Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 13 de dezembro de 2020

Suíça - Prémio Jan Michalski de Literatura 2020 para o moçambicano Mia Couto

 

O escritor moçambicano Mia Couto venceu o Prémio Jan Michalski de Literatura, pela edição francesa da trilogia “Les sables de l’empereur” (“As Areias do Imperador”), publicada este ano em França pela Métailié, com tradução de Elisabeth Monteiro Rodrigues, anunciou a fundação suíça.

O júri do prémio reconheceu “a excecional qualidade da escrita” de Mia Couto, que conjuga, “subtilmente, oralidade e narração literária e epistolar, contos, fábulas, sonhos e crenças, no seio da realidade histórica de Moçambique, no final do século XIX, na luta contra a colonização portuguesa”.


“Sem nenhum maniqueísmo, o autor prima pela empatia com os protagonistas, que se confrontam com a desumanidade da guerra, atribuíndo-lhes uma força épica, em concordância com a rica natureza africana”, concluiu o júri, presidido por Vera Michalski e composto pelo ensaísta francês Benoît Duteurtre, as escritoras Alicia Giménez Bartlett, de Espanha, e Siri Hustvedt, dos Estados Unidos, o novelista ucraniano Andrei Kourkov, o poeta polaco Tomasz Rozycki, além dos autores Carsten Jesten, do Canadá, e o ‘rapper’ francês Jul.

A trilogia “As Areias do Imperador”, composta pelos romances “Mulheres de Cinza”, “A Espada e a Azagaia” e “O Bebedor de Horizontes”, centra-se nos derradeiros dias do chamado Estado de Gaza, o segundo maior império de África, no final do século XIX, dirigido por um africano.

Ngungunyane (Gungunhana) foi o derradeiro de uma série de imperadores notáveis, que detinham o poder sobre quase metade do território de Moçambique.

Derrotado em 1895 pelas forças portuguesas, comandadas por Mouzinho de Albuquerque, Ngungunyane foi deportado para os Açores onde veio a morrer em 1906. Em 1985, os seus restos mortais foram trasladados para Moçambique.

Na trilogia, Mia Couto retoma os factos conhecidos e personagens reais, que combina com ficção, centrando-se na jovem moçambicana Imani Nsambe, educada por missionários, que serve de intérprete às diferentes fações em confronto, ligada por um amor impossível ao militar português Germano de Melo.

A obra tem por suporte a investigação do autor sobre extensa documentação existente em Moçambique e Portugal, assim como testemunhos recolhidos em Maputo e Inhambane.

O título, “As Areias do Imperador”, remete para a lenda, segundo a qual, em vez das ossadas de Ngungunyane, foram torrões de terra, areias, que regressaram ao seu país.

O prémio Jan Michalski de Literatura combina o valor de 50 mil francos suíços (45.687 euros) com “uma obra de arte escolhida e encomendada em homenagem” ao laureado.

Criado pela Fundação Jan Michalski, para distinguir obras da literatura mundial, publicadas em francês, o prémio é atribuído a Mia Couto, cerca de um mês após a publicação do seu novo romance, “O Mapeador de Ausências”, que começou por ser uma homenagem à cidade da Beira, mas acabou por se tornar uma viagem ao passado do autor e às “ausências” que o marcaram para sempre, como disse à Lusa.

“O Mapeador de Ausências” tem como narrador Diogo Santiago, um prestigiado e respeitado intelectual moçambicano, que se desloca à sua cidade natal, Beira, nas vésperas do ciclone Idai que a arrasou em 2019.

Traduzido em mais de 30 línguas, vencedor do Prémio Camões em 2013, Mia Couto foi igualmente distinguido com o Prémio Vergílio Ferreira, em 1999, com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas, em 2007, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2011, pelo conjunto da carreira.

“Terra Sonâmbula” foi eleito um dos doze melhores livros africanos do século XX, e “Jesusalém” esteve entre os 20 melhores livros de ficção mais publicados em França, na escolha da rádio France Culture e da revista Télérama.

Mia Couto sucede à autora israelita Zeruya Shalev, distinguida pelo romance “La douleur”, editado em Portugal pela Elsinore. In “LusoJornal” – França com “Lusa”


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