Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Portugal - Universidade de Coimbra promove seminário sobre evacuação em cenários de incêndio rural

A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) vai realizar, no dia 24 de janeiro, o seminário “Decisões e Planos de Evacuação em Cenários de Incêndio Rural”, no Departamento de Engenharia Civil (DEC), no Polo II da Universidade de Coimbra. No dia seguinte, 25 de janeiro, terá lugar um exercício de evacuação, na freguesia de Torres do Mondego. 


 

Este seminário tem como objetivo apresentar os resultados e as conclusões alcançadas no projeto “EvacuarFloresta”, que visa contribuir para a definição de um sistema de apoio à decisão que proteja as comunidades em risco e mitigue os desafios associados à evacuação durante incêndios rurais. 

Na sexta-feira, dia 24 de janeiro, a programação da manhã inclui palestras sobre temas como estratégias de evacuação, gestão de riscos em incêndios rurais e o uso de ferramentas de simulação. Durante a tarde, será realizado um curso de formação dedicado ao programa numérico Fire Dynamics Simulator (FDS), ministrado pelo professor Jianping Zhang, da Universidade de Ulster. 

Na manhã de sábado, dia 25 de janeiro, está prevista a realização de um exercício de evacuação em Ribeira da Misarela, na freguesia de Torres do Mondego, em colaboração com a Câmara Municipal de Coimbra, através do Serviço Municipal de Proteção Civil e da Junta de Freguesia. O exercício contará com a participação da Guarda Nacional Republicana (GNR), da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro da GNR, da Companhia de Bombeiros Sapadores de Coimbra, dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, dos Bombeiros Voluntários de Brasfemes e da Cruz Vermelha Portuguesa.  

O “EvacuarFloresta” é liderado por Aldina Santiago, professora do DEC e investigadora do Institute for Sustainability and Innovation in Structural Engineering (ISISE), e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Este projeto conta com parceiros como a Escola Nacional de Bombeiros (ENB), o Centro de Inovação e Competências da Floresta (SERQ), o Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais (NICIF), o Instituto Jurídico (IJ) e o Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente (CITTA) da UC. 

A participação no evento é gratuita e os participantes receberão um Certificado de Participação. As inscrições estão encerradas.

Para mais informações, contactar através do e-mail evacuarfloresta@uc.pt ou visitar o sítio oficial do projeto. Universidade de Coimbra - Portugal


   


Nigéria e Angola "preparam" duro golpe no negócio bilionário da importação de refinados da Europa para África

A gigantesca refinaria Dangote, do milionário nigeriano Aliko Dangote, começou a produzir gasolina em finais de 2024 e já neste mês de Janeiro atingiu a sua plena funcionalidade, com gasóleo e outros derivados, dando um primeiro golpe letal no negócio bilionário da exportação de refinados europeus para o continente africano, que supera os 20 mil milhões USD por ano



O segundo golpe pode estar já em preparação em Angola, quando entrarem em operação as três refinarias em construção no país, em Cabinda, no Soyo (Zaire) e no Lobito (Benguela), que vão juntar, aos 650 mil barris por dia da Refinaria Dangote, na Nigéria, mais cerca de 360 mil, sendo a do Lobito a maior, com 200 mil a trabalhar no máximo.

Com os dois maiores produtores africanos a erguerem capacidade interna para refinar o seu próprio crude, libertando-se da dependência das importações, que, no caso angolano representa perto de 2 mil milhões USD por ano, e no nigeriano era superior a 7 mil milhões USD, embora estes valores tenham variado ao longo dos anos, os analistas esperam uma substancial redução no volume das importações continentais de refinados.

A Refinaria Dangote é uma machadada no gigantesco negócio, e um dos mais inexplicáveis estrangulamentos económicos do continente africano, onde a produção de petróleo era, e ainda é, quase toda exportada em bruto para depois esses países se abastecerem de refinados europeus produzidos com a matéria-prima importada de África, somando avultados ganhos de permeio.

Alex Kimani, economista e especialista no sector, em análise publicada no sítio OilPrice, refere isso mesmo, quando descreve a situação prevalecente na Nigéria antes da entrada em funcionamento da Refinaria Dangote, que custou mais de 20 mil milhões USD, com capacidade para processar 650 mil barris/dia, substancialmente mais que qualquer refinaria na Europa.

É a primeira vez em décadas que, graças ao investimento de Aliki Dangote, o maior produtor de petróleo africano refina o seu próprio crude que é vendido à NNPC, a petrolífera estatal, cortando assim o enorme desgaste nas reservas cambiais no negócio da importação de refinados, porque o Estado nigeriano adquire agora estes produtos na moeda nacional, a Naira.

Mas Kimani sublinha que um elemento fulcral deste momento relevante para a Nigéria é que, tal como vai suceder com Angola, assim que as novas refinarias, que vão acompanhar a velha refinaria de Luanda entrarem em funcionamento, haverá excedentes para libertar para os países vizinhos, que terão todo o interesse em fazê-lo regionalmente devido à diminuição dos custos inerentes à proximidade geográfica.

E isto não é feito sem consequências, porque o corte do fluxo de refinados europeus para a Nigéria desmonta um negócio de proporções gigantes, mais de 7 mil milhões USD, cerca de 600 milhões/mês, a que se irão somar, quando os projectos de Cabinda, Soyo e Lobito estiverem em plena laboração, os cerca de 2 mil milhões de Angola, que tem igualmente na Europa o seu principal fornecedor de refinados...

Ora, o negócio anual africano de importação de refinados abrange cerca de 17 mil milhões USD, o que significa que só com a Nigéria e Angola, directamente, os europeus perdem metade do chorudo negócio e, indirectamente, mais porque esses ganhos para África, no conjunto, e para Angola e Nigéria, podem ser ainda mais volumosos devido às exportações para os vizinhos, como, de resto, está já a ser planeado no que diz respeito a Angola, com um previsto oleoduto de 5 mil milhões USD para a Zâmbia.

O corte umbilical entre o gigantesco mercado nigeriano, mais de 200 milhões de habitantes, e os fornecedores europeus está mesmo, segundo os sítios da especialidade, a criar impacto negativo acentuado nos mercados de capitais, sendo isso mesmo sublinhado pela OPEP, porque a Refinaria Dangote permitiu a supressão total das importações nigerianas de refinados europeus. 

A Voice of Nigeria (VoN), a emissora estatal nigeriana, destaca com regozijo uma notícia sobre o report da OPEP onde é feito um sublinhado especial ao facto de a Refinaria Dangote ter libertado o país da dependência das importações de refinados.

Além disso, a VoN aponta ainda para o impacto que esse momento teve na redução das reservas de moeda estrangeira e no papel que terá futuramente na aquisição de divisas com as vendas de refinados nigerianos dentro de África.

Esta reviravolta está, segundo a OPEP, vai obrigar os refinadores europeus, com gigantesca capacidade instalada para fornecer mercados ultramarinos, a encontrarem destinos alternativos para os seus produtos, não sendo do seu interesse ver o florescimento da capacidade própria em África, como é o caso de Angola, de onde partirá o próximo "golpe".

Com a entrada em funcionamento da Refinaria Dangote, segundo especialistas citados nos media do sector, ficaram claras as vantagens para os países produtores de petróleo terem a sua própria capacidade de refinação instalada.

Isso, porque não apenas corta o fluxo em sentido contrário das reservas cambiais, que são escassas na maior parte dos casos devido à dependência do sector petrolífero e à frágil diversificação económica, como ainda acrescenta fonte de receitas em moeda estrangeira.

