Depois do surgimento de uma nova estirpe do coronavírus
no Reino Unido, as autoridades de Macau apertaram as medidas. Todas as pessoas
do Interior, RAEHK e Taiwan que tenham estado fora da China estão proibidas de
entrar no território. Além disso, a quarentena passa a ser de 21 dias ao invés
de 14 – uma medida bem vista por alguns médicos. Outros questionam a dualidade
de critérios
Macau
voltou a reforçar as medidas de prevenção contra a COVID-19. Estão proibidas de
entrar em Macau todas as pessoas do Interior da China, Hong Kong e Taiwan que
nos 21 dias anteriores tenham estado fora da China. Além disso, os cidadãos
estrangeiros que pretendam entrar na RAEM para casos excepcionais de
reagrupamento familiar só o podem fazer se tiverem permanecido no Interior da
China nos 21 dias anteriores à chegada a Macau – a exigência, anteriormente,
era de 14 dias.
Por
outro lado, a quarentena foi prolongada de 14 para 21 dias. A alteração surge
em resposta à evolução da pandemia a nível mundial, concretamente devido ao
aparecimento de uma nova estirpe no Reino Unido que acelera a transmissão do
vírus até 70%, mas também pelo facto de terem sido detectados novos casos no
mundo depois de cumpridas as duas semanas de isolamento. No caso dos residentes
de Macau que tenham visitado países estrangeiros nos 21 dias anteriores à
entrada no território têm de apresentar um teste negativo e submeter-se a uma
observação médica de 21 dias.
A
nova medida aplica-se a quem chega de todas as partes do mundo, à excepção de
Taiwan, mantendo-se os 14 dias de quarentena (caso a pessoa não tenha estado na
RAEHK ou em países estrangeiros). Quem vem de zonas de baixo risco do Interior da
China é obrigado a apresentar um resultado negativo ao teste do ácido nucleico.
Porém, se vier de zonas consideradas de alto risco epidémico, mantém-se também
a quarentena de 14 dias. Chengdu, Província de Heilongjiang, Pequim e Liaoning
são algumas destas zonas.
A
forma como as autoridades agiram é vista com bons olhos por alguns, mas há
também que não perceba os critérios. O médico Fernando Gomes disse ao Jornal Tribuna
de Macau estar de acordo com o prolongamento da quarentena. “De momento, penso
que foi prudente passar para os 21 dias, porque parece que a transmissibilidade
se prolonga. Depois de passarmos um ano com tantos cuidados, alertas e
prevenção, penso que não é excessivo ultimar essa medida”, afirmou.
Sublinhando
que não tem base teórica para dizer peremptoriamente se a quarentena deve ser
de 14 ou 21 dias, o médico Rui Furtado critica os critérios usados para a
aplicação das medidas. “Há uma coisa que posso dizer que não entendo e que ouvi
naquela célebre conferência de imprensa improvisada, que é, as pessoas que vêm
das zonas de alto risco na China e de Taiwan continuam a fazer uma quarentena
de 14 dias e quem vem de fora tem de fazer de 21 dias. Esta dualidade de
critérios, para mim, é um bocado estranha. Não sei qual é a base em que isto foi
decidido, mas não me parece que haja qualquer base que possa justificar esta
medida”, apontou Rui Furtado.
Fernando
Gomes, por sua vez, acredita que acontece pelo facto de na China “actualizarem
diariamente as precauções e recomendações”. “Na China, as províncias já estão
divididas. Por exemplo, ontem ou anteontem surgiram casos em Pequim, eles
restringiram aquela zona e aquelas pessoas vão ser testadas, isoladas,
acompanhadas”, explicou.
Na
mesma linha, o médico Chan Iek Lap fala sobre a diferença de critérios
apontando para a comunicação entre as autoridades do território e o Continente.
“O mecanismo de comunicação entre Macau e o Interior da China é rápido. Desde
que haja novos casos de COVID-19, o Governo da RAEM irá imediatamente anunciar
novas medidas de isolamento médico”, observou. Ainda assim, diz que as visitas
ao Interior da China “podem ter algum risco”.
