Na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, um painel de azulejos enfeita a entrada da sala de jantar dos representantes dos países. A obra foi doada por Portugal em 1996. A embaixadora de Portugal na ONU, Ana Paula Zacarias, explica que o painel mostra Lisboa no século XVI, antes do grande terremoto de 1 de novembro de 1755, que deixou a cidade quase completamente destruída. O tremor foi seguido de um maremoto e múltiplos incêndios, deixando mais de 10 mil mortos
ONU News:
Embaixadora, nós temos um pedaço do Rio Tejo em Nova Iorque. Poderia explicar o
que representa essa obra?
Ana Paula Zacarias: Este é um painel de azulejo que foi oferecido por
Portugal em 1996, no final da presidência do professor Diogo Freitas do Amaral,
enquanto presidente da Assembleia Geral. Representa a cidade de Lisboa ainda
antes do terrível terremoto de 1755, e é uma vista do Tejo, onde se veem todos
os barcos que traziam mercadorias, naquela altura, para uma cidade comercial
como era Lisboa. É muito interessante que trata-se de uma artista portuguesa,
Susana Bretes. Ela fez este painel de azulejo baseado em vários painéis
similares que existem no nosso museu do azulejo em Lisboa, que falam exatamente
desta temática, da grande diversidade que tinha a cidade de Lisboa nesta época,
onde se juntavam barcos que vinham da Europa, da África, que vinham da Índia e
que vinham das Américas, que era, no fundo, uma grande confluência de
civilizações e de encontros naquela cidade. O painel está por isso aqui, neste
encontro de espaços onde os delegados das Nações Unidas vêm encontrar-se para
almoçar, por isso é um lugar bastante apropriado para estar aqui este painel,
porque é aqui que as pessoas se cruzam. É aqui que as pessoas se encontram, tal
como em Lisboa, naquele momento, e ainda nos dias de hoje.
ONU News: Há uma
relação desse quadro com as características diplomáticas de Portugal e os
desafios globais que enfrenta?
Ana Paula Zacarias: Sem dúvida, Portugal tem-se sempre posicionado como um
construtor de pontes entre o norte e o sul, o leste e o oeste. Essa tem sido,
de alguma maneira, a nossa história, mas mais do que história, é a nossa opção.
É uma opção política, um desejo de construir esses momentos de proximidade.
Quer em termos da defesa dos valores, quer em termos da defesa, daquilo que nós
queremos alcançar. Sobre a paz, a segurança. E também em outros dossiês como a
defesa do clima, e dos oceanos, tendo realizado em Lisboa a cimeira dos
oceanos, onde reunimos representantes dos 193 países das Nações Unidas
exatamente para falar dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e,
sobretudo, do objetivo que trata da defesa do oceano e da biodiversidade.
ONU News: Quando
passa por aqui com representantes internacionais eles vinculam este quadro a
Portugal?
Ana Paula Zacarias: Eu acho que sim, porque a tradição do azulejo, e
sobretudo deste azulejo azul e branco, é uma tradição muito antiga em Portugal.
E aí também mais um fator interessante de Portugal no cruzamento de culturas,
os azulejos fazem parte do legado islâmico em Portugal. A palavra azulejo vem
exatamente do árabe, e a ideia é de que este revestimento que era usado na
frontaria de muitas casas, ajudava também a diminuir as temperaturas muito
quentes durante o verão e ajudava a isolar as temperaturas durante o inverno.
Portanto, vemos em Lisboa e um pouco por todo o país muitas casas que têm este
revestimento de azulejo ou têm painéis de curativos que mostram determinadas
cenas da vida das pessoas no dia a dia, das cidades onde eles se encontram.
ONU News: Para
terminar, embaixadora, algo mais a dizer sobre esta obra?
Ana Paula Zacarias: Sem dúvida, este painel traz arte, traz encontro de
culturas e traz também um aviso. Porque o que aqui se vê, esta gravura foi
feita antes de 1755. Portanto, isto é um alerta para a necessidade de nós
trabalharmos sobre a redução do risco de catástrofe. Neste momento em que nós
vemos um tremor de terra tão enorme a afetar países como a Turquia e a Síria,
lembra-nos que temos que trabalhar na redução do risco de catástrofes em
conjunto, porque é um elemento fundamental a que temos que atender. Trabalhar
para, em conjunto, termos soluções estruturais, infraestruturas que sejam
resilientes às alterações climáticas e a outro tipo de fenómenos, é um tema que
as Nações Unidas está a dedicar atenção, e que nós também, de alguma maneira
vemos refletido aqui neste painel. ONU News – Nações Unidas
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