Foi em Igarassu, no estado brasileiro de Pernambuco, que uma equipa de cientistas redescobriu uma espécie de azevinho (Ilex sapiiformis) que há 186 anos não era avistada e que, por isso, se pensava estar extinta na Natureza.
Esse
foi o resultado de uma investigação científica, liderada pelo ecólogo Gustavo
Martinelli, que se apoiou na análise de espécimes antigos e em registos de
avistamentos do último meio século.
Depois
de seis dias em buscas no terreno, a equipa, no passado dia 22 de março,
encontrou, por fim, quatro árvores de I. sapiiformis, numa área que em
tempos fora mata atlântica, mas que agora é dominada por uma paisagem
predominantemente urbana intercalada com plantações de cana-de-açúcar.
Pensava-se
que esta espécie de azevinho teria mesmo sucumbido à extinção, mas não havia
ainda evidência científicas incontornáveis que o confirmassem. Por isso, foi
incluída na lista das espécies de animais e plantas perdidas mais procuradas
pelos especialistas do projeto global ‘Search for Lost Species’, uma iniciativa
da Re:wild e da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Desde
que o projeto arrancou em 2017 já foram redescobertas nove espécies que se
pensava terem desaparecido para sempre.
Embora
a redescoberta da I. sapiiformis dê alguma esperança aos botânicos e
ecólogos, pois, afinal, a espécie não está extinta, Martinelli avisa que não é
motivo para respirar de alívio. “Pode estar à beira da extinção, porque, pelo
que sabemos, só existem quatro indivíduos da espécie”, afirma, citado em nota
da Re:wild, acrescentando que o quarteto sobrevivente se encontra numa “área de
floresta ripícola degradada, apesar de estar protegida por lei”.
Exemplares
da I. sapiiformis foram recolhidos pela primeira vez em 1838, pelo
naturalista George Gardner, tendo a espécie sido oficialmente descrita 25
depois por Siegfried Reissek. Pensava-se que a coleção de Gardner era o único
avistamento confirmado da espécie, mas a análise de espécimes de coleções no
Brasil revelou dois espécimes de I. sapiiformis que não tinham sido
identificados: um recolhido em 1962 e outro em 2007.
Cruzando
os registos históricos com os espécimes recolhidos, a equipa conseguiu
redescobrir uma espécie vegetal que se pensava ter desaparecido completamente.
“Encontrar
uma espécie da qual não se ouvia falar há quase 200 anos não é algo que
aconteça todos os dias”, confessa Juliana Alencar, outra das investigadoras
envolvidas nesta demanda.
Segundo
informações divulgadas pela Re:wild, os quatro espécimes estão a ser
acompanhados de perto por especialistas do Jardim Botânico do Recife, que todas
as semanas regressam ao local onde foram encontrados. O objetivo é recolher
sementes dessas árvores e plantar novos indivíduos para ajudar a recuperar a
espécie.
E
o trabalho não está terminado. A equipa pretende continuar a procura por outros
indivíduos remanescentes de I. sapiiformis, e criar um programa de
reprodução em cativeiro da espécie.
“Mesmo
quando uma planta não tem avistamentos confirmados em 186 anos, pode, ainda
assim, subsistir nos últimos vestígios do seu habitat natural algures, e esta
árvore é um excelente exemplo da importância de continuar a procurar”, salienta
Christina Biggs, do programa de espécies protegidas da Re:wild. Filipe
Rações – Portugal in “Green Savers”
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