Alguns analistas admitem mesmo que Aliki Dangote pode ter começado um processo revolucionário no continente africano, libertando e mostrando como se libertam países da dependência dos países mais desenvolvidos do Hemisfério Norte, podendo esses ganhos ser desviados para recuperar os históricos atrasos em infra-estruturas na saúde, na educação...

Resta agora saber se o exemplo será seguido noutras geografias e se os interesses "sectoriais" não se sobreporão, como se sabe que historicamente tem sido comum em África, aos interesses dos Estados. Ricardo Bordalo – Angola in “Novo Jornal”


Timor-Leste - Mais de 70 mil timorenses já fizeram novo cartão eleitoral com dados biométricos

Mais de 70 mil timorenses já fizeram o novo cartão eleitoral com dados biométricos, disse a diretora da gestão de base de dados e recenseamento eleitoral do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) de Timor-Leste. “Do total de 925.018 eleitores, 72.255 já atualizaram o cartão eleitoral para o de dados biométricos. Faltam 852.763”, disse Túlia Onorina.



Timor-Leste iniciou em julho de 2024 a emissão de novos cartões eleitorais com dados biométricos, mais seguros dos que os atualmente utilizados, aproveitando para fazer uma actualização aos cadernos eleitorais.

Túlia Onorina explicou à Lusa que nas últimas eleições realizadas no país a taxa de abstenção aumentou e aproveitou-se a emissão dos novos cartões eleitorais para fazer uma atualização ao recenseamento eleitoral. “Foram também recenseados novos 6791 eleitores, que já vão ter o novo cartão”, disse.

A responsável disse que a atualização do recenseamento eleitoral está também relacionada com a previsão de realização de eleições autárquicas a partir de 2027, porque, explicou, o número de representantes das assembleias municipais depende do número de eleitores de cada município.

O Conselho de Ministros aprovou a semana passada a “Estratégia de Descentralização Administrativa e de Instalação dos Órgãos Representativos do Poder Local 2025-2028”.

A resolução estabelece planos anuais, para este ano e até 2028, que “incluem a instalação de serviços de Balcão Único em todo o território nacional [timorense], o fortalecimento institucional das autoridades municipais, a regulamentação das leis relacionadas com o poder local e a actualização da base de dados do recenseamento eleitoral”.

Os novos cartões eleitorais podem ser feitos no STAE em Díli e nos escritórios daquele secretariado nos restantes municípios. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


Macau - Fundação Rui Cunha inaugura exposição de antiguidades sobre a Rota da Seda Marítima

A Fundação Rui Cunha inaugura a exposição “Crescent on the Sea”. Com curadoria de Luis Au, a mostra apresentará cerca de 50 obras que celebram a história das rotas da Seda, marcando o 10º aniversário da inscrição da Rota da Seda como Património Mundial da UNESCO. A exposição ficará aberta até 8 de Fevereiro



A Fundação Rui Cunha (FRC) inaugura a exposição de antiguidades intitulada “Crescent on the Sea”, que contará com uma colecção de aproximadamente 50 obras de arte, cerâmica, quadros, documentos e livros datados do século IV ao século XIX. A mostra é fruto da iniciativa do coleccionador Luis Au e procura destacar objectos que atestam a rica história das trocas comerciais ao longo das rotas marítimas e terrestres que conectavam a China Continental ao resto do mundo.

A exposição traz ao público um vislumbre sobre a rica herança cultural das rotas comerciais na China. Mas não apenas isso, também celebra dois importantes marcos históricos ligados à Rota da Seda. O primeiro refere-se ao 10º aniversário da inscrição de um dos corredores terrestres da Rota da Seda na Lista de Património Mundial da UNESCO, em 2014. A rota original ligava as duas cidades de Chang’an (actual Xi’an) e Tianshan, em Xinjiang. O segundo é o 20º aniversário da inclusão do Centro Histórico de Macau na mesma lista, que ocorreu em 2005, consolidando Macau como o 31º sítio designado como Património Mundial na República Popular da China.

Na visão de Luis Au, a tradição familiar de coleccionar antiguidades remonta à década de 1950, alimentada por uma paixão pelos estudos históricos. Au destaca que a sua família, com uma formação cultural sino-portuguesa, tem se empenhado em valorizar as relíquias e a herança local de Macau e dos macaenses, numa cidade que é um vibrante entrelaçamento entre as culturas oriental e ocidental.

O título da exposição, “Crescent on the Sea”, algo como “Crescente sobre o Mar”, remete ao famoso lago em forma de lua crescente localizado em Dunhuang, na província de Gansu, um importante ponto de comércio da antiga Rota da Seda. Contudo, Luis Au ressalta que na costa sudeste da China também existia uma área denominada “Crescente”, no mar da China, rica em prosperidade e conectada a cerca de cem portos ao longo da Rota da Seda Marítima. Este local, centrado em Zayton (Quanzhou), foi um marco no desenvolvimento naval e tecnológico durante a dinastia Song, destacando-se como um dos maiores portos do mundo na época.

As rotas da seda, tanto terrestre quanto marítima, foram cruciais para o transporte de uma variedade de bens, entre os quais a seda, a porcelana, o chá e as especiarias. Durante os séculos VI a XIV, o intercâmbio entre os impérios chinês e o império romano prosperou, evidenciando a importância das antigas rotas comerciais que permanecem em uso até ao século XVI.

Com base na descrição do curador, a Rota da Seda Marítima, actualmente em processo de reconhecimento pela UNESCO, estendia-se desde o porto de Quanzhou, na província de Fujian, até Ningbo, na província de Zhejiang, este último sendo um dos portos de carga mais movimentados do mundo. Macau, situada na costa sul da China, emergiu no século XVI como um centro crucial de comércio marítimo, facilitando a exportação de produtos chineses como seda e porcelana para diversas partes do mundo, incluindo o Japão, Sudeste Asiático, Europa e América.

Num contexto económico contemporâneo, a Rota da Seda Marítima está actualmente a sofrer um “renascer”, que deu início na administração de Xi Jinping. Parte da iniciativa “Um Cinturão, Uma Estrada” lançada pelo Governo Central em 2013, o projecto visa revitalizar as rotas comerciais marítimas e promover uma maior interligação económica global. Abrangendo mais de 60 países, que representam cerca de 30% do PIB mundial, a iniciativa foca na modernização das infraestruturas portuárias, com investimentos que ultrapassam 1 trilião de renminbis. Além de fortalecer laços comerciais, que se espera que aumentem em mais de 25% nas próximas duas décadas, a Rota da Seda Marítima procura fomentar a cooperação multilateral e abordar questões de sustentabilidade ambiental; cerca de 40% das iniciativas incluem componentes relacionados com energia sustentável.

As obras da exposição “Crescent on the Sea” permanecerão em exibição até ao dia 8 de Fevereiro, oferecendo ao público uma oportunidade única de explorar a herança cultural e histórica das rotas comerciais que moldaram o comércio e as interações culturais entre o Oriente e o Ocidente, no passado e em maior escala para o futuro. Elói Carvalho – Macau in “Ponto Final”


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Portugal – Universidade do Porto Press publica primeiro Referencial Lexical para Português Língua Estrangeira

"RefLex PLE" pretende colmatar uma lacuna identificada no ensino e investigação relacionada com o Português Língua Estrangeira e destina-se a professores, investigadores e estudantes



O que é um referencial lexical? É “um instrumento ou um recurso que visa organizar e padronizar o uso de vocabulário em determinados contextos”. A quem se destina? A professores, investigadores, estudantes (não nativos), mas também a autores de manuais, de programas de ensino, responsáveis por plataformas online ou jogos didáticos.

