Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

China - A comoção na literatura de José Luís Peixoto chegou a 250 milhões de pessoas

Depois da morte do pai, He Shuai leu “Morreste-me”, de José Luís Peixoto, em directo no programa O Leitor, da CCTV3, que tem uma audiência de cerca de 250 milhões de espectadores. O escritor português contou ao Ponto Final o episódio e as suas repercussões, que fez com que haja agora uma editora chinesa a querer avançar para a publicação individual do livro


O pai de He Shuai, He Ming, foi diagnosticado com um cancro nos pulmões em 2016 e, nesse momento, lançou a si próprio um desafio: correr 100 maratonas. Em Junho de 2020, He Ming morreu tendo completado 61 maratonas. O filho propôs-se a terminar o desafio do pai e vai correr as restantes maratonas. He Shuai foi depois ao programa chamado O Leitor, que passa na CCTV3, ler “Morreste-me”, livro de José Luís Peixoto. O momento foi visto por cerca de 250 milhões de pessoas. “Números como estes são absolutamente avassaladores, difíceis de imaginar”, assinalou o escritor português ao Ponto Final.

“Morreste-me’ foi um livro que escrevi sobre a morte do meu pai, que fala desse luto e, por isso, foi muito impactante para mim assistir à leitura de uma tradução desse livro por He Shuai e aperceber-me de como tudo isso estava presente na sua leitura e tinha conseguido chegar a uma realidade que, à partida, se imagina tão remota”, indicou José Luís Peixoto.

O programa em causa está entre os mais populares da televisão chinesa e consiste em leituras feitas por pessoas muito famosas na China ou, como aconteceu no caso de He Shuai, de pessoas com histórias assinaláveis. He Shuai leu no programa a tradução para mandarim de “Morreste-me” feita na Universidade de Macau, através da coordenação de Yao Feng e que foi publicado na íntegra na revista chinesa World Literature Magazine.

O autor foi contactado em Novembro por uma das tradutoras do seu livro, que o avisou de que He Shuai o tinha lido na televisão chinesa, e mais tarde foi contactado pela produção de O Leitor para que enviasse um vídeo em resposta a He Shaui, com a leitura de um excerto do livro em português. A participação de José Luís Peixoto no programa acabou por ser incluída numa edição especial com os melhores momentos do ano.

O escritor contou que o momento fez até com que a editora Foreign Language Teaching and Research Press queira avançar para a publicação do livro a título individual. “Para além da oportunidade de toda esta repercussão, fico muito satisfeito com essa oportunidade, uma vez que a tradução do meu romance Galveias está a ser concluída e deverá ser publicada por essa mesma editora já em 2021”, notou.

José Luís Peixoto assumiu ainda que a “circulação da literatura portuguesa na China está muito atrás do que seria desejável e do que é a realidade da difusão de outras literaturas europeias”. No entanto, o escritor diz que há razões para optimismo e deixa elogios ao director do departamento de Português da Universidade de Macau: “Por um lado, hoje, há bastante mais universidades na China a ensinar a língua portuguesa do que acontecia há alguns anos. Por outro lado, há o trabalho incansável de indivíduos como Yao Feng, uma figura basilar nas relações literárias entre estas duas culturas”. Além disso, “é de referir o Festival Literário de Macau, que promove justamente essa vontade de aproximação e cumpre um papel muito importante”, acrescentou José Luís Peixoto.

“Morreste-me”, o relato do luto após a morte do pai, foi editado em 2000 e foi o texto que deu a conhecer José Luís Peixoto no panorama da literatura portuguesa. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”

andrevinagre.pontofinal@gmail.com


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