A produção de cacau do Gana, o segundo maior produtor mundial, caiu de um máximo histórico de mais de 1 milhão de toneladas na época agrícola de 2020/2021, para uma produção até 580 mil toneladas na actual campanha
As
receitas das exportações de cacau do Gana caíram 49%, para 599,3 milhões USD,
nos primeiros quatro meses do ano, comparativamente ao período homólogo de
2023, revelam os dados do Banco do Gana, que mostram uma queda sem precedentes
na produção de cacau, na época agrícola 2023/2024.
O
tombo nas receitas de exportação do segundo maior produtor de cacau, a seguir à
Costa do Marfim, o principal produtor mundial, ocorre num contexto de preços em
alta desta matéria-prima. No espaço de um ano, que vai de 22 de Maio de 2023 a
28 de Maio de 2024, o preço subiu 148%, segundo dados da plataforma Trading
Economics, passando de 3287,9 USD a tonelada para 8151,5 USD, embora o pico na
valorização do cacau se tenha registado a 19 de Abril, quando a tonelada
atingiu os 12606,1 USD.
O
aumento dos preços do cacau no mercado internacional é resultado de um declínio
na produção dos dois principais produtores, como confirmam os dados da produção
do Gana e da Costa do Marfim. Nos restantes seis principais produtores -
Equador, Camarões, Nigéria, Indonésia, Brasil e Papua Nova Guiné - a produção
manteve-se estável, de acordo com os dados da Statista, que poderão ser
revistos em baixa na época agrícola 2023/2024, após os deslizamentos de terras
na Papua Nova Guiné, que esta semana soterraram mais de 2000 pessoas.
A
produção do Gana, segundo o jornal The Accra Times, caiu de um máximo histórico
de mais de 1 milhão de toneladas na época agrícola de 2020/2021, para uma
produção estimada entre 492000 toneladas e 580000 toneladas na temporada
2023/2024. A queda significativa na produção de cacau e nas receitas de
exportação é uma das razões para a desvalorização da moeda nacional, o cedi, em
14,6% no mercado interbancário e mais de 19% no mercado retalhista desde o início
do ano, refere ainda o jornal.
Ameaça
do contrabando e mineração ilegal
Numa
declaração datada de 12 de Janeiro de 2024, o Conselho do Cacau do Gana invoca
o "desenfreado e inabalável contrabando de cacau para os vizinhos Costa do
Marfim e Togo", como a principal razão para o declínio na produção. Aponta
ainda a ameaça da mineração ilegal em pequena escala, que causa estragos na
paisagem cacaueira do Gana, num contexto em que as alterações climáticas
agravam ainda mais a situação.
As
secas deixaram as árvores ressecadas, enquanto a chuva excessiva criou
condições favoráveis para o surgimento de doenças fúngicas, como o Swollen
Shoot, um vírus devastador que se espalha rapidamente pelas plantações e
florestas.
O
declínio na produção de cacau do Gana começou na época agrícola 2021/2022,
quando caiu para as 683 toneladas, tendo vindo a diminuir todos os anos desde
então, como mostram os dados da Statista. Na época agrícola de 2022/2023,
ficou-se pelas 654 toneladas e na presente campanha não deverá ultrapassar as
580 toneladas.
Já
a Costa do Marfim, que assegura 40% da produção mundial, registou ligeiras
oscilações na produção desde a campanha de 2020/2021 (2248 toneladas),
iniciando uma curva descendente acentuada na presente época agrícola, o que se
tem vindo a reflectir na escassez de produto no mercado mundial. Em 2021/2022,
a produção de cacau caiu para as 2121 toneladas, recuperou em 2022/2023 para as
2241 toneladas, precipitando-se na actual campanha para uma produção estimada
de 1800 toneladas. Segundo a Standard & Poor tem havido tensões entre os
produtores e intervenientes internacionais no sector do cacau e do chocolate.
Os reguladores do cacau da Costa do Marfim e do Gana boicotaram uma reunião da
indústria em Outubro de 2022, devido a uma disputa de preços. Os dois países
procuram apoio para proporcionar aos produtores um rendimento digno e estão em
curso negociações com compradores internacionais, refere a agência de notação
financeira. Isabel Bordalo – Angola in “Expansão”
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