chinês ficou também marcada na
toponímia: a Avenida Massano de Amorim, situada num dos bairros nobres da
cidade, passou a chamar-se Avenida Mao Tsé-Tung. In “Ponto
Final” - Macau
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