Depois da morte do pai, He Shuai leu “Morreste-me”, de José Luís Peixoto, em directo no programa O Leitor, da CCTV3, que tem uma audiência de cerca de 250 milhões de espectadores. O escritor português contou ao Ponto Final o episódio e as suas repercussões, que fez com que haja agora uma editora chinesa a querer avançar para a publicação individual do livro
O
pai de He Shuai, He Ming, foi diagnosticado com um cancro nos pulmões em 2016
e, nesse momento, lançou a si próprio um desafio: correr 100 maratonas. Em
Junho de 2020, He Ming morreu tendo completado 61 maratonas. O filho propôs-se
a terminar o desafio do pai e vai correr as restantes maratonas. He Shuai foi
depois ao programa chamado O Leitor, que passa na CCTV3, ler “Morreste-me”,
livro de José Luís Peixoto. O momento foi visto por cerca de 250 milhões de
pessoas. “Números como estes são absolutamente avassaladores, difíceis de
imaginar”, assinalou o escritor português ao Ponto Final.
“Morreste-me’
foi um livro que escrevi sobre a morte do meu pai, que fala desse luto e, por
isso, foi muito impactante para mim assistir à leitura de uma tradução desse
livro por He Shuai e aperceber-me de como tudo isso estava presente na sua
leitura e tinha conseguido chegar a uma realidade que, à partida, se imagina
tão remota”, indicou José Luís Peixoto.
O
programa em causa está entre os mais populares da televisão chinesa e consiste
em leituras feitas por pessoas muito famosas na China ou, como aconteceu no
caso de He Shuai, de pessoas com histórias assinaláveis. He Shuai leu no
programa a tradução para mandarim de “Morreste-me” feita na Universidade de
Macau, através da coordenação de Yao Feng e que foi publicado na íntegra na
revista chinesa World Literature Magazine.
O
autor foi contactado em Novembro por uma das tradutoras do seu livro, que o
avisou de que He Shuai o tinha lido na televisão chinesa, e mais tarde foi
contactado pela produção de O Leitor para que enviasse um vídeo em resposta a
He Shaui, com a leitura de um excerto do livro em português. A participação de
José Luís Peixoto no programa acabou por ser incluída numa edição especial com
os melhores momentos do ano.
O
escritor contou que o momento fez até com que a editora Foreign Language
Teaching and Research Press queira avançar para a publicação do livro a título
individual. “Para além da oportunidade de toda esta repercussão, fico muito
satisfeito com essa oportunidade, uma vez que a tradução do meu romance
Galveias está a ser concluída e deverá ser publicada por essa mesma editora já
em 2021”, notou.
José
Luís Peixoto assumiu ainda que a “circulação da literatura portuguesa na China
está muito atrás do que seria desejável e do que é a realidade da difusão de
outras literaturas europeias”. No entanto, o escritor diz que há razões para
optimismo e deixa elogios ao director do departamento de Português da
Universidade de Macau: “Por um lado, hoje, há bastante mais universidades na
China a ensinar a língua portuguesa do que acontecia há alguns anos. Por outro
lado, há o trabalho incansável de indivíduos como Yao Feng, uma figura basilar
nas relações literárias entre estas duas culturas”. Além disso, “é de referir o
Festival Literário de Macau, que promove justamente essa vontade de aproximação
e cumpre um papel muito importante”, acrescentou José Luís Peixoto.
“Morreste-me”,
o relato do luto após a morte do pai, foi editado em 2000 e foi o texto que deu
a conhecer José Luís Peixoto no panorama da literatura portuguesa. André
Vinagre – Macau in “Ponto Final”
andrevinagre.pontofinal@gmail.com
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