O
socialista António Guterres, secretário-geral da ONU reeleito e cujo mandato
irá até 2027, tinha se investido na questão da prevenção da alteração
climática, cuja consequências serão danosas para muitos países. Mas seu segundo
mandato se transformou, desde o ataque do Hamas no 7 de outubro, na difícil
"procura do tom certo para ajudar Gaza sem irritar Israel", como
comenta o semanário Expresso de Lisboa.
Durante
10 anos Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, Guterres logo se
sensibilizou com a situação dos palestinos de Gaza, em meio aos bombardeios, e
tentou obter um cessar-fogo para a entrada de ajuda humanitária. Mas nem todos
os países concordaram com sua proposta humanitária, para eles Israel ainda tem
o direito de se defender, não sendo ainda o momento de se falar em contenção.
Com esse aval, Israel pode continuar com seu ataque terrestre e invadir os
subterrâneos de Gaza, onde estão as estruturas do Hamas, seus arsenais e os
israelenses capturados na invasão de Israel há quase quatro semanas.
Não
é fácil para Guterres encontrar um equilíbrio e o tom certo, nessa questão que
há meio século envenena o Oriente Médio. Ainda no Expresso, no texto do
historiador Lourenço Pereira Coutinho, "António Guterres está do lado do
humanismo, não do terrorismo" se pode encontrar uma análise equilibrada da
situação: Guterres "sabe que os palestinos são mantidos em campos de
refugiados pelos países árabes, que lhes recusam cidadania, e vivem em permanente
tensão com os israelenses na Cisjordânia, onde, a partir de 1967, estes
estabeleceram colonatos"
Este
é um aspecto importante da questão, porém - o texto continua - Guterres
"sabe também que Israel é continuamente ameaçado por organizações
fanáticas que pretendem a sua destruição".
Guterres,
cuja vida política está ligada a conquistas obtidas pelo Partido Socialista em
Portugal, tem diante de si um desafio, bem além das contendas partidárias
nacionais: o da gestão do fim da guerra. Destruído o inimigo que pregava a
destruição de Israel, assim que passar o ódio gerado pela guerra, não será o
momento de Guterres repensar na ONU, a criação efetiva do Estado palestino, com
o apoio de Mohmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, que não é amigo
do Hamas? Sem a adoção dessa solução para os palestinos já decidida, no fim da
Segunda Guerra Mundial, nunca haverá paz na região.
Missão
impossível? Rui Martins – Suíça
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Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a
ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes,
Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira
nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu
Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro
sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi
colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de
Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut
Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça,
correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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