Ilda
Nunes é desde setembro a nova Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Paris,
num momento em que os pedidos de ajuda “aumentaram imenso”, apesar de ainda
haver “uma certa vergonha” na Comunidade portuguesa em pedir apoio.
“Os
pedidos aumentaram imenso, muito. […] Há pessoas que estavam com contrato de
duração determinada e ficaram sem trabalho e mesmo que tenham subsídio de
desemprego é muito curto. E muitas pessoas que trabalham sem declarar e, a
partir do momento em que não há trabalho, acabou-se. Não têm rendimentos”,
afirmou Ilda Nunes, Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Paris, em
entrevista à Lusa.
A
Provedora não gosta de falar em números, mas arriscou um “aumento entre 25 a
30%” dos pedidos de ajuda “em tempo normal” entre a Comunidade portuguesa em
França.
Ilda
Nunes chegou a França aos 15 anos e é atualmente professora de francês, sendo
uma figura ativa na Comunidade portuguesa na região parisiense. Em 2011
tornou-se Secretária-geral da Santa Casa da Misericórdia e, este ano, foi
eleita a nova Provedora da instituição. “É uma bela causa, porque vejo a
Misericórdia como uma instituição que se preocupa com os outros. A Misericórdia
é equivalente a partilha, solidariedade e empatia com as pessoas que sofrem”,
indicou a Provedora eleita no mesmo ano em que a organização de apoio à
Comunidade portuguesa comemorou 25 anos.
Para
além da ajuda alimentar a cerca de 1000 famílias na região parisiense, a Santa
Casa da Misericórdia de Paris dá apoio social, jurídico e psicológico à
Comunidade portuguesa, com um número de emergência que está ativo 24 horas.
Os
pedidos chegam com “receio”, mas os membros da organização respondem sem
preconceitos. “Qualquer pessoa seja ela de que origem for, seja ela emigrante
ou não, é evidente que é difícil. E os Portugueses tiveram sempre também esse
receio de dizer que precisavam”, notou Ilda Nunes.
E
sublinhou: “Sobretudo (…), com uma certa vergonha de não terem sido tão bem sucedidos
como outros e aí, é a nós, membros da Santa Casa, de pôr as pessoas à vontade e
de mostrar que nós não estamos a fazer nada de especial”.
A
instituição possui ainda dois jazigos em Enghien-les-Bains, na região
parisiense, onde sepulta cidadãos portugueses sem família. No Natal, a Santa
Casa da Misericórdia apoia também os reclusos de origem portuguesa em França
enviando-lhes um cheque de 50 euros.
Ilda
Nunes lamentou que os Consulados tenham perdido ao longo dos anos o papel de
apoio aos mais necessitados. “Nós temos uma boa relação com o Consulado e
trabalhamos em parceria. Se houvesse um serviço social, como já houve, muitos
dossiers que nos chegam à Santa Casa seriam resolvidos pelos assistentes sociais
do Consulado. Infelizmente, foram acabando, pouco a pouco”, frisou.
Para
levar a cabo esta obra social, a instituição apoia-se nas quotas pagas pelos
cerca de 400 membros e nos donativos dos benfeitores, muitos deles empresários
portugueses em França.
O
aumento dos pedidos de ajuda este ano, foi seguido pelo aumento das
contribuições dos benfeitores. “Há sempre pessoas muito atentas às dificuldades
dos outros e está a acontecer muito isso este ano, com as pessoas a pensarem
mais em solidariedade. As pessoas estão-se a mobilizar e estamos a ter bons
retornos”, disse Ilda Nunes.
Mas
não é suficiente. Com necessidades constantes, a Provedora apelou aos
emigrantes portugueses em França que possam ajudar para aderirem à instituição.
“O apelo que faria é que as pessoas aderissem à Santa Casa, a quota é de 25
euros e isso permite que essas verbas possam ser usadas para comprar alimentos
quando já não houver”, concluiu. Catarina Falcão – França in “LusoJornal”
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