RefLex PLE — Referencial lexical para o português língua estrangeira: um recurso para professores e investigadores de PLE/L2 nasceu por iniciativa de Jorge Pinto, Nélia Alexandre e Ana Espírito Santo, docentes e investigadores na área da Linguística.

É o primeiro referencial lexical para o ensino de português como língua estrangeira (PLE) e foi recentemente publicado pela U.Porto Press, na coleção Uma Língua com Vista para o Mar. Estudos de Língua Portuguesa, com o apoio do Núcleo de Promoção da Língua Portuguesa da Reitoria da Universidade do Porto (U.Porto).

REFLEX PLE: origem, objetivos e utilidade

Os referenciais lexicais revestem-se de particular utilidade se atendermos ao facto de o estudo de uma língua envolver, também, o conhecimento de “vocabulário essencial que permita aos aprendentes (falantes não nativos) serem capazes de interagir de forma eficaz em diferentes contextos sociais, académicos e culturais”.

Por outro lado, Jorge Pinto, Nélia Alexandre e Ana Espírito Santo defendem que “o estabelecimento de um vocabulário comum para cada nível de proficiência linguística”, definido pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QERC) e pelo Common European Framework of Reference for Languages (CEFR), “é fundamental para garantir que, em cada etapa de ensino ou de aprendizagem do PLE, o léxico que está na base das unidades de ensino é introduzido, contribuindo para a uniformização de práticas e permitindo aos aprendentes (…) estudarem em diferentes níveis e em locais e momentos distintos sem serem penalizados por isso”.

RefLex PLE — Referencial lexical para o português língua estrangeira: um recurso para professores e investigadores de PLE/L2 surgiu para “colmatar uma lacuna identificada no ensino e investigação relacionada com o PLE”, atendendo a que não existia, “até à data, um recurso acessível aos profissionais que ensinam PLE, nem aos autores de manuais e investigadores”, que identificasse “palavras e colocações esperadas nos diferentes níveis de proficiência linguística”.

Para além da definição de um referencial lexical, nas suas notas introdutórias a esta obra, os autores especificam a utilidade do RefLex PLE: “visa funcionar como um referencial lexical para o PLE, estando baseado no QECR (2001) e no CEFR – Companion Volume (2020), alinhado com o Referencial Camões PLE (2017) e inspirado na abordagem comunicativa de ensino de línguas (Canale & Swain, 1980)”.

Partindo do princípio de que a língua está “em constante evolução”, apresentam-no como “uma ferramenta dinâmica, flexível e adaptável a diferentes abordagens metodológicas do ensino de PLE, auxiliando na construção de um repertório lexical que deve favorecer a compreensão e a expressão oral e escrita em português”.

Segundo Isabel Margarida Duarte, Professora Catedrática da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), que também se dedica às áreas de linguística e PLE/Português Língua Não Materna, este é um documento “cientificamente bem pensado, prático e simples”, que inspira confiança, e ao qual vaticina “uma vida longa, viagens por todos os cantos do mundo, os mais variados utilizadores, das mais desvairadas línguas maternas”.

RefLex PLE está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.

Sobre os autores

Jorge Pinto é Professor Associado do Departamento de Linguística Geral e Românica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), onde leciona e desenvolve a sua investigação na área da linguística educacional, nomeadamente do ensino/aprendizagem de português língua estrangeira/língua segunda (PLE/L2) em diferentes contextos, e da aquisição de português como L3/Ln.

É investigador integrado do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), nas mesmas áreas, e coordenador pedagógico de cursos de PLE/L2 no Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (ICLP).

Nélia Alexandre é Professora Associada do Departamento de Linguística Geral e Românica da FLUL, onde leciona e desenvolve investigação na área da linguística comparada, língua cabo-verdiana, português em contacto (em África) e aquisição de L2.

É investigadora integrada do CLUL e diretora do Centro de Avaliação e Certificação do Português Língua Estrangeira (CAPLE), integrando o grupo de trabalho do Plano Estratégico para a Aprendizagem da Língua Portuguesa (Agência para a Integração, Migrações e Asilo – AIMA).

Ana Espírito Santo é subdiretora do CAPLE e Professora Adjunta Convidada na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa. Doutorada em Linguística, na área da aquisição da sintaxe do português como língua não materna (L2), desenvolve trabalho de investigação no CLUL.

As suas áreas de interesse incluem a aquisição de português como língua estrangeira/ L2, a aquisição de português como língua de herança e a avaliação e certificação de português como língua estrangeira. Universidade do Porto - Portugal


UCCLA - Comemoração do 1.º aniversário da Casa da Cultura da Guiné-Bissau

A UCCLA vai acolher, no dia 25 de janeiro, as celebrações do 1.º aniversário da Casa da Cultura da Guiné-Bissau (CCGB), das 15h30 às 19h30. Não falte!



O programa inclui momentos de animação cultural, intervenções institucionais e comunicações dedicadas à importância da cultura e da identidade guineense. A agenda do Centenário de Amílcar Cabral 2025 será também apresentada oficialmente, revelando as atividades e iniciativas previstas para celebrar este marco.

Outro momento especial será o lançamento do livro biográfico em banda desenhada "100 Cabral - A Epopeia de um Simples Africano", da autoria de Fernando Júlio e Braima Mané, com uma conversa com autores e convidados que irão partilhar reflexões sobre o impacto de Amílcar Cabral na história da Guiné-Bissau e de África.

No encerramento das comemorações, haverá um momento de convívio, onde poderá saborear os sabores tradicionais da Guiné-Bissau, acompanhado de música, venda de livros e outros produtos tradicionais.

A entrada é gratuita, mas sujeita a inscrição prévia em www.tuduticket.com

O evento será uma oportunidade para partilhar a história e os objetivos da CCGB, promover a riqueza da cultura guineense e fortalecer laços com a comunidade.

Junte-se a nós para celebrar este marco especial e contribuir para a valorização da cultura e da identidade guineense. Esperamos por si!

Programação

Livro "100 Cabral - A Epopeia de um Simples Africano"


Iraque - Em reconstituição ‘tesouros da Mesopotâmia’ destruídos por jihadistas

Uma década depois que combatentes jihadistas saquearam as ruínas de Nimrud, no Iraque, arqueólogos lutam para reconstituir os seus tesouros antigos, agora convertidos em milhares de fragmentos.



O sítio arqueológico, que já foi a joia da coroa do antigo império assírio, foi arrasado pelos combatentes do Estado Islâmico (EI) depois que tomaram grande parte do Iraque e da vizinha Síria em 2014. As preciosas obras pré-islâmicas destruídas pelos jihadistas estão em pedaços, mas os arqueólogos não temem a tarefa colossal de remontá-las.

“Sempre que encontramos uma peça e a colocamos de volta ao seu lugar original, é como uma nova descoberta”, disse à AFP Abdel Ghani Ghadi, um especialista de 47 anos que trabalha no local.

Mais de 500 peças foram encontradas despedaçadas na área, a cerca de 30 quilómetros de Mosul, cidade do norte do Iraque onde o EI estabeleceu a capital do seu autoproclamado “califado”.

