Escritor e intelectual português vai liderar investigação sobre a cooperação entre Europa e América Latina em tempos de polarização global
O
escritor e intelectual português Álvaro de Vasconcelos é o novo titular da
Cátedra José Bonifácio da USP. Até o final de 2024, ele conduzirá pesquisas
sobre o tema Europa e América Latina num contexto de polarização mundial:
caminhos e desafios sociais, políticos, econômicos e culturais para uma
cooperação necessária. Ao suceder a argentina Susana Malcorra no cargo, ele se
torna o 11º catedrático, sendo o primeiro de Portugal e o segundo da Península
Ibérica; em 2016, o ex-primeiro-ministro espanhol, Felipe González, ocupou o
posto.
Com
presença ativa no debate dos assuntos políticos, sociais e culturais da Europa
e do mundo, Vasconcelos é investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares
CEIS20 da Universidade de Coimbra. Já foi diretor do Instituto de Estudos de
Segurança da União Europeia e do Instituto de Estudos Estratégicos e
Internacionais, investigador sênior da Arab Reform Initiative, além de fundador
do Fórum Demos, importante think tank europeu de relações
internacionais. No Brasil, foi professor colaborador do Instituto de Relações
Internacionais (IRI) da USP e, mais recentemente, participou do encontro O
Bicentenário da Independência do Brasil visto do exterior.
Opositor
do Estado Novo e da guerra colonial portuguesa, esteve exilado em Bruxelas e
Paris de 1967 a 1974. Ao regressar ao país natal, participou ativamente do
processo de transição democrática e, hoje, atua como colunista e comentador em
jornais, rádio e televisão.
O
diretor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) e coordenador do Centro
Ibero-americano (Ciba) da USP, que administra a iniciativa, Pedro Dallari,
explica que a seleção dos nomes é feita com a participação de professores da
Universidade e de catedráticos anteriores. “A nacionalidade é um dado
relevante. Com exceção de dois brasileiros, nunca houve mais de um indicado de
um mesmo país. Também levamos em consideração a vinculação da liderança e da
trajetória da pessoa ao tema escolhido para a atividade de pesquisa, que é
definido em comum acordo entre o convidado e a USP”, ressalta.
Dallari
destaca os atributos do atual nome. “Álvaro de Vasconcelos é europeu e enfocará
justamente a necessidade da cooperação entre Europa e América Latina na
perspectiva de fortalecimento de princípios civilizatórios em um contexto
global de degradação dos direitos humanos. Trata-se de um notável intelectual
público, que promoverá uma reflexão densa e valiosa”, resume.
Outros
professores também celebraram a vinda de Álvaro de Vasconcelos. O ex-ministro
da Relações Exteriores e Professor Emérito da USP, Celso Lafer, lembra que o
novo catedrático traz consigo uma grande bagagem e experiência na área. “No
desenho do reposicionamento internacional de um Portugal democrático
pós-salazarista, empenhou-se numa atualizada parceria estratégica
luso-brasileira, no significado para Portugal da sua inserção na Europa
comunitária”, afirma.
Já
o ex-ministro da Educação e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH), Renato Janine Ribeiro, ao analisar a trajetória do
convidado, observa que “essa atuação faz jus à sua qualificação como
intelectual público, ou seja, não apenas alguém que busca o conhecimento, mas
que mede as ações e realidades políticas à luz de valores éticos fundamentais,
essencialmente as sucessivas declarações de direitos humanos adotadas sob a
égide da ONU”.
O
início das atividades presenciais de Vasconcelos está previsto para a segunda
semana de dezembro, quando, além de se encontrar com o reitor da USP, Carlos
Gilberto Carlotti Junior, conduzirá a primeira reunião do grupo de
pós-graduação que estará sob sua direção. Assim como ocorreu nas gestões
anteriores, o trabalho deve resultar em um livro, a ser publicado no segundo
semestre de 2024. Os demais livros da coleção estão disponíveis, gratuitamente,
neste link.
Cátedra José Bonifácio
Criada
em 2013, a Cátedra José Bonifácio homenageia um importante personagem da
história do Brasil. Também conhecido como “o patriarca da Independência”, José
Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em 1763 e foi um notável pesquisador,
escritor e homem público. Como cientista, chegou a descobrir novos minerais,
enquanto no campo político foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de
janeiro de 1822 a julho de 1823.
Sua
imagem ilustra a intenção de integrar a experiência de lideranças sociais aos
processos educacionais e de pesquisa do ambiente universitário, e da
preocupação em se produzir subsídios que promovam a melhoria das condições de
vida da população.
Assim,
a iniciativa busca estimular a geração e a disseminação de conhecimento sobre a
Ibero-América, sempre por meio da participação rotativa de uma figura pública
da região, ligada ao ambiente universitário e de relevo internacional, que
durante um ano lidera um grupo de investigadores para promover reflexões e
debates acerca da área em que atua.
“Todos os dez especialistas de grande relevância que já estiveram à frente da Cátedra realizaram trabalho excepcional e muito marcante na vida da Universidade, cumprindo um compromisso rigoroso com a construção e disseminação de conhecimento: em dez anos, foram dez livros publicados pela Edusp com o resultado das atividades. São mais de 200 artigos, que têm, ainda, o valor do envolvimento de jovens pesquisadores nessa produção, muitas vezes alunos de pós-graduação publicando pela primeira vez”, comemora Dallari.
Gerida
pelo Centro Ibero-Americano (Ciba), a ação está vinculada à Pró-Reitoria de
Pesquisa e Inovação (PRPI) e ao Instituto de Relações Internacionais (IRI).
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