Mais de 40 países assinaram esta quarta-feira o Tratado do Alto Mar à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque
Portugal,
através do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, foi um dos
primeiros países a assinar o Tratado.
O
facto é salientado em comunicado pela Fundação Oceano Azul, que congratula o
Governo português e a comunidade internacional pela assinatura.
O
Tratado do Alto Mar, resultado de quase 20 anos de discussões, tem como
objetivo a conservação e utilização sustentável da biodiversidade marinha. É um
documento juridicamente vinculativo de proteção das águas internacionais, que
estão fora da área de jurisdição nacional, correspondendo a mais de 70% da
superfície da Terra.
A
ONU anunciou que o processo de assinatura do Tratado seria hoje oficialmente
aberto aos Estados membros, na sede das Nações Unidas, e que 65 países já
tinham demonstrado interesse em assinar o documento esta semana.
Em
declarações à agência Lusa desde Nova Iorque, o cientista e responsável da
Fundação Oceano Azul Emanuel Gonçalves disse que se espera que mais 40 países
assinem o documento até ao fim da semana.
Emanuel
Gonçalves explicou que a assinatura do Tratado em Nova Iorque é na verdade um
comprometimento dos países no sentido de ratificarem o documento, sendo que
esse processo depende agora do sistema político de cada Estado.
Esse
processo interno não acontece no mesmo momento em cada Estado e o Tratado só
entra em vigor quando for ratificado por pelo menos 60 países.
Questionado
se o processo de ratificação, como já aconteceu com outros tratados, possa
demorar muitos anos, Emanuel Gonçalves disse acreditar que não, porque no caso
do Tratado do Alto Mar há uma grande mobilização para trazer o tema para a
agenda política, para que seja rapidamente assinado e que o documento esteja
pronto para entrar em vigor em 2025, na próxima cimeira dos oceanos.
Emanuel
Gonçalves assinalou que os oceanos sofrem atualmente de “problemas
gravíssimos”, como mostra a ciência, e que já não “há tempo para conversas”,
pelo que há uma grande “vaga de fundo”, com muitos países a comprometerem-se a
avançar rapidamente com a ratificação.
Se
o documento entrar em vigor em 2025 seria algo quase inédito (pela rapidez),
salientou o responsável, admitindo que há sempre dificuldades com a
implementação, mas que há também “a perceção da urgência e da necessidade de
mudança”.
“A
assinatura deste Tratado tem uma importância histórica, porque é a decisão mais
importante tomada pela comunidade internacional sobre o oceano no século XXI. O
oceano sofre uma crise profunda e este acordo vem permitir medidas de proteção
e de valorização do oceano no Alto Mar, que serão fundamentais para o futuro do
nosso planeta”, diz citado no comunicado Tiago Pitta e Cunha, o administrador
executivo da Fundação Oceano Azul.
Nas
declarações à Lusa Emanuel Gonçalves disse acreditar que o Tratado vai de facto
reforçar a conservação e gestão da vida marinha em alto mar, uma zona onde se
tem feito de tudo de forma impune, porque estrutura uma nova abordagem, assente
numa estrutura legal, e com meios para haver fiscalização.
E
o Tratado é também “uma vitória do multilateralismo” num mundo “em
desconstrução”, um “farol de esperança de que ainda é possível fazer coisas”,
salientou.
O
Tratado foi aprovado pela ONU em março passado e o texto final adotado
formalmente a 19 de junho.
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