Uma escavação minuciosa feita por arqueólogos iraquianos recuperou mais de 35.000 fragmentos. Os cientistas remontaram cuidadosamente os baixos-relevos, esculturas e placas decoradas representando criaturas míticas, que adornavam o palácio do rei assírio Ashurnasirpal II há quase 3000 anos. Gradualmente, as peças do quebra-cabeça são montadas, cobertas por uma lona verde.

Outra peça mostra prisioneiros algemados de territórios que se rebelaram contra o poderoso exército assírio. Deitados de lado estão lamassus (retratos de divindades assírias com cabeças humanas, corpos de touro ou leão e asas de pássaros) perto de tábuas com textos em escrita cuneiforme.

“Estas esculturas são o tesouro da Mesopotâmia. Nimrud é património de toda a humanidade, uma história que remonta a 3000 anos”, diz Ghadi.

Fundada no século XIII a.C., Nimrud atingiu o seu apogeu no século IX a.C. e foi a segunda capital do império assírio.

Vídeos de propaganda do EI em 2015 mostraram jihadistas a destruírem monumentos com escavadeiras, golpeando-os com picaretas ou dinamitando-os. Um destes artefactos era o templo de Nabu, o deus mesopotâmico da sabedoria e da escrita, de 2800 anos.

Os combatentes do EI também destruíram o Museu de Mosul e a antiga cidade de Palmyra, na Síria.

No Iraque, o grupo jihadista foi derrotado em 2017 e o projecto de restauração de Nimrud começou no ano seguinte, sendo interrompido pela pandemia de covid-19, mas retomado em 2023.

“Até agora tem sido um processo de recolha, classificação e identificação”, conta Mohamed Kasim, do Instituto de Pesquisa Académica do Iraque.

Segundo ele, 70% do trabalho foi concluído no local do palácio assírio, e ainda resta um ano de trabalho de campo antes que a restauração comece a todo o vapor, advertindo que se trata de uma “operação complexa”.

A sua organização trabalha em estreita colaboração com arqueólogos iraquianos, apoiando os esforços para “resgatar” Nimrud e preservar a sua riqueza cultural.

Segundo o ministro da Cultura do Iraque, Ahmed Fakak al Badrani, a destruição maciça no local tornou impossível, pelo menos por enquanto, determinar quais antiguidades que foram roubadas pelo EI.

De acordo com o ministro, serão necessários 10 anos de trabalho árduo para que as maravilhas do palácio do rei Ashurnasirpal II possam ser vistas novamente na sua totalidade.

O sítio de Nimrud foi escavado pela primeira vez por arqueólogos no século XIX e ganhou reconhecimento internacional pelas imensas figuras de lamassus que foram exibidas no Museu Britânico de Londres e no Louvre em Paris. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “AFP”


Portugal - Os desesperados

Encontrei um homem com cerca de 60 anos de idade a vender a revista ‘Cais’. Iniciámos uma conversa e fiquei abalado. O senhor foi toxicodependente e sem-abrigo a dormir nas ruas de Lisboa durante anos. Foi identificado e enviado para um centro de recuperação da toxicodependência. Recuperou e passou a vender a referida revista.



Transmitiu-me o absurdo que vos quero relatar: há 15 anos que requer à Câmara Municipal de Lisboa uma habitação, nem que fosse uma casinha com apenas um quarto. Há 15 anos que obtém uma resposta que não reúne as condições para a concessão de uma casa. Tem vivido estes 15 anos sem qualquer privacidade e condições mínimas de qualidade numa casa municipal com a sua irmã. Contactámos as autoridades municipais e obtivemos uma resposta de que existem milhares de “desesperados” a solicitar uma casa. Milhares? E todos estes portugueses são a prova de que a Constituição portuguesa não é cumprida há décadas, cuja legislação diz que todo o cidadão tem direito a uma casa.

Continuamos a ver pelas ruas de Lisboa um número crescente de sem-abrigo. Muitos não são toxicodependentes. Quando dobram os cobertores que lhes foram oferecidos por pessoas sensíveis a este drama, caminham para um trabalho. É no local de trabalho que ingerem algum alimento, que se lavam e que fazem as suas necessidades. Mas trabalham e acabado o horário de trabalho regressam ao local onde têm alguns cartões no chão e os cobertores a marcar o lugar. Isto, é chocante.

O Governo fala demagogicamente em resolver o problema da habitação, mas o que temos visto é a autorização para a construção de condomínios de luxo. Onde está o uso dos muitos milhares de milhões de euros do PRR vindos da União Europeia? Onde está a construção de bairros sociais com dignidade, onde existam centros de saúde, correios, creches, supermercados e jardins infantis? Onde está o anúncio governamental da construção de casas de renda acessível para cidadãos sem residência e de baixos recursos financeiros? O partido Bloco de Esquerda ainda na semana passada, no Parlamento, requereu ao Governo que informasse qual o plano de habitação futura, algo que já solicitou várias vezes. Possivelmente não obterá resposta porque a preocupação do Governo é o aeroporto de Alcochete, é as várias vias-férreas de TGV, é a cedência de terrenos baldios para a construção de condomínios de rendas impossíveis de serem pagas por gente pobre e é a privatização da TAP.

O país não pode continuar a fingir que não vê a realidade da falta de habitação para estudantes e para pobres. É urgente que tomemos conhecimento oficial da construção de quantas habitações com o fim de serem cedidas a arrendatários de baixos recursos. Viver na rua é doloroso, é chocante, é desumano, é injusto, é ilegal e é acima de tudo uma falta do cumprimento da Constituição. O Governo não pode continuar a aceitar que centenas de oportunistas explorem estudantes universitários e fujam ao fisco. Existem centenas de casos em que esses indivíduos têm uma casa de sete quartos, com duas casas de banho, e seis estão alugados a estudantes ao preço de 500 euros cada, ou seja, têm um rendimento mensal líquido de três mil euros sem passar recibo.

O Orçamento do Estado insere milhões de euros para acções supérfluas e isto não pode acontecer. Primeiramente está o nível de vida decente dos portugueses, muito antes de enviar milhões de euros para a Ucrânia. Os “desesperados” são aos milhares e aguardam que lhes seja dada uma casa há mais de uma década. Ministros e autarcas não têm vergonha desta situação? Não lhes dói o coração ao saberem que os seus semelhantes dormem na rua? As autoridades governamentais vivem com a consciência tranquila ao saberem que milhares de portugueses precisam de uma casa e nada fazem para resolver o problema? Muito recentemente num bairro de Lisboa foi inaugurado um edifício de quatro andares com várias fracções em cada piso. Uma construção de qualidade. Quando os alicerces tiveram o seu início nós próprios dirigimo-nos à edilidade lisboeta para nos inscrevermos e requerermos pertencer à possibilidade de obter nesse edifício uma fracção, já que tinha sido anunciado pela edilidade que o referido edifício seria para rendas acessíveis. Terminou a obra e o edifício está ocupado por moradores que entram na garagem do prédio com carros de topo de gama, como BMW, Tesla e Volvo. Os amigos leitores acham que as fracções foram concedidas a lisboetas com baixos rendimentos? Não. Segundo as nossas fontes, foram residir para o prédio em questão somente amigos de alguns directores da Câmara Municipal. Neste sentido, nunca os pobres irão ter uma casa minimamente digna.

