São cada vez mais os angolanos que vivem em Portugal, "desembarcam" dezenas todos os dias, penso mesmo que este fenómeno é maior do que aquele que se viveu nos anos oitenta e noventa por causa da guerra, e chegam com histórias muito diversas e com motivações muito diferentes
Esta
semana na Feira do Livro de Lisboa tive a oportunidade de confirmar como a
comunidade angolana naquele País olha para o Expansão e para o Novo
Jornal com um enorme carinho, respeito, orgulho e, fundamentalmente, como
um raio de jornalismo independente e de verdade. A forma como nos abordam, a
força que nos dão, apesar de estarem fora porque não conseguiram o seu espaço
no País, pressionando-nos a não desistir, deixou-me impressionado.
São
cada vez mais os angolanos que vivem em Portugal, "desembarcam"
dezenas todos os dias, penso mesmo que este fenómeno é maior do que aquele que
se viveu nos anos oitenta e noventa por causa da guerra, e chegam com histórias
muito diversas e com motivações muito diferentes. Os da classe alta, familiares
e conhecidos dos dirigentes partidários, dos governantes, dos altos quadros das
instituições públicas, estão aqui porque têm dinheiro. Vivem orgulhosamente
rodeados de conforto em Lisboa, no Porto ou em Cascais, e não pensam em voltar.
Dizem-se patriotas, filhos da pátria, mas optam por desfrutar das benesses que
Angola deu a meia dúzia dos seus filhos, longe, à distância de sete horas de
avião, que utilizam no máximo, duas vezes por ano. Depois os da classe média,
muitos deles técnicos superiores e profissionais respeitados nas suas áreas.
Vieram porque querem uma melhor educação para os seus filhos, porque querem um
acesso mais facilitado à saúde, porque querem uma vida mais tranquila e mais
digna. Muitos deles fizeram-se à estrada porque estão desiludidos com o País,
com a forma como são tratados nos empregos - a maior parte eram funcionários
públicos - fartos de verem os colegas incompetentes, incapazes, a subirem na
hierarquia das organizações à boleia do cartão do partido ou da protecção de um
"iluminado".
Existem
também os que aqui estão porque acabaram por ser perseguidos nos empregos e na
sociedade por algumas opiniões que deram, e tiveram de sair porque a pressão se
tornou insuportável. Há outros, menos, claro, que aqui estão e não podem voltar
tão cedo. Puseram a "mão na massa" e fugiram. Alguns não têm
processos judiciais a correr em Angola, mas não arriscam voltar. Têm o
suficiente para ter uma vida digna, estão empenhados em conseguir a
nacionalidade portuguesa, e alguns já vivem do rendimento mínimo.
Deixo
para o fim os com menos posses. Os que juntaram durante anos o dinheiro
necessário para o passaporte, o visto e a viagem. São milhares, digo-vos eu.
Muitos deles sem condições, mas também já era assim que viviam em Luanda,
dispostos a fazer qualquer coisa para garantirem a sua subsistência, com o
apoio de um familiar que já cá está há mais tempo.
São
histórias que mexem com a nossa estrutura, cidadãos que não têm formação,
explorados nos empregos agrícolas, de construção ou de hotelaria, entregues a
si próprios porque, como nos contam, ninguém quer saber deles. Em todos estes
extractos há uma característica comum: não querem voltar a Angola. Estão
zangados ou fartos. E parece que o regime não está preocupado com isso. Tenho
muito pena que assim seja. João Armando – Angola in “Expansão”
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