Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 13 de junho de 2025

China - Empresária leva vinhos portugueses ao paladar asiático

A empresária Lily Jia dedica-se há mais de dez anos à promoção exclusiva de vinhos portugueses na China, depois de fundar uma empresa com o marido que conheceu também no mundo dos vinhos. Ao Ponto Final, Lily Jia afirma que os vinhos portugueses estão a ganhar reconhecimento no mercado chinês devido à sua elevada qualidade e preço acessível. A empresa do casal foca-se na importação de vinhos de várias regiões portuguesas e, agora, de mais produtos fabricados em Portugal. Com sede também em Macau, aposta na expansão do negócio e no fortalecimento das relações comerciais e culturais entre a China e Portugal



Há mais de uma década que Lily Jia se dedica ao negócio e promoção de vinhos, exclusivamente portugueses, na China. A empresária revelou que começou com o marido a trabalhar na importação de vinhos portugueses em 2009, manifestando a paixão pelos produtos portugueses bem como uma amizade de longo prazo com os parceiros em Portugal.

Lily Jia, em entrevista ao Ponto Final, recordou a história do seu encontro com os vinhos portugueses e da criação posterior da sua empresa, a Zhuhai Gaobo, que é actualmente agente de vinhos portugueses de sete regiões de Portugal – Lisboa, Tejo, Alentejo, Bairrada, Dão, Douro e a região de Vinho Verde – na China e explora a respectiva venda em diversas províncias chinesas.

A empresária oriunda de Shenyang, da província de Liaoning, foi professora de inglês e iniciou a sua carreira relacionada a Portugal em 2007, como tradutora para uma vinícola portuguesa chamada Caves Arcos do Rei, em Anadia. A vinícola abriu uma empresa em Yantai, Shandong, onde Lily Jia concluiu a sua licenciatura. Numa viagem de trabalho a Zhuhai em 2008, Lily Jia conheceu o seu marido, Chen Hehua, que tinha acabado de voltar da Nova Zelândia, e abriu a sua própria empresa em Zhuhai. Apaixonaram-se e decidiram casar, e começaram depois a exploração do negócio dos vinhos portugueses.

“Portugal tem muitos bons produtos”, afirmou Lily Jia. “Muitas pessoas perguntaram-me por que amamos tanto Portugal e só fazemos negócio com Portugal, e eu digo que é porque conheci o marido graças a Portugal, e os fornecedores e clientes com quem lidamos não eram apenas parceiros de negócios, mas sim como amigos e familiares”, destacou.

“Acolhedores” e “simpáticos” foram algumas das palavras que a empresária usou para descrever os portugueses e a razão pela qual insiste na exclusividade de negócio dos produtos portugueses por parte da sua empresa. “Com o tempo, descobrimos que os chineses e os portugueses têm muito em comum. Somos muito gentis e respeitamos as pessoas”, salientou.

Lily Jia frisou ainda ter mantido uma relação estreita e amigável com as autoridades da economia e do turismo do Governo português, bem como os consulados de Portugal e muitas associações comerciais de Macau e de Portugal, o que a deixa mais entusiasmada em continuar o negócio.

De acordo com a responsável, os principais fornecedores actuais da empresa são Parras de Lisboa, HMR do Alentejo, Quinta Monteiro de Matos do Tejo, Arcos do Rei do Dão, Reccua e Sogrape do Douro. As principais marcas são Vasco da Gama, Quinta do Gradil, Pousio, Terras de Paul, Reccua, Casa Ferreirinha. Segundo Lily, a empresária e o marido foram, em 2016, agraciados pelo governo português com o título honorário de Embaixador da Promoção do Vinho do Porto na China.

A equipa de Lily Jia costuma organizar excursões vinícolas, todos os anos desde 2010, em Portugal, trazendo os representantes dos distribuidores para visitar o país de Norte a Sul. Vão em breve viajar para Portugal no início do próximo mês, tendo também convidado um canal de televisão, cooperando ainda com uma ‘influencer’ para fazer uma transmissão em directo nas vinícolas para vender vinhos online.

Mercado de vinhos de Portugal na China

Lily Jia entende que os vinhos portugueses “estão em ascensão e são constantemente reconhecidos” no mercado chinês pela sua qualidade e pelo preço.

“São reconhecidos pelos chineses na indústria vinícola, depois de mais de dez anos a serem promovidos aqui, seja por empresas como nós, seja pela ViniPortugal”, assinalou. A representante avançou que as vendas da sua empresa, bem como o volume de negócio dos vinhos portugueses na China, têm vindo a aumentar.

Apesar da qualidade e do preço acessível, os vinhos portugueses não são tão fortes no mercado chinês comparando com outros países europeus, segundo a empresária. “Isso deve-se ao facto de a promoção deles [Portugal] ser mais fraca em relação à França, à Itália ou à Espanha”, apontou.

A equipa da empresa tinha algumas dúvidas sobre as razões da falta de trabalho promocional dos vinhos portugueses até se ter apercebido que existem poucas pessoas responsáveis pela promoção global dos produtos.