Em Julho do ano passado, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, anunciou que Lisboa tinha 3378 pessoas em situação de sem-abrigo na cidade e que dessas, 594 não tinham tecto. E em seis meses que, entretanto, passaram, quantas casas foram construídas para todos esses cidadãos? Na altura, Moedas fez-nos rir de assombro quando adiantou que a edilidade iria “gastar cerca de 70 milhões de euros até 2030 com o aumento das vagas de acolhimento para sem-abrigo”. Até 2030? Isto, é gozar com o pagode. Sete anos para arranjar “vagas de acolhimento”? Uma média de 10 milhões de euros por ano? Sejamos sérios e realistas e indagamos o que é que se constrói com 10 milhões num ano? E é este mesmo edil que na semana passada teve a preocupação imediata de arrasar com Alexandra Leitão, assim que a mesma foi anunciada como candidate do Partido Socialista à Câmara Municipal de Lisboa, titulando-a como uma política radical muito próxima do Bloco de Esquerda. Obviamente, que enquanto um edil se comportar como apoiante de um Governo, não existirá a preocupação de construir casas para pobres. E os “desesperados” que continuem à espera que uma casa caia do céu… André Namora – Portugal in “Hoje Macau”


domingo, 19 de janeiro de 2025

Madagáscar - Aye-aye, o maior primata noturno do mundo

O Aye-aye (Daubentonia madagascariensis) é um lémure raro nativo de Madagáscar.



Este lémure é o maior primata noturno do mundo, caracterizado pelas suas características ligeiramente bizarras, que incluem dentes semelhantes a roedores que crescem perpetuamente e um dedo médio especial que é longo, fino e quase esquelético.

Os Aye-Aye também são conhecidos pelo seu ritual de alimentação altamente incomum chamado ‘forrageamento percussivo’.

Este lémure bate nas árvores para localizar larvas e, em seguida, abre um buraco na madeira, utilizando os seus incisivos inclinados para a frente. Uma vez que um pequeno buraco tenha sido roído na árvore, o animal inserirá o seu longo dedo médio e puxará as larvas.

Os Aye-aye são encontrados principalmente em florestas tropicais ou florestas decíduas, embora alguns tenham se adaptado a viver em regiões cultivadas que resultaram da desflorestação. Passam a maior parte da sua vida no alto das árvores, perto do dossel.

Os Aye-ayes jovens são geralmente cinzentos, com uma faixa nas costas. A sua cor muda à medida que amadurecem e tornam-se castanhos ou pretos, com pontas prateadas e brancas e manchas de pelo. Um Aye-aye adulto normalmente mede cerca de 90cm de comprimento, enquanto a sua cauda é espessa e tão longa quanto o seu corpo.

A dieta dos Aye-aye sugere que é um onívoro, pois come muito mais do que apenas larvas. Também comem frutas, sementes, néctar e fungos.

Atualmente, o Aye-aye é classificado como ameaçado de extinção, devido à perda de habitat das suas florestas e porque os locais os consideram “maus” e muitas vezes matam-nos se os encontrarem. In “Green Savers” - Portugal


África - A colossal barragem que pode ‘destruir’ uma nação milenar e secar o maior rio do mundo

Não há um país no mundo que dependa tanto de um rio como o Egipto do Nilo: e num mundo cheio de conflitos, o grande medo do Cairo não é um exército estrangeiro ou terroristas, mas sim a água, em particular uma possível escassez. Essa preocupação é real há pouco mais de uma década, isto porque, no coração do Nilo Azul, nas terras altas da Etiópia, está a Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD), uma obra monumental que encarna as aspirações de desenvolvimento de um país e, ao mesmo tempo, o epicentro das tensões geopolíticas entre duas potências regionais que agora estão ‘condenadas’ a entender-se.



Este titã de betão, com uma capacidade de armazenamento de 74 mil milhões de metros cúbicos e uma potência hidroelétrica de 6450 megawatts, promete transformar a economia etíope, mas ao mesmo tempo ameaça perturbar o delicado equilíbrio abastecimento de água do Nilo, o rio que tem sido a força vital do Egipto durante milénios.

O arranque dos trabalhos neste colossal projeto deu-se em 2013, sendo que a tensão entre Egipto e Etiópia já era palpável: afinal, tratam-se de duas das maiores e mais populosas economias de África – o Cairo solicitou veementemente a interrupção das obras, uma vez que boa parte dos seus 112 milhões de habitantes necessitam do rio Nilo – e do seu caudal atual – para viver. A Etiópia defendeu que precisa da barragem para gerar a energia de que os seus 126 milhões de habitantes necessitam.

No final de 2023, a Etiópia anunciou com grande orgulho que o enchimento da barragem tinha sido concluído, ultrapassando obstáculos e enfrentando duras ameaças do Egipto e do Sudão, que temem que a barragem afete os níveis das águas do Nilo. Exigiram que Adis Abeba, a capital da Etiópia, deixasse de as encher até que se chegasse a acordo sobre os mecanismos para o fazer. Não só o enchimento foi concluído, como em 2024 a construção foi concluída e foram acionadas duas turbinas, com capacidade para gerar 400 megawatts cada. Estas turbinas juntaram-se a outras duas já em funcionamento, que geraram 375 megawatts cada, perfazendo um total de 1550 megawatts.

A GERD é a maior barragem de África e já está entre as maiores do mundo. O seu muro de 145 metros de altura e 1,8 quilómetros de comprimento, frisou a publicação espanhola ‘El Economista’, é um colosso concebido para gerar electricidade suficiente para abastecer toda a Etiópia e exportar energia para os países vizinhos. Para Adis Abeba é um símbolo de orgulho nacional e de autossuficiência, para o Cairo um risco existencial.

“Para os egípcios, a construção da barragem é uma questão que ameaça a sua existência: um dos exemplos mais claros de um país que é prisioneiro da geografia. O Nilo é a força vital do país e do seu povo”, indicou o escritor e especialista em geografia e geopolítica, Tim Marshall. Ou seja, se a Etiópia decidir fechar a torneira por necessidade ou por ameaça, isso poderá significar o fim do seu vizinho. “Não é que a Etiópia pretenda fechá-la completamente, mas terá capacidade para o fazer”, sustentou o especialista, algo mais do que suficiente para manter os egípcios acordados durante a noite.

“O Egipto é um país em grande parte desértico, pelo que 95% dos seus 112 milhões de habitantes vivem nas margens do delta do rio. O Cairo teme que a mera retenção de 10% da água, por apenas alguns anos, deixe desempregados cinco milhões de agricultores, reduzir a produção agrícola para metade e desestabilizar ainda mais o país”, afirmou Marshall.

Conflito faraónico

A tensão entre a Etiópia e o Egipto sobre o controlo do Nilo não é nova. Desde os tempos faraónicos que as águas deste rio têm sido alvo de disputas e alianças. No entanto, a Grande Barragem levou esta questão a um nível febril. As negociações, mediadas por organizações internacionais e países vizinhos, têm progredido lentamente, com acordos temporários que não respondem às preocupações fundamentais de cada nação.

A Etiópia insiste que tem o direito de utilizar os recursos hídricos para o seu desenvolvimento, referindo que mais de 60% da sua população não tem acesso à eletricidade. O Egipto, por seu lado, exige garantias de que o enchimento e o funcionamento da barragem não comprometerão as suas necessidades de água, especialmente durante os períodos de seca.

Neste complexo panorama, o Sudão desempenha um papel crucial como país intermediário entre a Etiópia e o Egipto. Embora o Sudão possa beneficiar desta grande barragem através de um melhor controlo das cheias e de eletricidade mais barata, também teme os efeitos adversos da gestão unilateral da água por parte da Etiópia.

