O Clube Militar de Macau comemora 150 anos num ano “extremamente difícil” devido à pandemia e que testa mais uma vez a capacidade de a instituição se reinventar, salientou à Lusa um dos membros da direcção, Manuel Geraldes
O
Clube Militar passou por momentos “extremamente difíceis ao longo da sua
História”, o edifício, “de grande e rara beleza”, chegou a fechar, “serviu de
casa de refugiados” da guerra e de repartição de finanças, “mas sempre soube
ressuscitar” e a assumir-se como ponto de encontro entre as comunidades locais
e lusófonas, frisou Manuel Geraldes.
O
ex-presidente da instituição privada admitiu “momentos menos felizes” desde a
fundação do Clube Militar, mas destacou sobretudo as “fases de grande glória”,
que contam histórias de encontros de culturas, chinesa e portuguesa, das forças
armadas com a sociedade civil.
Desde
a sua fundação, em 1870, existem momentos que Manuel Geraldes faz questão em
enumerar, orgulhoso da forma como a associação conseguiu, à semelhança de
Macau, preservar a História onde habitam tantas culturas diversas.
Alguns
exemplos: Em 1912, recebeu o primeiro Presidente da República Popular da China,
Sun Yat Sen, que “veio a Macau para estar com os seus amigos, que lhe tinham
dado apoio”, lembrou.
Na
década de 60 do século passado, após servir de alojamento a refugiados da
guerra e de funcionar como repartição de finanças, resgatou “a sua atividade
normal como ponto de reunião e convívio, não só para oficias das forças
armadas, (…) mas também com a sociedade civil”.
Em
1975, novo teste à capacidade de adaptação, após “as forças armadas terminarem
a sua missão em Macau”, cuja renovação dos estatutos ajudou a abrir ainda mais
a instituição à sociedade, com o clube a abraçar, gradualmente, a vocação “ao
longo dos anos 80 e 90 como um importante ponto de encontro da comunidade
portuguesa”, acrescentou.
Era
assim quando os portugueses chegavam, sobretudo aqueles que “vinham em comissão
para Macau”. Encontravam ali “a sua primeira casa, as suas primeiras refeições,
o primeiro ponto de encontro com os amigos”, é assim, também hoje, quando
apesar da pandemia o clube “não fechou um único dia”, importante, por exemplo,
para alguns dos sócios “terem alguém para conversar” e não ficarem confinados
“apenas à solidão da sua casa”.
Um
dos períodos marcantes viveu-se pouco antes da transição para a China do antigo
território administrado por Portugal. “Era preciso cuidar do futuro e (…) em
1991 chega o general Rocha Vieira, como último governador português de Macau,
que tinha prestado aqui serviço e teve essa sensibilidade, a par do seu
pensamento estratégico, (…) grande obreiro que proporcionou à direção que era
presidida por mim, a grande renovação deste clube”, recordou o dirigente.
Em
1995, a sede foi para obras, patrocinada em termos financeiros na sua quase
totalidade “por grandes empresários e amigos chineses”, o edifício cresceu,
manteve a fachada histórica que “não nega o século e meio do clube, e fez-se
outro conceito de clube muito mais aberto a pouco tempo da transição”,
explicou, com a inauguração a ser presidida pelo então Presidente, Mário
Soares.
A
resposta à transição é feita com mais uma renovação dos estatutos. “Já sem
tutela militar, mantivemos o nome, com o apoio dos nossos amigos chineses, o
que é admirável”, destacando-se a partir daí o acesso de chineses e civis aos
cargos dirigentes, disse.
O
primeiro presidente civil foi eleito em 1998 e, dois anos mais tarde, o
primeiro líder da direcção chinês, Edmundo Ho, “que teve depois de resignar
após ser eleito chefe do Governo de Macau”, lembrou Manuel Geraldes.
Um
ano depois de ter celebrado os 20 anos da transferência de Macau para a China,
o Clube Militar celebra agora os seus 150 anos, num momento que trouxe muitos e
inesperados desafios à instituição, muito por culpa da pandemia. “Foi um ano
muito difícil para toda a gente, (…) mas para o clube em si, na sua estrutura e
conceito de sustentabilidade, foi tremendo”, disse. “Temos alguma preocupação,
mas por outro lado estamos confiantes (…) que em conjunto vamos encontrar uma
solução”, mostrou-se convicto o dirigente da instituição, onde o restaurante
celebra diariamente a gastronomia portuguesa e a sede acolhe regularmente
exposições e concertos. João Carreira – Agência Lusa in “Ponto
Final”
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