Para além disso, Lily Jia disse que a maioria das pessoas na indústria em Portugal foca-se em monitorizar as vinhas e a qualidade das uvas. “Portugal tem um sistema de vinificação de uvas muito rigoroso”, explicou. “De facto, o vinho português tem sido muito popular na Europa e na América. De acordo com os dados oficiais fornecidos por Portugal, o maior importador de vinho português é a França, o Reino Unido, o Brasil, a Alemanha, a Suíça e o Japão”, enfatizou.

Lily Jia ressaltou que o vinho tinto continua a ser o mais vendido entre os vinhos portugueses na China, contudo, a empresa tenta também fomentar a venda do vinho verde, um tipo de vinho que não existe na China. “O vinho verde também está cada vez mais popular porque é muito refrescante e agradável para beber no Verão, na praia com a brisa”, disse.

Por outro lado, apesar das actividades comerciais da sua empresa se focarem na importação de vinhos portugueses, a empresária trabalha ao mesmo tempo para a exportação de vinhos chineses ao exterior, incluindo o vinho branco de Yantai, em Shandong, e o vinho de lichia e o vinho de ameixa de Cantão para Portugal e para a Polónia.

“O volume não é grande, mas o vinho chinês também se desenvolveu muito bem nos últimos anos”, sublinhou Jia, acrescentando que organiza anualmente entre 30 e 50 sessões comerciais para criar oportunidades de negócios entre portugueses e chineses”. “Continuaremos a trabalhar arduamente para construir uma ponte para ajudar a China e Portugal no comércio e em outras áreas”, assumiu.

Oportunidades em Macau

Em 2019, Lily Jia estabeleceu também uma empresa em Macau para facilitar a promoção dos produtos portugueses na China Continental. “Macau é uma ponte de comunicação e intercâmbio entre a China e os países portugueses, e o Governo de Macau incentiva muito a promoção dos produtos portugueses”, explicou a responsável, razão pela qual decidiu estabelecer uma sede no território.

A empresária destacou que as autoridades de Macau, sobretudo o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), “organizam sempre grandes feiras e exposições para as empresas, mas também realizam formação para as pequenas e médias empresas”, ajudando o desenvolvimento do comércio electrónico das empresas, o que lhes dá “mais confiança para se dedicarem no comércio dos produtos portugueses”.

Lily Jia recordou ter encontrado, em Macau, mais um produto alcoólico português que pode ser adicionado na gama de produtos vendidos pela sua empresa. A empresária disse que foi na Feira Internacional de Macau (MIF) do ano passado que descobriu o Licor 35, Creme de Pastel de Nata. “Soubemos que o produto é muito bem vendido em Macau e muitas pessoas no interior da China interessaram-se por este licor, nomeadamente a geração mais jovem, por isso decidimos ser o agente [do licor] no mercado da China Continental”, realçou.

No entanto, salientou que o processo de importação do licor ainda está a demorar devido aos respectivos procedimentos administrativos. “Existem muitas diferenças nos procedimentos de importação entre Macau e o Continente, incluindo os impostos e as etiquetas de importação alfandegárias. Cada local tem padrões diferentes para as etiquetas dos alimentos”, frisou.

A responsável disse ter obtido recentemente a aprovação nos processos de importação e espera que o licor, sendo “um presente de recordação português muito característico” ou licor utilizado em cocktails, chegue e possa ser vendido em breve ao mercado da China Continental.

Diversificar o negócio

Com a experiência de trabalhar na área de vinhos e bebidas alcoólicas de Portugal durante vários anos, Lily Jia decidiu expandir o âmbito de negócio para a venda de mais produtos portugueses, para tornar o seu negócio mais competitivo e apoiar ainda mais a produção original de Portugal.

A empresa, neste momento, está também a esforçar-se para promover móveis, sobretudo móveis personalizados, que alguns clientes encomendaram de Portugal para transportá-los directamente para o interior da China, bem como produtos de cortiça, artesanato em cortiça, azeitonas, azeite, sal e água, tudo de Portugal. “Estamos ainda a cooperar com algumas grandes marcas portuguesas para promover produtos no mercado do sul da China, nomeadamente a Delta Cafés, a marca de cerveja Super Bock e o azeite Gallo”, indicou.

Para além das actividades comerciais de artigos portugueses, Lily Jia está a planear cooperar com algumas agências de viagens na promoção do turismo em Portugal, aproveitando o facto de já ter organizado nos últimos anos várias viagens em grupo, levando empresários e representantes de associações comerciais chinesas a Portugal para passeios em vinícolas.

“Visitamos Portugal várias vezes todos os anos. Há cada vez mais amigos e clientes que estão interessados ​​em Portugal através da nossa apresentação. Será difícil ajudarmos a preparar viagens para tantas pessoas, portanto, se calhar vamos cooperar com agências de viagens para lançar passeios de enoturismo ou outros projectos”, salientou. Revelou ainda que está previsto ter a primeira viagem em grupo, em cooperação com agências de viagens, em Setembro deste ano.

Lily Jia fundou ainda, há sete anos, a empresa cultural Gaobo, com objectivo de permitir a mais pessoas conhecerem o vinho e a sua cultura, especialmente do vinho português, tendo cooperado com instituições profissionais de vinhos para abrir cursos de certificação WSET, SMWA whisky, vinho português e outros. Catarina Chan – Macau in “Ponto Final”


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