Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Macau - Equipas portuguesas vencem competição de arquitectura destinada a parque de Mong Há

Uma competição de arquitectura para um projecto do circuito pedonal sem barreiras do parque municipal da Colina de Mong Há contou com cinco primeiros prémios, dois dos quais liderados por equipas compostas por portugueses. O concurso, concebido pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) e a Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), contou com 39 candidaturas


No sábado realizou-se a entrega de prémios da competição de Arquitectura para o Projecto do Circuito Pedonal sem Barreiras do parque Municipal da Colina de Mong Há, iniciativa que contou com 39 candidaturas. “A colina de Mong Há é um pequeno morro localizado no Norte da Península de Macau, no cimo do qual existe um parque equipado com diversas instalações de lazer e de serviços municipais destinados ao uso público. No entanto, a falta de conveniência na utilização dos transportes públicos e de sistema pedonal afecta a apetência dos cidadãos pela subida a colina usando as instalações do parque”, pode ler-se no catálogo das obras da competição.

Neste âmbito, vista a necessidade de melhorar as vias de acesso pedonal desta colina, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) desafiou a Associação dos Arquitectos de Macau (AAM) a organizar em conjunto esta competição, “permitindo a participação de indivíduos ou equipas de desenho da arquitectura, no sentido de proporcionar fundamentos e orientações para o reordenamento da Colina de Mong Há com a adição do sistema pedonal sem barreiras”.

Ao Ponto Final, Ricardo Santos Meireles, que cabeceou um das equipas vencedoras do primeiro prémio juntamente com Nuno Alves e Bruno Malés, explicou um pouco mais sobre o projecto. “Normalmente, quem consegue ir lá tem muitas dificuldades em percorrer o próprio espaço da colina. O projecto em si explora dois pontos específicos à volta da colina, e um dos pontos importantes a apontar é de ser sem barreiras e de ser acessível a pessoas que tenham dificuldades motoras. Portanto, é de providenciar a conexão do ponto A ao ponto B, atravessando o ponto B e C que está estipulado no concurso, e em dois pontos específicos do projecto. É, no fundo, ligar dois espaços da colina entre si de maneira que as pessoas de ambos os lados tivessem menos dificuldades de acesso porque a colina é muito íngreme”, explicou.

Este concurso esteve aberto a todos os profissionais da arquitectura e, no caso desta equipa vencedora, foram três arquitectos portugueses que trabalham em três gabinetes diferentes, unidos pela amizade e na vontade de participar e de desenvolverem uma proposta juntos. Entre os vencedores esteve também a dupla liderada pelo português Rogério de Oliveira, com Laura de Juan.

Em termos de requisitos à participação, este concurso exigia um máximo de quatro pessoas e que pelo menos uma delas teria de estar registada na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). “Este projecto em si é um concurso de ideias. Primeiro, é conceptual, que pode dar providência à continuidade. Essa é a nossa expectativa e esperamos que isto vá para a frente, portanto, que este concurso aborde a questão de uma maior abrangência de prémios. Aqui houve cinco primeiros prémios e cinco menções honrosas, que faz no total 10 prémios”, acrescenta Ricardo Santos Meireles.

Quando questionado sobre se estava à espera de ganhar, o arquitecto que reside em Macau há 9 anos, conta: “Ganhar foi uma surpresa. Tínhamos a expectativa só da participação, quando soubemos da notícia sentimos que foi algo gratificante porque estivemos sempre a trabalhar depois do horário de trabalho, durante várias semanas, até às 3 ou 4 da manhã. Ainda por cima, como cada um tem o seu horário, foi difícil”, acrescentou o arquitecto. “Nós estamos na expectativa de receber então o convite para a segunda fase do projecto e está estipulado que o IAM vai entrar em contacto para os primeiros cinco vencedores para que possamos então aprofundar um pouco mais o projecto. Portanto, nós como os outros, estamos agora numa ‘shortlist’ para dar procedimento a isto”, explicou Ricardo Meireles.

No sábado, além da entrega de prémios, foi também a inauguração da exposição onde se podem ver as propostas dos vencedores, e também dos restantes, na Ecohouse de Mong Há. Ricardo Meireles reitera que houve uma grande disputa para os lugares vencedores. “Foi gratificante para todos nós porque acaba também por impulsionar um pouco a maneira como os arquitectos em Macau também conseguem viver o espaço em Macau, integrarem-se na cultura local, e é um pouco o perceber que existe o ‘fairplay’ ainda neste tipo de concursos em que houve uma disputa muito grande. Normalmente existe uma separação ainda muito grande entre os arquitectos locais que são de língua chinesa e os de língua portuguesa. Percebemos que o júri olhou mesmo para as propostas em concreto e foi gratificante perceber que o que nos propusemos vai ao encontro do expectável da parte do júri, pois o júri também é de várias áreas especificas, e foi bom perceber isso”, apontou o arquitecto português.

Sobre a forma como vê a arquitectura actualmente no território, Ricardo Meireles diz que é uma “pergunta difícil”, e assinala que a arquitectura actualmente ainda está em impulsão em Macau. “Ainda existe muito a arquitectura dos arquitectos dos gabinetes locais, que estão bem presentes em Macau, e existe outra versão nova, mais recente, de arquitectos a abrir novos gabinetes, mais pequenos, e que estão a tentar, de certa maneira, ter algum impulso em Macau, e ainda se vê um pouco aquela dificuldade em conseguir novos projectos”, lamentou.

O arquitecto refere que há gabinetes que têm os seus contactos e muitas vezes recebem convites para entrar em concursos em Macau porque já têm currículo na área específica. Por outro lado, há gabinetes de arquitectura mais recentes que não conseguem entrar muito no mercado sem ser através de outros gabinetes que já estão mais presentes em Macau, o que “dificulta um pouco a situação”. “Acho que para melhorar a situação, começaria tudo por uma abertura um pouco maior ao âmbito da arquitectura e o que a arquitectura significa para Macau. O que nós podemos dar mais à cidade é criar uma nova dinâmica em cruzamento com a cidade velha e com a cidade nova que está aberta ao mundo, como é Macau. Não se pode ficar apenas por aquele conceito mais antigo que Macau”, frisou.

No entender do arquitecto, muitas vezes há partes da cidade que estão desconexas e “não comunicam umas com as outras”, devendo ser feita uma leitura mais urbana para projectar edifícios. “Temos de projectar as ligações, as comunicações, não só visuais, mas físicas também, e é um pouco através de um conjunto de ideias mais urbanas que podemos que podemos encontrar o nosso ponto de partida”, concluiu. Joana Chantre – Macau in “Ponto Final”

 Joanachantre.pontofinal@gmail.com



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