A diplomacia tentou atenuar estas tensões, mas com resultados limitados. As Nações Unidas, a União Africana e países como os Estados Unidos mediaram as negociações, mas os acordos alcançados até agora foram frágeis e temporários. O Egipto alertou que “todas as opções estão em cima da mesa” se não for garantido um caudal de água adequado, o que inclui implicitamente a possibilidade de conflito armado. In “Executive Digest” - Portugal


Não importou que ficasse










Vamos aprender português, cantando


Não importou que ficasse


Não importou que ficasse

não importou que estivesse

sem asas brancas chegaste

sem asas brancas vieste

 

Desarmado na chegada

sem defesas no sentir

silêncio. Casa arrumada.

Insónia pronta a servir.

 

Tão vazio quanto podia

tão sem nada que enganasse

não importa o que seria

não importou que ficasse.

 

Não importou que ficasse

não importou que estivesse

sem asas brancas chegaste

sem asas brancas vieste

 

Não importou que ficasse

não importou que estivesse

sem asas brancas chegaste

sem asas brancas vieste


Só queria que reparasses

se não estivesse por perto

sem asas brancas chegaste

partimos sem espaço aberto.

 

Tão vazio quanto podia

tão sem nada que enganasse

não importa o que seria

não importou que ficasse.


Não importou que ficasse

não importou que estivesse

sem asas brancas chegaste

sem asas brancas vieste


Não importou que ficasse

não importou que estivesse

sem asas brancas chegaste

sem asas brancas vieste


Não importou que ficasse

não importou que estivesse

sem asas brancas chegaste

sem asas brancas vieste


Duarte - Portugal


sábado, 18 de janeiro de 2025

Moçambique - Família de Malangatana pede ajuda para lançar um projecto para honrar o ícone da arte moçambicana

A família do Malangatana anunciou um ousado projecto para imortalizar o legado de um dos maiores artistas de Moçambique. Em 2026, ano que marcará o 90º aniversário de Malangatana Valente Ngwenya, será inaugurado o Centro de Interpretação Digital Malangatana, em Matalana, sua terra natal.



O espaço reunirá obras, arquivos e materiais históricos em formato digital, oferecendo acesso global ao vasto legado artístico do pintor, escultor, poeta e activista que marcou profundamente a cultura moçambicana e a arte africana contemporânea.

O anúncio foi feito por Mutxhini Ngwenya, filho do artista, que já iniciou a colecta do acervo que comporá o centro. Ele destacou que a iniciativa procura preservar e expandir o alcance do impacto cultural de Malangatana. “Esperamos que cidadãos de qualquer parte do mundo possam mergulhar na grandiosidade da sua obra e história”, afirmou.

A família também fez um apelo ao público e a entidades culturais para apoiar a realização do projeto, fundamental para perpetuar a memória de Malangatana, cujo talento é reconhecido em múltiplas linguagens artísticas, desde pintura, cerâmica e escultura até poesia, música e teatro.

Um Legado de Inspiração Malangatana, que começou a sua trajectória como apanha-bolas, foi incentivado ao desenho e à pintura por figuras como Augusto Cabral e Pancho Miranda Guedes. Ele realizou a sua primeira exposição em 1959 e tornou-se um nome celebrado em exposições nacionais e internacionais após a independência de Moçambique.

Além de sua carreira artística, ele desempenhou papéis políticos como deputado da Frelimo e recebeu inúmeras honrarias, como a medalha Nachingwea, o título de “Artista pela Paz” da UNESCO, e o doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Évora.

O centro promete ser um marco na preservação da arte e da história cultural de Moçambique, celebrando a vida de um homem que foi, e continua sendo, um símbolo da resistência, da criatividade e da humanidade.

A família reforça o convite para que todos participem desta jornada histórica, garantindo que o espírito de Malangatana continue a inspirar gerações. In “Moz Entretenimento” - Moçambique


Angola – Confluência entre literaturas abordada na União dos Escritores Angolanos

A escritora afro-brasileira Rosália Diogo, como oradora principal de mais uma edição da tradicional Maka à Quarta-Feira, dissertou a problemática do tema "Diálogos, confluências entre a literatura angolana e brasileira”, realizada na União dos Escritores Angolanos (UEA), em Luanda



A actividade contou com as participações do escritor Akiz Neto, que esteve na mesa da presidência e as poetisas Isabel Santos e Kanguimbo Ananás. Segundo Rosália Diogo, a confluência literária entre o continente africano e o Brasil, está directamente ligada a Angola.

A escritora que se encontra pela primeira vez no país, considera-se uma africana na diáspora, que se apresenta como afro-brasileira. Para a oradora, é incontornável que se reafirme as confluências literárias, porque poucos conhecem a cultura africana por via das letras.

No primeiro dia de Janeiro de 2003, no mandato do Presidente, Luís Inácio Lula da Silva, disse, tinha instituído várias leis que previam o estudo da História de África e da cultura afro-brasileira nos currículos escolares no território brasileiro.

De acordo com a escritora, na época, a decisão de Lulas da Silva foi vista como uma medida revolucionária, porque o Brasil “é um país extremamente racista”, afirmou Rosália Diogo. "No Brasil, só são conhecidos escritores mais antigos, como Agostinho Neto, Pepetela e Gabriela Antunes e outras poucas obras, devido ao intercâmbio que alguns escritores brasileiros tiveram com autores angolanos, como Elsa Barber, Marta Santos e Sara Fialho.” Ao iniciar a sua intervenção, Rosália Diogo, rendeu uma homenagem ao poeta e Primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, como um dos escritores mais conhecido no Brasil, pelo seu desempenho político directo na luta de libertação nacional angolana”.

Rosália Diogo é professora, escritora e jornalista. Tem uma ampla experiência em jornalismo, literatura e psicologia social. Graduada em jornalismo pela Universidade de Belo Horizonte, é autora dos livros "Mídia e Racismo" e "Rasuras no espelho de Narciso", além de co-autora de obras sobre racismo, em parceria com académicos de Moçambique, Portugal e Brasil. Amilda Tibéria – Angola in “Jornal de Angola”


Macau - Ex-vice-reitor da Universidade Chinesa de Hong Kong defende que a Região deve explorar vantagem negocial com os países de língua portuguesa

Lawrence J. Lau, ex-vice-reitor da Universidade Chinesa de Hong Kong, diz que Macau deve aproveitar as vantagens legais para alargar o volume de negócios com os países de língua portuguesa



Lawrence J. Lau, ex-vice-reitor da Universidade Chinesa de Hong Kong, diz que Macau deve aproveitar as vantagens legais para alargar o volume de negócios com os países de língua portuguesa.

Em declarações à Rádio Macau, à margem de uma palestra na Universidade de Macau sobre a "China na Economia Global", Lawrence J. Lau afirmou que a RAEM é mais uma porta aberta ao exterior.

«Nos países de língua portuguesa não se aplica a Commun Law, ou seja, o sistema jurídico usado em países de língua inglesa. Portanto, Macau tem de facto essa vantagem única. E penso que essa é uma vantagem que pode ser explorada por Macau a longo prazo, nomeadamente através da vinda de estudantes brasileiros e portugueses à RAEM para aprenderem sobre a China. Não só sobre o país mas também aprenderem a própria língua. Para eles será mais fácil aprender chinês em Macau do que em Hong Kong. Acho que essa é uma vantagem substancial», apontou o economista.

