Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 12 de dezembro de 2020

Brasil – Cátedra Agostinho da Silva ‘une’ duas universidades

Ao ser instituída, em 2006, na Universidade de Brasília, a Cátedra Agostinho da Silva assumiu o compromisso de incentivar e promover pesquisas no campo da cultura luso-afro-brasileira, em quaisquer das suas manifestações, além de difundir os estudos literários luso-afro-brasileiros, tanto no seu paralelismo como na sua diversidade. Este ano, o âmbito de ação desta Cátedra ampliou-se com a sua implementação na Universidade Federal de Uberlândia. Nestas duas instituições de ensino superior do Brasil, a Cátedra Agostinho da Silva permite a estudantes e pesquisadores, um maior conhecimento das culturas lusófonas e do trabalho de um dos grandes pensadores portugueses de sempre


“Os principais objetivos foram definidos nesses primeiros anos e consistiam em contribuir para uma aproximação entre os países lusófonos através de estudos literários e interdisciplinares, assim como por meio do intercâmbio acadêmico, ideias particularmente caras a Agostinho da Silva. Outro dos objetivos era colaborar para a divulgação do pensamento de Agostinho da Silva”, explica Paulo Thomaz, professor adjunto do Departamento de Teoria Literária e Literaturas do Instituto de Letras – Universidade de Brasília e gestor substituto da Cátedra Agostinho da Silva.

Logo no início, em 2009, foi criado um programa de publicações da Cátedra, com a edição do livro ‘Agostinho da Silva. Universidade: testemunho e memória’, organização e apresentação de Henryk Siewierski com prefácio de José Santiago Naud. “Foi a edição, baseada nos arquivos da Câmara dos Deputados, do depoimento de Agostinho da Silva na Comissão Parlamentar do Inquérito no dia 23 de maio de 1968, uma verdadeira aula magna em defesa da universidade”, recorda Paulo Thomaz.

Na UnB, a Cátedra atua maiormente na área de letras, língua e literaturas com a atividades desenvolvidas tanto no âmbito da graduação, como no da pós-graduação. Mas há ainda atividades abertas à comunidade em geral, realizadas pela Cátedra ou no âmbito de projetos de cooperação.

Naquela universidade, os membros da Cátedra Agostinho da Silva desenvolveram numerosas pesquisas na área de estudos portugueses e lusófonos. A Cátedra organizou igualmente vários seminários internacionais com a participação de escritores de Portugal e de países africanos de língua portuguesa.

Uma das ações de divulgação do pensamento de Agostinho da Silva, foi a edição completa de uma extensa entrevista que deu origem ao livro ‘Vida conversável’, de Agostinho da Silva e Henryk Siewierski. Editado este ano em Portugal, pela Editora Zéfiro, é apresentado como a maior entrevista do pensador, na sua primeira edição completa, estando ainda uma segunda parte inédita.

E, atualmente, alunos de graduação das áreas de Língua Portuguesa e Literatura “realizam pesquisas específicas ligadas aos tópicos da Cátedra com o apoio de bolsas de estudos”, revela Paulo Thomaz.

Na UnB, a cátedra tem ainda uma presença constante nas redes sociais – “ainda que em nosso entendimento esse aspeto possa ser aperfeiçoado”, sublinha o responsável – e tem usado igualmente os recursos da universidade para marcar essa presença em formato online. Contribui também com material para o acervo digital do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.

Agora também na UFU

Para além da UnB, a Cátedra passou este ano a ser dinamizada também na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Para Paulo Thomaz, a cooperação, firmada em protocolo de cooperação entre a UFU, o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e a UnB, “alarga as possibilidades de atuação da Cátedra e permitirá um diálogo entre as pesquisas realizadas sobre a obra de Agostinho da Silva em ambas as instituições”.

Igual opinião tem Amon Pinho, responsável pela Cátedra na UFU, para quem esta cooperação “amplia e diversifica a sua atuação desde duas universidades públicas distintas sediadas em centros urbanos que desempenham importante papel formativo, educacional e cultural em nível regional e nacional”.

A UFU congrega uma comunidade acadêmica de 35 mil pessoas e oferece 96 cursos de graduação e 68 de pós-graduação em todas as grandes áreas do conhecimento. Nesta instituição de ensino superior implantada na cidade de Uberlândia, estado de Minas Gerais, a Cátedra Agostinho da Silva desenvolverá atividades de pesquisa, ensino e extensão, explica o seu responsável. “O objetivo, primeiramente, é investigar, conhecer e divulgar com espírito crítico, rigor e profundidade a obra múltipla, extensa e transdisciplinar do pensador luso-brasileiro George Agostinho Baptista da Silva (1906-1994), patrono da Cátedra”, acrescenta.

Tem ainda o propósito “de tematizar, problematizar e desenvolver as implicações históricas, filosóficas, artísticas, políticas, culturais e educacionais que semelhante obra, em potência, comporta” e, suplementarmente, vai dedicar-se ao estudo de questões relacionadas com a história, pensamento e cultura luso-afro-brasileiros e ibéricos.

“A dinamização que a Cátedra Agostinho da Silva poderá ter na Universidade Federal de Uberlândia, “apresenta-se como de assinalável importância”, afirma Amon Pinho.

Nesta universidade, a Cátedra vai desenvolver diferentes atividades, mas áreas da História, da Filosofia e da Educação, inseridas nos programas de mestrado e doutoramento. Para além da componente letiva, há uma série de iniciativas, algumas já em desenvolvimento e outras programadas.

