Uma
equipa de cientistas internacionais acompanhou mais de 12 mil indivíduos de 110
espécies de megafauna marinha, durante 30 anos, identificando os locais mais
críticos nos oceanos globais para reforçar os esforços de conservação marinha.
A investigação, na qual participa a Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra (FCTUC), faz parte do projeto “MegaMove”, liderado pela
Universidade Nacional da Austrália (ANU) e financiado pela Organização das
Nações Unidas (ONU).
Este
estudo envolve cerca de 400 cientistas de mais de 50 países e mostra onde pode
ser implementada proteção específica para a conservação da megafauna marinha.
André Afonso, Filipe Ceia, Jaime Ramos, José Xavier e Vítor Paiva,
investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e Centro de
Ecologia Funcional (CFE) da FCTUC, são cinco dos coautores desta investigação,
publicada na revista Science.
Atualmente,
as áreas marinhas protegidas cobrem apenas 8% dos oceanos do mundo, sendo que o
Tratado das Nações Unidas para as Águas Internacionais visa aumentar essa
proteção para 30%.
A
investigação concluiu que os objetivos do atual Tratado – assinado por 115
países, mas ainda por ratificar – representam um passo na direção certa e serão
fundamentais para apoiar a conservação. No entanto, estes objetivos são
insuficientes para cobrir todas as zonas críticas utilizadas por espécies
ameaçadas da megafauna marinha, sugerindo que são necessárias medidas
adicionais para mitigar as ameaças.
A
megafauna marinha inclui aves marinhas, tubarões ou baleias, que são
normalmente predadores de topo com papéis essenciais nas cadeias alimentares
marinhas, mas enfrentam ameaças crescentes resultantes do impacto ambiental
humano. Segundo os autores, este estudo teve como objetivo identificar as áreas
utilizadas pela megafauna marinha para comportamentos importantes como
alimentação, descanso e migrações – áreas que só podem ser detetadas com base
nos seus padrões de movimento rastreados.
«O
mesmo ocorre com inúmeras espécies de tubarões, que percorrem milhares de
quilómetros ao longo da sua vida e atravessam múltiplas áreas marinhas com
regimes jurídicos distintos, dificultando a sua conservação devido à
heterogeneidade das políticas de gestão e proteção desses recursos», declara
André Afonso, investigador CFE.
«O
objetivo de proteger 30% dos oceanos é visto como útil, mas insuficiente para
salvaguardar todas as áreas importantes, o que significa que são necessárias
estratégias adicionais de mitigação para aliviar pressões fora das zonas
protegidas», consideram os especialistas. A investigação está também ligada aos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, nomeadamente o
Objetivo 14 sobre a vida marinha, e especificamente ao Objetivo A da Estrutura
Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal, que visa travar a extinção
provocada pelo ser humano de espécies ameaçadas.
«O
MegaMove reúne uma rede internacional de investigadores para fornecer
investigação inovadora que promova a conservação global da megafauna marinha e
seus habitats. A nossa investigação mostra que, para além das áreas protegidas,
a implementação de estratégias de mitigação, como a alteração de artes de
pesca, a utilização de diferentes luzes nas redes e esquemas de tráfego para
navios, será fundamental para aliviar a pressão humana atual sobre estas
espécies», afirmam.
De
acordo com os investigadores, foram identificadas 30% das principais zonas para
a proteger, classificando-as com base na sua utilização pelas espécies de
megafauna marinha. «A nossa análise identifica quais as zonas do oceano global
que estas espécies utilizam como áreas de residência ou corredores migratórios.
Demos prioridade às zonas utilizadas para estes comportamentos importantes por
um maior número de espécies», declaram.
«No
entanto, em última análise, mesmo que os 30% de proteção fossem implementados
nas zonas-chave utilizadas pela megafauna marinha, não seriam suficientes para
as conservar», concluem. Universidade de Coimbra - Portugal
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