Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Portugal - Râguebi: fomos portugueses ou D. Sebastião voltou?

O que é que a equipa de râguebi lusitana nos ensinou? Simplesmente que o D. Sebastião está cá dentro, precisa de ser orientado, precisa de ter um caminho claro, de ter ambição


Mesmo quem não entende bem as regras de jogo do râguebi e tenha estado a assistir ao jogo da seleção nacional com as Fiji, vibrou com a nossa equipa e a forma estoica com que venceu um adversário com qualidades técnicas e físicas efetivamente superiores.

Mas sendo o adversário superior, como foi possível vencer? Essa vitória só foi possível alcançar pelo simples e fundamental fenómeno da equipa portuguesa ter sido mais que um conjunto de indivíduos. Foram efetivamente uma equipa una! Atuaram como uma equipa alinhada com um objetivo comum, reforçando a fragilidade de quem da sua equipa estava ao lado, quando este necessitava de apoio, tal como elevando a força do colega, indo em conjunto na defesa ou no ataque ao reforço da posição.

Foi um coletivo que, perante o cansaço e o esforço anormal com que se debatia, não desfocou da estratégia definida, da tática fundamental e operou naqueles 80 minutos de jogo a busca constante da pequena oportunidade que surgia a espaços, com a força que dispunha: a agilidade de estaturas físicas inferiores. Foi de facto uma equipa unida, que transformou a inferioridade natural, do seu físico e experiência, em força de combate e de querer um bem comum superior.

Chegados aqui, foi também comum ouvir comentários de “nem pareciam portugueses!”. E, de facto, é razão para nos perguntarmos: será que são portugueses? Não! Não podem ser?! Se fossem portugueses certamente, antes do jogo, estariam a dizer que muito dificilmente ganhariam; durante o jogo, diriam vamos tentar, “mas já olhaste para eles?”; e após o jogo, com uma derrota certa, diriam que deram o melhor, mas obviamente os adversários fijianos eram melhores e não dava para mais do que fizeram!

O povo português, esse obviamente, diria que nem valeria terem ido ao mundial, porque em râguebi não jogamos nada e que somos “uma cambada” de amadores, num desporto que não é o do país.

Mas qual foi a lição que uma vez mais esta equipa de râguebi nos mostrou? Mostrou-nos o que é ser português “lá fora”. Simbolizaram aquele navegador que velejou “por mares nunca dantes navegados”, ou aquele emigrante que perante as adversidades dentro do país ambicionou e arriscou “lá fora” por uma vida melhor, ou aquele interior do lusitano que se emociona e se junta em prol de uma injustiça “lá fora”, onde a libertação de Timor-Leste e o apoio à soberania da Ucrânia, são disso exemplos claros.

Em termos práticos, o coração lusitano é mais empreendedor, coeso e resiliente no exterior, do que no seu interior. É muito comum isto de tratarmos melhor quem vem de fora, do quem é da nossa família. Somos um país de Turismo (e bem), mas não sabemos criar as condições para quem é nacional poder usufruir de um mínimo de condições.

Aceitamos que um produto estrangeiro seja “sempre” muito melhor, do que um similar que tenha sido produzido no nosso país (com algumas honrosas exceções). Aceitamos pagar impostos ao nível da Escandinávia, mas nivelamos por baixo, e de forma politicamente correta, o nível de serviço e as responsabilidades na saúde, na justiça e na educação.

Em suma, continuamos à espera do D. Sebastião, que está “lá fora”, para nos conquistar de novo na liderança mundial deste século. O que é que a equipa de râguebi nos ensinou? Simplesmente que o D. Sebastião está cá dentro, precisa de ser orientado, precisa de ter um caminho claro, de ter ambição. Bravos Lobos, que mostraram e relembraram que um país pequeno, “à beira-mar plantado” é capaz… basta ter liderança! Rui Ribeiro – Portugal in Jornal Económico 

Rui Ribeiro, Diretor Executivo LISS – Universidade Lusófona Information Systems School


Sem comentários:

Enviar um comentário