Uma biblioteca e atividades online

O público que a Cátedra Agostinho da Silva visa na UFU é tanto o acadêmico quanto o extra-académico. Para ambos, foi criada a Biblioteca Agostinho da Silva, “projeto precursor de edição crítica de parte significativa dos livros, ensaios, artigos e outros escritos desse pensador, que tem sido levado a termo por pesquisadores da Cátedra”, naquela universidade, em parceria com a editora É Realizações, de São Paulo. “Nos próximos dois volumes conta já com o apoio da DGLAB, Direção-Geral dos Livros, dos Arquivos e das Bibliotecas de Portugal”, assinala Amon Pinho.

Apesar de ser recém-implementada na UFU, a Cátedra tem dinamizado já várias atividades em formato online, como, por exemplo, as primeiras sessões do Seminário Permanente de Estudos Humanísticos.

Para o primeiro semestre de 2021 é prevista a realização do Encontro Internacional das Cátedras Camões no Brasil, do qual a Cátedra Agostinho da Silva tem tomado parte na organização, ao lado das cinco outras Cátedras Camões sediadas em universidades brasileiras.

“Serão cinco mesas temáticas a decorrer por via telemática entre março e julho, com o propósito de debater assuntos e questões relacionados ao projeto de pesquisa ‘Mobilidades em contextos culturais de língua portuguesa’”, revela Amon Pinho.

É ainda propósito da Cátedra Agostinho da Silva na UFU, intensificar “a interlocução e o intercâmbio acadêmico-científico-cultural” através dos canais de comunicação e dos recursos interativos disponibilizados pela Internet, avança.

Amon Pinho sublinha que desde a rede formada pela mais de 50 Cátedras Camões implantadas em muitas das melhores universidades do mundo, aos contatos com docentes e com grupos de investigadores destacados em temas de especial relevância, “são assinaláveis as oportunidades a concretizar e as parcerias e potencialidades a desenvolver”.

Cátedra da lusofonia?

Tendo Agostinho da Silva sido, ele próprio, um ‘homem da lusofonia’, chegando a defender, muito à frente do seu tempo, a criação de uma organização que reunisse os países lusófonos (o que viria a acontecer com a CPLP), pode dizer-se que esta é uma Cátedra da lusofonia?

Paulo Thomaz defende que não o é num “sentido estrito”, mas, sim, “em termos amplos”. A Cátedra “tem consolidado ações nas quais perpassam elementos culturais dos diversos países de língua portuguesa e, mais de acordo com o pensamento de Agostinho da Silva, unindo também línguas e culturas de matriz ibérica”.

Amon Pinho diz que sendo Agostinho da Silva o patrono desta Cátedra Camões que a UFU e a UnB sediam, “e tendo sido ele com efeito um proponente destacado do que então conceituava e projetava como uma ‘Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa’”, é imprescindível “que, no âmbito das atividades e iniciativas desenvolvidas pela Cátedra, seja a lusofonia um tema relevante de estudo, de mediada pesquisa e de problematização consistente e efetiva”.

Quanto á importância desta Cátedra para a afirmação do Português no mundo, nomeadamente como língua de Ciência, os dois responsáveis destacam a sua contribuição. Paulo Thomaz destaca que a Cátedra “tem atuado como órgão de financiamento de pesquisas em nível de iniciação científica, por exemplo, contribuindo para a produção de conhecimento sobre as culturas de língua portuguesa no mundo”.

Amon Pinho recorda que na sua atual configuração, a Cátedra Agostinho da Silva reúne professores e pesquisadores de duas universidades distintas, e cujas frentes de atuação englobam “grandes áreas do conhecimento humano”, tanto ao nível da graduação como da pós-graduação, “de formação de pessoal como de inovação, de produção do conhecimento científico como de sua divulgação”.

“Uma indiscutível afirmação, pois, da língua portuguesa como língua de ciência e de cultura”, finaliza.

Agostinho da Silva: Um dos grandes pensadores portugueses de sempre

Para muitos considerado o grande vulto do pensamento filosófico português do século XX, o filósofo, professor, ensaísta, investigador e poeta George Agostinho Baptista da Silva (1906-1994) teve um papel fundamental na criação de pontes entre Europa, África e América.

Natural do Porto, onde se formou em Filologia Clássica com 20 valores, Agostinho da Silva exilou-se no Brasil em 1947, na sequência da sua oposição ao regime de Salazar.

Viveu no Brasil (cuja cidadania adquiriu em 1958) entre 1944 e 1969, onde participou da fundação da Universidade Federal Fluminense, em Niterói, da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, e da Universidade de Brasília e do seu Centro Brasileiro de Estudos Portugueses.

Na Universidade Federal da Bahia criou o Centro de Estudos Afro-Orientais (o primeiro centro de estudos africanos no Brasil), além de ter idealizado o Museu do Atlântico Sul, em Salvador.

Retornou a Portugal em 1969, conciliando a partir daí a vida académica de professor com a sua atividade de ensaísta, poeta e filósofo.

Após regressar ao país natal, colaborou em diferentes meios de comunicação de Portugal e do Brasil, publicou ensaios e livros (no seu currículo constam mais de 60 obras) e participou de projetos acadêmico-culturais na Fundação Calouste Gulbenkian, no Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (Universidade de Lisboa) e em diferentes instituições de ensino superior.

Faleceu aos 88 anos de idade, em Lisboa. In “Mundo Português” - Portugal





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