O professor acrescentou ainda que em Macau «é possível fazer muitas coisas que não se podem fazer no interior da China» e que a região deve aproveitar «as vantagens únicas porque não está limitada por muitas das leis».

O académico abordou ainda o eventual impacto das tarifas que Donald Trump quer aplicar a produtos chineses. Para Lawrence J. Lau, essa posição pode ser inconsequente na economia chinesa.

O professor diz mesmo que, «se as exportações da China para os EUA parassem por completo, o impacto máximo no PIB da China seria cerca de 1 por cento». In “TDM” Rádio Macau - Macau


Cabo Verde - Fika Preta lança batuku "Mocindade"

Fika Preta reforça o batuco em "Mocindade"



Fika Preta lançou o videoclipe do tema musical "Mocindade", uma canção no ritmo de batuco que destaca as suas raízes culturais e identidade cabo-verdiana.

Fika Preta é mãe do renomado artista cabo-verdiano Tony Fika e este lançamento marca um momento especial na sua trajetória musical, trazendo um forte apelo à valorização da juventude e das tradições culturais do arquipélago. In “Dexam Sabi” – Cabo Verde


sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Angola - Escritor Erich Santos lança “Um novo amanhecer - O poder de um sonhador”

O escritor Henriques Santos Pefico, com pseudónimo literário de Erich Santos, vai lançar no próximo dia 24 deste mês, a primeira obra literária intitulada: “Um novo amanhecer - O poder de um sonhador”



Segundo Erich Santos, que falava ao Jornal de Angola, a obra trata-se de um romance que retrata um jovem artista plástico, cheio de sonhos, que se encontrava numa realidade diferente da que desejava, uma vez que os objectivos estavam a ser aniquilados diariamente.

O escritor disse, igualmente, que no dia do lançamento estarão disponíveis 100 exemplares, uma quantidade que será reeditada, em função da procura no mercado, para que chegue a todos.

Com mais de 160 páginas, a obra literária será vendida no Centro Cultural Rui Monteiro. Estácio Camassete – Angola in “Jornal de Angola”


Timor-Leste - Eleições municipais poderão começar a partir de 2027

O primeiro-ministro timorense disse que foi aprovado o calendário para estabelecer o poder local no país e que as eleições municipais devem realizar-se a partir de 2027, mas apenas nos municípios que estiverem preparados.   “O Conselho de Ministros aprovou na quarta-feira uma resolução que estabelece um calendário para a preparação das eleições para as autoridades locais”, afirmou Xanana Gusmão aos jornalistas no final do encontro semanal com o Presidente timorense, José Ramos-Horta



O chefe do executivo timorense explicou que as eleições municipais não serão feitas ao mesmo tempo em todos os municípios, mas apenas naqueles que possuem “estrutura com capacidade técnica e conhecimento adequado para cumprir corretamente as regras”.

Xanana Gusmão disse que em março vai iniciar visitas aos municípios do país para começar a fazer uma análise sobre quais estão preparados. “O Governo pretende realizar entre 2025 e 2026 uma preparação cuidadosa para que em 2027 se possa iniciar a realização das eleições para as autoridades locais em algumas localidades. Este processo vai continuar em 2028”, salientou o primeiro-ministro.

O Conselho de Ministros aprovou quarta-feira uma resolução apresentada pelo ministro da Administração Estatal, Tomás Cabral, para a execução da “Estratégia de Descentralização Administrativa e de Instalação dos Órgãos Representativos do Poder Local 2025-2028”.

A resolução estabelece planos anuais, para este ano e até 2028, que “incluem a instalação de serviços de Balcão Único em todo o território nacional, o fortalecimento institucional das autoridades municipais, a regulamentação das leis relacionadas com o poder local e a atualização da base de dados do recenseamento eleitoral”, pode ler-se no comunicado do Conselho de Ministros. “Em etapas subsequentes será promovida a criação de condições para a realização de eleições municipais, a capacitação de autarcas eleitos e a avaliação do progresso da descentralização”, acrescenta o Conselho de Ministros. In “Ponto Final” - Macau


Itália - Arqueólogos de Pompeia encontram complexo de spa privado 'único num século' ao lado de salão de banquetes

A descoberta extraordinária revela como as casas da elite romana eram muito mais do que apenas residências particulares: eram grandes palcos para arte, cultura e networking político



Arqueólogos em Pompeia descobriram um dos maiores complexos de spa privados da cidade, conectado a um luxuoso salão de banquetes no distrito Regio IX.

A descoberta notável, localizada na ínsula 10, oferece um raro vislumbre de como os romanos ricos misturavam lazer, arte e ambição política nas suas casas.

"Tudo era funcional para a encenação de um 'espetáculo', no centro do qual estava o próprio dono", ressalta o diretor de Pompeia, Gabriel Zuchtriegel.

"As pinturas do estilo III com temas da Guerra de Troia, os atletas no peristilo – tudo tinha que dar aos espaços uma atmosfera de grego, isto é, de cultura, erudição e também de ociosidade."

O complexo de spa recém-descoberto compreende o clássico trio romano de salas termais - calidarium (quente), tepidarium (morno) e frigidarium (frio) - juntamente com um espaçoso apodyterium (vestiário).

Capaz de hospedar até 30 hóspedes, os banhos apresentavam um frigidarium de tirar o fôlego, a joia da coroa do complexo. Esta grande sala fria é composta por um pátio peristilo de 10 por 10 metros ao redor de uma grande piscina.

A proximidade dos banhos termais ao salão de banquetes — apelidado de "Salão Negro" pelas suas elegantes paredes pretas decoradas com temas mitológicos — ilustra o papel fundamental do banho e da refeição na vida social romana.

Zuchtriegel observa: "O público, grato e faminto, teria aplaudido com sincera admiração o show orquestrado pelo anfitrião e, depois de uma noite no seu "ginásio", teria falado sobre ele por um longo tempo."

As paredes da casa apresentam afrescos nos Segundo e Terceiro Estilos Pompeianos, incluindo temas da Guerra de Troia. Essas pinturas, junto com representações de atletas no peristilo, evocavam a sofisticação intelectual de um ginásio grego, um estilo muito popular entre a elite romana.

Outras descobertas recentes feitas em Pompeia

O opulento balneário é uma das muitas descobertas feitas na extraordinária residência.

No ano passado, o salão de banquetes preto adjacente com as suas impressionantes obras de arte clássicas foi escavado. As paredes do salão foram pintadas de preto, "para evitar que a fumaça das lâmpadas nas paredes fosse vista. Aqui, as pessoas reuniam-se para festejar depois do anoitecer, a luz bruxuleante das lâmpadas de óleo fazia as imagens parecerem-se mover, especialmente depois de algumas taças de bom vinho da Campânia", explicou Zuchtriegel.

Além disso, uma sala menor e mais íntima pintada em azul suave foi encontrada, interpretada pelos investigadores como um santuário, ou um espaço dedicado a atividades rituais e ao armazenamento de objetos sagrados. As impressionantes paredes de fundo azul são decoradas com figuras femininas representando as quatro estações e representações alegóricas da agricultura e pastorícia, de acordo com especialistas.

