Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Portugal – Eduardo Lourenço (1923 – 2020)


Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa, escrevendo várias obras sobre a sociedade e identidade portuguesa. O Labirinto da Saudade (“discurso crítico sobre as imagens que de nós próprios temos forjado”, nas palavras do autor)​, Fernando, Rei da Nossa Baviera, Os Militares e o Poder são algumas das suas principais obras.

Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de Maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, na Beira Alta. O mais velho de sete irmãos, e filho de um militar do exército, frequentou a escola primária da aldeia onde nasceu e matriculou-se, posteriormente, no Colégio Militar, em Lisboa, onde concluiu o curso em 1940.

“Vindo de uma pequena aldeia e de uma família conservadora, encontrou em Coimbra um ambiente mais aberto e propício a uma reflexão cultural que sempre haveria de prosseguir”, refere o Dicionário Cronológico de Autores Portugueses”, editado em 1998. Frequentou o curso de Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde foi depois professor assistente. Emigrou para França em 1949, ano em que é publicado o seu livro de estreia, Heterodoxia I – “um dos mais nobres e perturbantes discursos ensaísticos de toda a nossa história literária”, classificou o professor e ensaísta Eugénio Lisboa.

Foi leitor de Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Hamburgo e Heidelberg, na Alemanha, e Montpellier, na França, depois professor de filosofia na Universidade Federal da Bahia, no Brasil. Também foi leitor a cargo do Governo francês nas Universidades de Grenoble e de Nice.

Na juventude escreveu poesia e narrativa, mas passou para uma literatura mais ensaística. “Em relação à ficção – com a minha falta de sentido do concreto – muito cedo pensei que não teria capacidade de me tornar naquilo que eu mais queria ser: um romancista, um ficcionista”, disse à revista Ler, em 2008.

Conhecia Dostoievsky, Kafka e Camus, mas o primeiro encantamento literário foi com Júlio Dinis, ainda criança. Husserl, Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger e Sartre estavam nas suas primeiras leituras. Apesar destas referências, “a sua mundividência foi associada à de um certo existencialismo, sobretudo por volta dos anos 50, altura em que colaborou na Árvore e se tornou amigo de Vergílio Ferreira”, descreve o Dicionário Cronológico de Autores Portugueses. “Eduardo Lourenço nunca se deixou enfeudar, todavia, a qualquer escola de pensamento, já que, embora favorável a ideias de esquerda, nunca abandonou uma atitude crítica perante essa esquerda, facto sobejamente explícito em opiniões manifestadas no conturbado período pós-revolucionário”.

Apaixonado pela literatura, referia-se aos livros como “filhos” e dizia que “estar-se sem livros é já ter morrido”. Em 2008, nessa conversa com a Ler, dizia que “dificilmente” conseguiria imaginar o mundo sem livros em papel. “Bom, de qualquer modo os livros ainda estarão aí. Estarão aí, mas como museu. Em vez de termos uma biblioteca, que é uma floresta viva da memória humana, os livros estarão lá como espectros. Mas, enfim, podem ser ressuscitados pela leitura de cada um. Isso modifica a nossa relação com o mundo. Porque o relacionamento com os livros – que vem de todos os livros que a gente lê quando é jovem – torna-os bocados de nós próprios. São as tábuas privadas das nossas leis. As escritas e as não escritas. Faltará qualquer coisa quando a nossa relação com eles for puramente electrónica.”

E completava: “No livro a gente pode voltar atrás, andar para frente. Também podemos fazer isso com a imagem, provavelmente, mas há sobretudo esse tempo que é transportado fisicamente pelo livro. Esse pó que fica nos livros. O pó do tempo. Nos novos instrumentos não haverá pó. É só o que lhes falta. Esse pó quer dizer o tempo, quer dizer a própria essência da nossa vida.”

Entre as várias distinções que Eduardo Lourenço recebeu estão o Prémio Casa da Imprensa (1974), o Prémio Jacinto do Prado Coelho (1986), o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon (1988), o Prémio Camões (1996), o Prémio Pessoa (2011), e o Prix du Rayonnement de la Langue et de la Littérature Françaises da Academia Francesa (2016). Em França, recebeu também a condecoração de Officier de l’Ordre de Mérite, Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres; em Espanha, a Encomienda de Numero de la Orden del Mérito Civil. Em Portugal, era Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, de que também possuía a Grã-Cruz, assim como da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Liberdade. Era também Oficial da Ordem Nacional do Mérito, Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras e da Legião de Honra de França.

A missa de corpo presente decorre na quarta-feira, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, às 12h, sendo celebrada pelo cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, e pelo cardeal e bibliotecário da Santa Sé, Tolentino Mendonça, referiu fonte da Presidência da República à Lusa. In “Público” – Portugal com “Lusa”


 

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