Chan
Iek Lap concorda com a extensão da quarentena para 21 dias. “É importantíssimo
que Macau, quanto cidade turística, mantenha a sua segurança. É necessário
assegurar a confiança das pessoas na cidade, de forma a que continue a atrair
mais turistas”, frisou. O médico disse compreender as mudanças feitas pelas
autoridades. “O Governo da RAEM mostrou uma atitude firme, de que não se importa
com os custos na contenção do vírus. Esse é o princípio do trabalho para
assegurar a saúde da população. Temos de dizer ao mundo que a pandemia está sob
controlo em Macau. Não podemos estar como Hong Kong, onde a pandemia não acaba
e há sempre mais infectados”, realçou.
Para
Chan Iek Lap, as pessoas que pretendem entrar em Macau devem ponderar “se vale
a pena”, uma vez que terão de estar 21 dias em quarentena. Indicou ainda que há
registo de muitos casos de infectados por COVID-19 que, depois dos 14 dias de
quarentena, voltaram a testar positivo, razão pela qual acredita que “as
autoridades tiveram de avaliar muitos dados antes de anunciar as novas
medidas”.
Já
Rui Furtado considera que as medidas estão a ser lançadas para “mostrar
serviço”. Questionado sobre se será pelo facto de Macau não ter capacidade para
tratar um elevado número de doentes, caso haja um surto, o médico desvalorizou.
“Como esta pandemia provou, ninguém a nível mundial tem capacidade para gerir o
número de casos em quantidade e com eficiência. Numa pandemia, ninguém tem essa
capacidade”, afirmou. “Acho que Macau está empenhado em manter esta bênção [dos
poucos casos de SARS e COVID-19]”, acrescentou.
Durante
a quarentena de 21 dias serão realizados três testes de ácido nucleico. Quem
cumpriu 14 dias de quarentena e tem de fazer a autogestão de saúde está
obrigado a fazer um teste ao ácido nucleico ao vigésimo dia – o código de saúde
passou automaticamente para amarelo após a entrada em vigor das novas medidas.
Apanhados de surpresa
Ao
Jornal Tribuna de Macau chegaram queixas de dois residentes que foram apanhados
de surpresa com as novas medidas. Já se encontravam em quarentena e esperavam
sair para passar o Natal com as famílias. Nos e-mails endereçados a este
jornal, queixaram-se ainda de falta de condições, nomeadamente, falta de luz
solar no quarto, bem como de ventilação. Além disso, alertaram para a falta de
limpeza do quarto durante este período.
Quem
já estava a fazer quarentena quando foi anunciada a medida que alarga o período
de isolamento não vai ter de pagar os restantes dias. Uma vez que “o
ajustamento não foi antecipado quando [as pessoas] foram inicialmente sujeitas
à observação médica”, a Administração decidiu que residentes e não-residentes
que estavam em hotéis designados “ficam isentos do pagamento dos custos
relativos ao período entre o 15º e 21º dias”. No caso das pessoas que estavam
em hotéis escolhidos por si, caso pretendam usufruir da isenção de pagamento,
terão de mudar de hotel, caso contrário, as despesas ficam a seu cargo.
Depois
de Macau aplicar as novas medidas, também Hong Kong optou por aumentar os dias
de quarentena, justificando com o surgimento das novas estirpes do coronavírus.
Entretanto,
já se encontra a decorrer o 25º plano de fornecimento de máscaras até dia 26 de
Janeiro. Cada pessoa pode comprar 30 máscaras com um custo de 24 patacas.
Morada obrigatória no Código de Saúde
A
partir de 7 de Janeiro será obrigatório declarar a informação de morada no
Código de Saúde, caso contrário este não será gerado. O objectivo é articular
esta medida com o plano de controlo e prevenção da epidemia por zonas e
categorias.
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