Além disso, adjacente a este espaço, foi feita uma descoberta trágica: os restos mortais de duas vítimas de Pompeia que foram seladas por cinzas vulcânicas e lava durante a erupção do Monte Vesúvio, prendendo-as e levando-as à morte. Euronews


Irlanda - Dulce Maria Cardoso nomeada para Prémio Literário de Dublin com romance "Eliete"

A escritora portuguesa Dulce Maria Cardoso está nomeada para o Prémio Literário de Dublin com o seu romance "Eliete - A vida normal", o único candidato lusófono entre os 71 livros escolhidos para a 'longlist' do galardão, anunciou a organização



Dulce Maria Cardoso é nomeada com a tradução de Ángel Gurría-Quintana para inglês de "Eliete", o último romance da autora, publicado em 2018 pela Tinta-da-China, que venceu o Prémio Oceanos em 2019 e foi finalista do Prémio Femina em 2020.

“Eliete – A vida normal” centra-se numa mulher de meia idade, caracterizada pela mediania em tudo, casada e mãe de duas filhas, agente imobiliária, que se sente insatisfeita com a vida e com o casamento, e que, na procura de mudança – vontade desencadeada na sequência da hospitalização da avó, com sinais de Alzheimer – vira-se para as conquistas através da Internet e das redes sociais, que no romance têm um papel central.

A obra foi indicada ao prémio de Dublin pelas Bibliotecas de Lisboa, de acordo com o comunicado da organização, a cargo do município de Dublin.

Este prémio literário tem um valor monetário de 100 mil euros, que é classificado como o maior montante atribuído a um livro de ficção publicado em inglês num dado ano. Se o livro for traduzido, o autor recebe 75 mil euros e o tradutor os restantes 25 mil.

A lista dos 71 nomeados por bibliotecas de 34 países inclui 26 obras traduzidas e 16 romances de estreia, indica a organização.

O júri é presidido pelo professor universitário Chris Morash e composto por Gerbrand Bakker, Martina Devlin, Fiona Sze-Lorrain, Leonard Cassuto e Nidhi Zak/Aria Eipe.

O próximo passo será a escolha dos finalistas, cujos nomes serão conhecidos no dia 25 de março, e, finalmente, o livro vencedor será anunciado pela presidente da Câmara Municipal de Dublin, Emma Blain, no dia 22 de maio de 2025, no âmbito do Festival Internacional de Literatura da cidade. In “Sapo Mag” – Portugal com “Lusa”


quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Angola - Antologia infantil apela aos direitos das crianças

A antologia infantil “A flor que desabrocha”, adaptada numa das frases da escritora Ombembwa, que apela aos direitos fundamentais das crianças, vai ser apresentada, amanhã, 17, às 11h00, na Escola Primária Explicação e Ensaio, em Luanda, numa iniciativa da AMMA Editora e do escritor Onjila Yolondunge Ferreira



A antologia, composta por contos e poemas, foi escrita por 20 escritores menores de 17 anos, com destaque para Ombembwa, Poeta Zinho, Haniel, Mirian Bela, Poeta Mahini, Li Panguila, Line Manuel, Kayla Pungi, Ana Benga, Biltánia, que estuda na Namíbia, e Andrea Teta, que vive em França.

A colectânea centra-se na reivindicação dos direitos das crianças, desde a vida, habitação, alimentação, família, entre outros plasmados na Declaração Universal e nos 11 Compromissos sobre a Criança.

O projecto surge da necessidade de alertar os pais e encarregados de educação, os quais têm o dever primário de educar e ensinar a sociedade civil, a quem é dado toda a responsabilidade de acompanhar o futuro e ao Governo que tem a responsabilidade de criar políticas de protecção e apoio à criança.

A antologia, a ser apresentada pelo escritor John Bella, conta com o prefácio de Yola Castro, ambos pertencentes à mesa de leitura do referido projecto, e da jornalista Madalena Santiago, mestre de cerimónia. A actividade vai contar, também, com um momento cultural com poesia. Maria Hengo – Angola in “Jornal de Angola”


O cessar-fogo entre Israel e o Hamas

Diante da divulgação do acordo de cessar-fogo entre Israel e a organização islâmica Hamas, governante da Faixa de Gaza, o teletexto da televisão suíça RTS publicou: "o Corpo de Guardas da Revolução Islâmica do Irão saudou uma vitória para os palestinos e uma derrota ainda maior para Israel". Mas as demonstrações de alegria e júbilo demonstradas pela população de Gaza ao anúncio do cessar-fogo, talvez mostrem terem sido vítimas de um projeto insensato do Hamas, no qual não se previu a violência da resposta israelense.

Não cabe aqui uma discussão filosófica ou política sobre os conceitos de vitória ou derrota, mas apenas uma constatação prática - depois de 470 dias de guerra, a Faixa de Gaza foi destruída, morreram 46 mil pessoas segundos os cálculos do próprio movimento Hamas, mais de 135 mil, segundo cálculos da ONU levando em conta as mortes ligadas à situação de guerra na região, e, de acordo com rumores sobre exigências do novo secretário de Estado norte americano Marco Rubio, está a de se privilegiar a Autoridade Palestina da OLP, no controle da região de Gaza, e não mais o Hamas, após o cessar-fogo ou, um pouco mais além, após o fim dessa guerra.

Ainda no fim do ano, o secretário-geral da ONU deplorava a situação existente na região de Gaza, transformada num cemitério para as crianças e clamava pela necessidade urgente de um cessar-fogo humanitário.

Há uma semana, o comissário-geral da ONU, Philippe Lazzarini, responsável pela administração da UNRWA, agência onusiana encarregada da proteção dos refugiados palestinos, publicou um alerta, no The Guardian, reproduzido por outros jornais, alertando quanto às consequências do fechamento da sede da entidade, considerada fora da lei e acusada de cumplicidade com o Hamas. Isso significa, sendo ele, o abandono do apoio à população palestina em Gaza e fechamento das escolas.

Um relatório hoje divulgado afirma serem necessários 15 anos para se reconstruir Gaza a um custo de 50 bilhões de dólares.

O acordo de cessar-fogo prevê uma trégua de sete semanas e a libertação pelo Hamas de 33 reféns, seguindo-se uma libertação gradativa dos 61 outros, retidos nos subterrâneos ou com famílias palestinas. Em contrapartida, Israel libertará cerca de mil palestinos presos.

A sequência desse acordo parece extremamente frágil, assim como as últimas tratativas antes do domingo, quando estão previstas as primeiras libertações de reféns israelenses.

Uma boa interpretação sociológica e política deste momento atual é dada pelo livro Le Bouleversement du Monde - l´Après 7 Octobre, do professor Gilles Kepel, ex-Sciences Po, de Paris. De origem tcheca, tendo aprendido o árabe, viveu anos no Oriente Médio e publicou 18 livros, dedicados inicialmente ao islamismo e às paixões religiosas responsáveis pelo ataque do 11 de setembro, em Nova York, e pelo massacre dos jornalistas do jornal satírico Charlie Hebdo.

Kepel foi dos primeiros a denunciar a islamização da esquerda e, no seu último livro, trata da emergência do Sul Global. 

Para ele, o pogrom ou razzia cometido pelo Hamas levou à hecatombe dos palestinos em Gaza e, nestes meses de guerra, revirou a ordem mundial consequente da Segunda Guerra Mundial. Kepel discute como a extrema-esquerda do "woke" e do Sul Global se confundem numa polarização identitária com o populismo de extrema-direita, enquanto o termo "genocídio", usado para designar o crime do qual foram vítimas os judeus, passou a ser usado contra Israel.

Talvez essa a única "vitória" do Hamas na guerra que desencadeou, sem imaginar que provocaria o sacrifício do seu próprio povo palestino: a de ter relançado nos nossos dias o ódio religioso antissemita dos séculos passados contra os judeus. Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.