O ambicioso projeto, com inauguração prevista em dezembro, irá movimentar passageiros e mercadorias entre dois portos marítimos através de uma linha ferroviária
No
Istmo de Tehuantepec, uma estreita faixa do território mexicano na qual 300
quilómetros separam o Oceano Pacífico do Atlântico, está a ser construído um
corredor interoceânico como alternativa ao Canal do Panamá, o que gera
expectativas económicas, mas também preocupações ambientais.
O
projeto, pensado para complementar o Canal do Panamá, ocorre num contexto de
popularidade do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, cujo governo
investiu US$ 2,5 mil milhões de euros em comboios de carga e turismo para ligar
dois portos que foram recentemente renovados.
De
acordo com o Executivo mexicano, o corredor poderia acrescentar entre três e
cinco pontos percentuais ao PIB mexicano.
No
entanto, o projeto é desenvolvido numa região com numerosos povos indígenas e
uma vasta riqueza cultural. As opiniões estão divididas entre os que esperam
que a obra atraia investimentos e aumente o consumo e os que acreditam que
facilitará as atividades do crime organizado, além de gerar um enorme impacto
social e ambiental.
"É
um projeto magnífico!", afirma Angélica González, uma artesã de 42 anos de
Ciudad Ixtepec (Oaxaca, sul), uma das paragens do comboio que liga os portos de
Salina Cruz, no Pacífico, ao de Coatzacoalcos, na costa atlântica (Veracruz,
leste).
O negócio
Embora
o turismo gere expectativas, o projeto é sobretudo logístico e comercial.
O
Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec (CIIT, na sigla em Espanhol)
espera movimentar 300 mil contentores de carga em 2028, de acordo com dados
oficiais, e aumentará para 1,4 milhões — uma média de cerca de 33 milhões de
toneladas de carga, segundo estimativas da AFP — quando alcançar a total
capacidade operacional em 2033.
Em
2022, o Canal do Panamá, que foi muito afetado por uma seca, registou o
trânsito de 63,2 milhões de toneladas de carga em contentores, segundo a sua
administração. Estima-se que isto represente quase 3% do comércio mundial, de
acordo com a mesma fonte.
Para
Adiel Estrada, coordenador de operações do CIIT — que será administrado pela
Marinha mexicana —, a "espinha dorsal do corredor" é que "se
complementa ao Canal do Panamá".
Com
a licitação dos cinco primeiros parques industriais do corredor, o governo
espera atrair 6,4 mil milhões de euros em investimentos.
Preocupação
As
obras têm caráter monumental, como a de ampliação do porto da cidade de Salina
Cruz, cujo novo quebra-mar já ganhou mil metros em direção ao mar e se
estenderá até 1600m, necessitando de 5,5 milhões de toneladas de pedra.
Os
projetos também funcionarão como novas rotas migratórias, como em Ciudad
Hidalgo, na fronteira com a Guatemala, por onde chegam migrantes sem documentos
e onde se conectará ao CIIT com o comboio que chegará a Ixtepec. Outro ramal o
ligará ao turístico Comboio Maia, também obra de López Obrador.
Mas
para Juana Ramírez, ativista da organização indígena UCIZONI, o projeto é
problemático. "Como vai ficar o istmo? Contaminado, com poucas espécies
animais e vegetais e uma violência crescente", prevê esta indígena da
etnia Mixe, do município de San Juan Guichicovi.
A
UCIZONI afirma que a rota não cumpriu as normas internacionais sobre a consulta
aos indígenas que vivem na região, além de ter apresentado estudos ambientais
frágeis e deslocado comunidades nativas.
Em
julho, a ONG Centro Mexicano de Direito Ambiental (CEMDA, na sigla em espanhol)
relatou 21 casos de intimidação, 11 de violência física e três homicídios
contra defensores do território entre outubro de 2022 e julho de 2023, todos
ligados à CIIT. A maioria das vítimas eram indígenas. Jean Arce “Associated France
Presse”
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