Uma competição de arquitectura para um projecto do circuito pedonal sem barreiras do parque municipal da Colina de Mong Há contou com cinco primeiros prémios, dois dos quais liderados por equipas compostas por portugueses. O concurso, concebido pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) e a Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), contou com 39 candidaturas
No
sábado realizou-se a entrega de prémios da competição de Arquitectura para o
Projecto do Circuito Pedonal sem Barreiras do parque Municipal da Colina de
Mong Há, iniciativa que contou com 39 candidaturas. “A colina de Mong Há é um
pequeno morro localizado no Norte da Península de Macau, no cimo do qual existe
um parque equipado com diversas instalações de lazer e de serviços municipais
destinados ao uso público. No entanto, a falta de conveniência na utilização
dos transportes públicos e de sistema pedonal afecta a apetência dos cidadãos
pela subida a colina usando as instalações do parque”, pode ler-se no catálogo
das obras da competição.
Neste
âmbito, vista a necessidade de melhorar as vias de acesso pedonal desta colina,
o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) desafiou a Associação dos
Arquitectos de Macau (AAM) a organizar em conjunto esta competição, “permitindo
a participação de indivíduos ou equipas de desenho da arquitectura, no sentido
de proporcionar fundamentos e orientações para o reordenamento da Colina de
Mong Há com a adição do sistema pedonal sem barreiras”.
Ao
Ponto Final, Ricardo Santos Meireles, que cabeceou um das equipas vencedoras do
primeiro prémio juntamente com Nuno Alves e Bruno Malés, explicou um pouco mais
sobre o projecto. “Normalmente, quem consegue ir lá tem muitas dificuldades em
percorrer o próprio espaço da colina. O projecto em si explora dois pontos
específicos à volta da colina, e um dos pontos importantes a apontar é de ser
sem barreiras e de ser acessível a pessoas que tenham dificuldades motoras.
Portanto, é de providenciar a conexão do ponto A ao ponto B, atravessando o
ponto B e C que está estipulado no concurso, e em dois pontos específicos do
projecto. É, no fundo, ligar dois espaços da colina entre si de maneira que as
pessoas de ambos os lados tivessem menos dificuldades de acesso porque a colina
é muito íngreme”, explicou.
Este
concurso esteve aberto a todos os profissionais da arquitectura e, no caso
desta equipa vencedora, foram três arquitectos portugueses que trabalham em
três gabinetes diferentes, unidos pela amizade e na vontade de participar e de
desenvolverem uma proposta juntos. Entre os vencedores esteve também a dupla
liderada pelo português Rogério de Oliveira, com Laura de Juan.
Em
termos de requisitos à participação, este concurso exigia um máximo de quatro
pessoas e que pelo menos uma delas teria de estar registada na Direcção dos
Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). “Este projecto em si
é um concurso de ideias. Primeiro, é conceptual, que pode dar providência à
continuidade. Essa é a nossa expectativa e esperamos que isto vá para a frente,
portanto, que este concurso aborde a questão de uma maior abrangência de
prémios. Aqui houve cinco primeiros prémios e cinco menções honrosas, que faz
no total 10 prémios”, acrescenta Ricardo Santos Meireles.
Quando
questionado sobre se estava à espera de ganhar, o arquitecto que reside em Macau
há 9 anos, conta: “Ganhar foi uma surpresa. Tínhamos a expectativa só da
participação, quando soubemos da notícia sentimos que foi algo gratificante
porque estivemos sempre a trabalhar depois do horário de trabalho, durante
várias semanas, até às 3 ou 4 da manhã. Ainda por cima, como cada um tem o seu
horário, foi difícil”, acrescentou o arquitecto. “Nós estamos na expectativa de
receber então o convite para a segunda fase do projecto e está estipulado que o
IAM vai entrar em contacto para os primeiros cinco vencedores para que possamos
então aprofundar um pouco mais o projecto. Portanto, nós como os outros,
estamos agora numa ‘shortlist’ para dar procedimento a isto”, explicou
Ricardo Meireles.
No
sábado, além da entrega de prémios, foi também a inauguração da exposição onde
se podem ver as propostas dos vencedores, e também dos restantes, na Ecohouse
de Mong Há. Ricardo Meireles reitera que houve uma grande disputa para os
lugares vencedores. “Foi gratificante para todos nós porque acaba também por
impulsionar um pouco a maneira como os arquitectos em Macau também conseguem
viver o espaço em Macau, integrarem-se na cultura local, e é um pouco o
perceber que existe o ‘fairplay’ ainda neste tipo de concursos em que
houve uma disputa muito grande. Normalmente existe uma separação ainda muito
grande entre os arquitectos locais que são de língua chinesa e os de língua
portuguesa. Percebemos que o júri olhou mesmo para as propostas em concreto e
foi gratificante perceber que o que nos propusemos vai ao encontro do
expectável da parte do júri, pois o júri também é de várias áreas especificas,
e foi bom perceber isso”, apontou o arquitecto português.
Sobre
a forma como vê a arquitectura actualmente no território, Ricardo Meireles diz
que é uma “pergunta difícil”, e assinala que a arquitectura actualmente ainda
está em impulsão em Macau. “Ainda existe muito a arquitectura dos arquitectos
dos gabinetes locais, que estão bem presentes em Macau, e existe outra versão
nova, mais recente, de arquitectos a abrir novos gabinetes, mais pequenos, e
que estão a tentar, de certa maneira, ter algum impulso em Macau, e ainda se vê
um pouco aquela dificuldade em conseguir novos projectos”, lamentou.
O
arquitecto refere que há gabinetes que têm os seus contactos e muitas vezes
recebem convites para entrar em concursos em Macau porque já têm currículo na
área específica. Por outro lado, há gabinetes de arquitectura mais recentes que
não conseguem entrar muito no mercado sem ser através de outros gabinetes que
já estão mais presentes em Macau, o que “dificulta um pouco a situação”. “Acho
que para melhorar a situação, começaria tudo por uma abertura um pouco maior ao
âmbito da arquitectura e o que a arquitectura significa para Macau. O que nós
podemos dar mais à cidade é criar uma nova dinâmica em cruzamento com a cidade
velha e com a cidade nova que está aberta ao mundo, como é Macau. Não se pode
ficar apenas por aquele conceito mais antigo que Macau”, frisou.
No
entender do arquitecto, muitas vezes há partes da cidade que estão desconexas e
“não comunicam umas com as outras”, devendo ser feita uma leitura mais urbana
para projectar edifícios. “Temos de projectar as ligações, as comunicações, não
só visuais, mas físicas também, e é um pouco através de um conjunto de ideias
mais urbanas que podemos que podemos encontrar o nosso ponto de partida”,
concluiu. Joana Chantre – Macau in “Ponto
Final”
Joanachantre.pontofinal@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário