Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Internacional - Português descobriu que há polvos pugilistas

Uma equipa de investigadores liderada pelo português Eduardo Sampaio observou vários polvos a socar violentamente os seus parceiros de caça através de um movimento rápido (e nada aleatório) realizado com um dos seus braços



Em declarações ao portal ZAP, Eduardo Sampaio, doutorando da Universidade de Lisboa, referiu que em causa está um movimento violento e “altamente dirigido a um peixe específico”, o que evidencia que o comportamento observado é intencional.

“A este comportamento chamamos um “soco” ou “murro“, porque o movimento é extremamente similar a essa ação”, começou por explicar o investigador, cujo doutoramento se debruça sobre o comportamento social e cognição dos cefalópodes.

“Filmámos ‘murros’ executados por vários polvos diferentes, em sítios diferentes do Mar Vermelho – em Israel durante um mês em 2019 e no Egito durante dois meses em 2019 -, e em grupos com composições diferentes de peixes, o que indica que os ‘murros’ [captados nas filmagens] têm um papel nestes grupos inter-específicos”.

A equipa observou interações entre Octopus cyanea e uma série de espécies de peixes, incluindo peixes-esquilo (Sargocentron caudimaculatum), garoupas-vermelhas (Epinephelus fasciatus), garoupas-papagaio (Variola louti), entre outras espécies.

Os polvos parecem exibir este comportamento para afastar peixes, mesmo que estes sejam os seus parceiros de caça, e obter comida. Tal como frisa Eduardo Sampaio, estes grupos, apesar de colaborativos, comportam-se em prol do interesse próprio.


“São muito raras as provas de altruísmo entre espécies diferentes, em que, por exemplo, um polvo ou um peixe está a caçar para ‘dar’ mais presas aos seus parceiros. Simplesmente, como as estratégias de caça são complementares, a dinâmica de caça conjunta de polvos e peixes parece ser benéfica tanto para polvos como para peixes, porque se torna mais fácil de encurralar presas”, disse o investigador, dando conta que esta é a justificação mais fácil do ponto do vista evolutivo, mas pode não ser a única.

Estes animais, que muitas vezes são rotulados como “extraterrestres terrestres” pela complexidade comportamental e cognitiva que demonstram, podem agredir peixes sem procurar um benefício a curto prazo – pode ser mera “vingança” ou castigo.

“Existem também outros eventos em que o polvo dá ‘murros’ sem ter acesso imediato a uma presa, ou seja, sem obter benefícios imediatos. Nestes casos, o polvo pode estar a expressar uma resposta imediata ao facto de o peixe ter obtido uma presa que seria sua, isto é, está a impor um custo, apesar de o próprio pagar um preço por isso”.

“Ou então poderá estar a “castigar” esse peixe, de forma a que este tenha ações colaborativas nas interações seguintes”, acrescentou, ressalvando, contudo, estes são cenários teórico e especulativos que carecem ainda de um estudo quantitativo para se perceber de que forma é que o comportamento do peixe se altera após a agressão. Aceda ao estudo aqui. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo




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