Abraão Rafael, de 47 anos, ex-militar da Forças Armadas
de Angola (FAA), que abraçou o ensino como ganha-pão quando deixou a farda, ganhou
a "guerra" da educação para mais de 150 crianças, a quem ensinava
debaixo de uma árvore, quando conseguiu que a Fundação Lwini financiasse uma
escola nova para 350 alunos e uma casa para viver com a sua família
Esta
batalha foi travada durante três anos, depois de em 2017 ter pedido ajuda à
fundação criada pela ex-primeira-dama Ana Paula dos Santos e agora ter visto o
sucesso da sua perseverança na forma de um moderno Centro de Explicações com
capacidade para albergar outras 200 crianças além das 150 a quem mostrava o
caminho do saber à sombra de um frondoso embondeiro na localidade do Bom Jesus,
comunidade do Kafucussa, município de Icolo e Bengo, em Luanda.
E
nem a deficiência motora que possui travou a sua caminhada. Como quem espera
sempre alcança, Abraão Rafael, que vive nesta comunidade há cinco anos em
condições de extrema precariedade, foi a 30 de Julho último eleito como beneficiário
do projecto de auto-sustentabilidade que terminou na construção de raiz do
Centro de Explicações denominado "Nunca é Tarde", pela Fundação
Lwini.
A
fundação criada por Ana Paula dos Santos, esposa do ex-Presidente da República,
José Eduardo dos Santos, financiou o projecto orçado em mais de 15 milhões de
kwanzas, no âmbito do "Programa Integral pelo Trabalho", cujo
objectivo é promover o auto-emprego para pessoas com deficiência.
Abraão
Rafael contou que em 2016, quando chegou à comuna do Kafucussa, notou a
existência de muitas crianças fora do sistema normal de ensino e começou a
leccionar debaixo do embondeiro.
"O
meu objectivo é proporcionar um sorriso as crianças ao mesmo tempo que se lhes
entrega esperança para o futuro", disse o antigo militar que largou as armas
para apontar, com papel e lápis, ao futuro de centenas de crianças.
"Mesmo
sem condições não parei e fui pedindo ajuda até que um dia cheguei à Fundação
Lwini e coloquei à questão", disse acrescentando: "Já não tinha esperança,
mas surpreendentemente, em Julho deste ano, recebi a luz verde".
Conta
ainda que, depois de terem visto as condições em que as crianças aprendiam e em
que viviam, incluindo o professor Abraão, "resolveram apoiar este projecto".
Segundo
Abraão Rafael, em função do apoio da Fundação Lwini, a administração municipal
do Icolo e Bengo disponibilizou-se em ampliar o projecto inicial do Centro de
Explicação com mais duas salas de aulas.
O
professor adiantou que em função do crescente número de crianças, juntaram-se
ao seu projecto mais dois explicadores voluntários que o ajudam a leccionar.
Kafucussa
situa-se na comuna de Bom Jesus, no município de Icolo e Bengo, em Luanda, onde
mais de 800 famílias se dedicam maioritariamente à pesca e à agricultura.
Contam
os seus habitantes que em Kafucussa falta de tudo. "Não temos nada de bom,
vivemos em extrema pobreza e somos vulneráveis em quase tudo", disse Marta
Domingo.
Francisco
Simão, outro morador, contou ao Novo Jornal, que se deslocou ao local integrado
na comitiva da Fundação Lwini, que na zona há muita fome e, por isso, pede
intervenção das autoridades para minimizar o sofrimento.
Estevão
Ngombe, coordenador do bairro, contou que já é hora do Executivo olhar mais
para as comunidades e resolver os pequenos problemas que as famílias enfrentam.
Quanto
à situação da saúde, o coordenador diz ser uma grande dor de cabeça para os
residentes uma vez que o único Centro de Saúde da comuna do Bom Jesus fica a
oito quilómetros da zona, o que torna mais difícil a vida dos moradores.
Por
falta de orientações de cima, a administração municipal e comunal do Icolo e
Bengo e do Bom Jesus não aceitaram falar com o Novo Jornal. Quem também não
falou aos jornalistas foi a ex-primeira-dama Ana Paula dos Santos. In “Novo
Jornal” - Angola
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