Devolução de imposto através de um “cashback” é mais benéfico para a população mais pobre do que a isenção na cesta básica, segundo um estudo do Banco Mundial
Estudo
realizado pelo Banco Mundial aponta que devolver
imposto através de um cashback é mais benéfico para a população mais
pobre do que a isenção na cesta básica. A questão central, analisada pela
pesquisa, é tentar diminuir o impacto da tributação para esse grupo social.
Gustavo Vettori, professor da Faculdade de Economia, Administração,
Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, explica as diferenças entre as duas
propostas.
Cashback e
isenção na cesta básica
A
reforma tributária abarca essas duas visões concorrentes: a proposta de
devolução de imposto, o cashback, e a isenção na cesta básica. A
tributação sobre consumo (IVA) consulta a renda consumida das famílias, mas não
a renda poupada. As famílias mais ricas, segundo Vettori, conseguem poupar uma
parte do seu dinheiro, e as famílias mais pobres não – já que consomem tudo o
que ganham. Então, o imposto, comparado com a renda, acaba sendo mais
regressista.
“As
famílias mais ricas vão recolher mais tributos sobre o consumo, porque o
consumo delas é maior. Mas em termos relativos, em relação à renda, um tributo
desse acaba sendo regressivo. A porcentagem da renda da família mais pobre é
tributada por um tributo sobre consumo e é maior do que a porcentagem da renda
da família mais rica – simplesmente porque ela poupa parte da sua renda”
explica o especialista. Nesse cenário, existem algumas possibilidades de
amenizar esse efeito, ou até revertê-lo.
Segundo
Gustavo Vettori, o sistema atual conta com um mecanismo de isenção de produtos
da cesta básica. Basicamente, itens de consumo básico – que podem ser
utilizados tanto por famílias mais pobres quanto as ricas – tendem a ter uma
alíquota menor ou até ser isentos. Já os itens de consumo supérfluo tendem a
ter uma tributação maior.
Um
problema apontado por Vettori diz respeito à progressividade dessas soluções,
que é limitada. A população mais rica também consome os produtos que estão na
cesta básica, então não é possível amenizar tanto o efeito regressivo, porque
as famílias ricas ganham um benefício, até em valor absoluto, maior do que o
benefício da família mais pobre.
Produtos da cesta
Outra
dificuldade desse sistema, e o item que o professor considera como o problema
central, é a definição de quais produtos serão abarcados pela cesta básica.
Esse cenário gera discussões, que podem durar anos, e possuem um custo elevado.
Como explica Vettori, a isenção, para quem a defende, é importante porque
garante que alguns produtos serão abarcados pela cesta básica e mostra
imediatamente o impacto sobre esses produtos no consumo da família mais pobre –
mas isso só acontece se a isenção for repassada para o preço.
A
visão alternativa a esse cenário é o sistema de cashback. “Podemos
imaginar um tributo que tenha a mesma alíquota para todos os produtos,
inclusive os da cesta básica, e o que esse sistema preveria é que as famílias
de baixa renda poderiam receber de volta o tributo que foi pago”, exemplifica o
professor. Com o sistema de nota fiscal eletrônica é possível rastrear os
valores gastos por cada CPF e devolver posteriormente para as famílias de baixa
renda. O pagamento, de acordo com Vettori, poderia ser feito através de um
valor fixo, por exemplo, mas o sistema ainda não foi estabelecido.
Essa
experiência existe em outros países – como no Canadá, Uruguai, Argentina,
Bolívia e Colômbia. Ainda que esse seja um caminho para tentar reduzir as
desigualdades, Vettori afirma que existem limitações para esse sistema. “A
vantagem disso é que é possível direcionar a restituição só para as famílias de
baixa renda – e não para as famílias de alta renda. Então, o produto da cesta
básica das famílias mais ricas continua sendo tributado e isso dá uma maior
progressividade para o sistema”, pontua.
Para
Vettori, provavelmente, a solução encontrada pelo Congresso será uma combinação
dos dois sistemas. Entretanto, uma das preocupações apontadas pelo professor é
se o cashback será efetivo. “Esse sistema de restituição, se bem-feito,
tem a capacidade de gerar um efeito econômico positivo e um aumento de consumo,
que pode ser verificado aumentando a renda disponível dessas famílias”,
discorre. Gustavo Vettori – Brasil in “Jornal
da Universidade de São Paulo”
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