O que é que a equipa de râguebi lusitana nos ensinou? Simplesmente que o D. Sebastião está cá dentro, precisa de ser orientado, precisa de ter um caminho claro, de ter ambição
Mesmo
quem não entende bem as regras de jogo do râguebi e tenha estado a assistir ao
jogo da seleção nacional com as Fiji, vibrou com a nossa equipa e a forma
estoica com que venceu um adversário com qualidades técnicas e físicas
efetivamente superiores.
Mas
sendo o adversário superior, como foi possível vencer? Essa vitória só foi
possível alcançar pelo simples e fundamental fenómeno da equipa portuguesa ter
sido mais que um conjunto de indivíduos. Foram efetivamente uma equipa una!
Atuaram como uma equipa alinhada com um objetivo comum, reforçando a
fragilidade de quem da sua equipa estava ao lado, quando este necessitava de
apoio, tal como elevando a força do colega, indo em conjunto na defesa ou no
ataque ao reforço da posição.
Foi
um coletivo que, perante o cansaço e o esforço anormal com que se debatia, não
desfocou da estratégia definida, da tática fundamental e operou naqueles 80
minutos de jogo a busca constante da pequena oportunidade que surgia a espaços,
com a força que dispunha: a agilidade de estaturas físicas inferiores. Foi de
facto uma equipa unida, que transformou a inferioridade natural, do seu físico
e experiência, em força de combate e de querer um bem comum superior.
Chegados
aqui, foi também comum ouvir comentários de “nem pareciam portugueses!”. E, de
facto, é razão para nos perguntarmos: será que são portugueses? Não! Não podem
ser?! Se fossem portugueses certamente, antes do jogo, estariam a dizer que
muito dificilmente ganhariam; durante o jogo, diriam vamos tentar, “mas já
olhaste para eles?”; e após o jogo, com uma derrota certa, diriam que deram o
melhor, mas obviamente os adversários fijianos eram melhores e não dava para
mais do que fizeram!
O
povo português, esse obviamente, diria que nem valeria terem ido ao mundial,
porque em râguebi não jogamos nada e que somos “uma cambada” de amadores, num
desporto que não é o do país.
Mas
qual foi a lição que uma vez mais esta equipa de râguebi nos mostrou?
Mostrou-nos o que é ser português “lá fora”. Simbolizaram aquele navegador que
velejou “por mares nunca dantes navegados”, ou aquele emigrante que perante as
adversidades dentro do país ambicionou e arriscou “lá fora” por uma vida
melhor, ou aquele interior do lusitano que se emociona e se junta em prol de
uma injustiça “lá fora”, onde a libertação de Timor-Leste e o apoio à soberania
da Ucrânia, são disso exemplos claros.
Em
termos práticos, o coração lusitano é mais empreendedor, coeso e resiliente no
exterior, do que no seu interior. É muito comum isto de tratarmos melhor quem
vem de fora, do quem é da nossa família. Somos um país de Turismo (e bem), mas
não sabemos criar as condições para quem é nacional poder usufruir de um mínimo
de condições.
Aceitamos
que um produto estrangeiro seja “sempre” muito melhor, do que um similar que
tenha sido produzido no nosso país (com algumas honrosas exceções). Aceitamos
pagar impostos ao nível da Escandinávia, mas nivelamos por baixo, e de forma
politicamente correta, o nível de serviço e as responsabilidades na saúde, na
justiça e na educação.
Em suma, continuamos à espera do D. Sebastião, que está “lá fora”, para nos conquistar de novo na liderança mundial deste século. O que é que a equipa de râguebi nos ensinou? Simplesmente que o D. Sebastião está cá dentro, precisa de ser orientado, precisa de ter um caminho claro, de ter ambição. Bravos Lobos, que mostraram e relembraram que um país pequeno, “à beira-mar plantado” é capaz… basta ter liderança! Rui Ribeiro – Portugal in “Jornal Económico”
Rui Ribeiro,
Diretor Executivo LISS – Universidade Lusófona Information Systems School
Sem comentários:
Enviar um comentário