O Supremo Tribunal Federal vota contra a teoria do “Marco Temporal”, ampliando as possibilidades de demarcação de territórios indígenas. O Escritório de Direitos Humanos da ONU considera a medida importante para impedir a continuidade do que considera “injustiças históricas” sofridas por esta população
O alto-comissário
de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, classificou como “muito encorajadora”
uma recente decisão do Supremo Tribunal Federal do Brasil, STF, a favor de um
caso accionado por povos indígenas.
Através
de mensagem transmitida pela porta-voz, Marta Hurtado, o chefe dos Direitos
Humanos ressaltou que a decisão é importante para impedir a continuidade de
injustiças contra esta população.
Superação de injustiças históricas
A
determinação considerada histórica, tomada por nove dos 11 ministros do STF,
foi contra o chamado argumento do "Marco Temporal".
De
acordo com essa teoria jurídica, os povos indígenas que não viviam em suas
terras ancestrais em 1988, quando a atual Constituição do Brasil foi aprovada,
estariam impedidos de solicitar a demarcação das suas terras.
Hurtado
disse que “limitar a demarcação dessa forma teria consequências extremamente graves,
incluindo impedir que essas comunidades retornassem às terras das quais haviam
sido expulsas e desfrutassem dos direitos humanos associados. Também teria
perpetuado e agravado injustiças históricas sofridas pelos povos indígenas do
Brasil.”
Novos obstáculos no Congresso
Segundo
ela, o STF deve deliberar ainda sobre a questão da indemnização para aqueles
que adquiriram terras indígenas de boa-fé.
De
acordo com a porta-voz, o Alto Comissariado pede uma rápida resolução desta
questão, destacando que é importante que o acesso efetivo dos povos indígenas
às suas terras não seja impedido.
Hurtado
afirmou que a entidade está preocupada com o facto de que um projeto de lei
está sendo discutido no Congresso, que procura estabelecer por meio de
legislação a mesma restrição temporal que foi rejeitada pelo STF. O projeto de
lei também inclui outros obstáculos aos processos de demarcação de terras
indígenas.
Proteção contra a violência
O
Escritório de Direitos Humanos ressalta que, embora a demarcação de terras
ancestrais seja essencial, “não é suficiente por si só para proteger de forma
abrangente os direitos dos povos indígenas.”
O
órgão afirma que é preciso haver “uma política ativa e sistémica para proteger
os povos indígenas da violência, incluindo a violência realizada por aqueles
que invadem ilegalmente suas terras.”
Segundo
o Escritório, a clara necessidade de tal política é ressaltada por exemplos
recentes de violência infligida por garimpeiros ilegais aos povos indígenas
Yanomami, no estado de Roraima, num território que foi demarcado como terra
indígena há mais de três décadas. ONU News – Nações Unidas
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