Professor,
filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias
vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais
proeminentes da cultura portuguesa, escrevendo várias obras sobre a sociedade e
identidade portuguesa. O Labirinto da Saudade (“discurso crítico sobre
as imagens que de nós próprios temos forjado”, nas palavras do autor), Fernando,
Rei da Nossa Baviera, Os Militares e o Poder são algumas das suas
principais obras.
Eduardo
Lourenço Faria nasceu em 23 de Maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no
concelho de Almeida, na Beira Alta. O mais velho de sete irmãos, e filho de um
militar do exército, frequentou a escola primária da aldeia onde nasceu e
matriculou-se, posteriormente, no Colégio Militar, em Lisboa, onde concluiu o
curso em 1940.
“Vindo
de uma pequena aldeia e de uma família conservadora, encontrou em Coimbra um
ambiente mais aberto e propício a uma reflexão cultural que sempre haveria de
prosseguir”, refere o Dicionário Cronológico de Autores Portugueses”,
editado em 1998. Frequentou o curso de Histórico-Filosóficas na Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, onde foi depois professor assistente.
Emigrou para França em 1949, ano em que é publicado o seu livro de estreia, Heterodoxia
I – “um dos mais nobres e perturbantes discursos ensaísticos de toda a
nossa história literária”, classificou o professor e ensaísta Eugénio Lisboa.
Foi
leitor de Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Hamburgo e
Heidelberg, na Alemanha, e Montpellier, na França, depois professor de
filosofia na Universidade Federal da Bahia, no Brasil. Também foi leitor a
cargo do Governo francês nas Universidades de Grenoble e de Nice.
Na
juventude escreveu poesia e narrativa, mas passou para uma literatura mais
ensaística. “Em relação à ficção – com a minha falta de sentido do concreto –
muito cedo pensei que não teria capacidade de me tornar naquilo que eu mais
queria ser: um romancista, um ficcionista”, disse à revista Ler, em 2008.
Conhecia
Dostoievsky, Kafka e Camus, mas o primeiro encantamento literário foi com Júlio
Dinis, ainda criança. Husserl, Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger e Sartre
estavam nas suas primeiras leituras. Apesar destas referências, “a sua
mundividência foi associada à de um certo existencialismo, sobretudo por volta
dos anos 50, altura em que colaborou na Árvore e se tornou amigo de Vergílio
Ferreira”, descreve o Dicionário Cronológico de Autores Portugueses.
“Eduardo Lourenço nunca se deixou enfeudar, todavia, a qualquer escola de
pensamento, já que, embora favorável a ideias de esquerda, nunca abandonou uma
atitude crítica perante essa esquerda, facto sobejamente explícito em opiniões
manifestadas no conturbado período pós-revolucionário”.
Apaixonado
pela literatura, referia-se aos livros como “filhos” e dizia que “estar-se sem
livros é já ter morrido”. Em 2008, nessa conversa com a Ler, dizia que
“dificilmente” conseguiria imaginar o mundo sem livros em papel. “Bom, de
qualquer modo os livros ainda estarão aí. Estarão aí, mas como museu. Em vez de
termos uma biblioteca, que é uma floresta viva da memória humana, os livros
estarão lá como espectros. Mas, enfim, podem ser ressuscitados pela leitura de
cada um. Isso modifica a nossa relação com o mundo. Porque o relacionamento com
os livros – que vem de todos os livros que a gente lê quando é jovem – torna-os
bocados de nós próprios. São as tábuas privadas das nossas leis. As escritas e
as não escritas. Faltará qualquer coisa quando a nossa relação com eles for puramente
electrónica.”
E
completava: “No livro a gente pode voltar atrás, andar para frente. Também
podemos fazer isso com a imagem, provavelmente, mas há sobretudo esse tempo que
é transportado fisicamente pelo livro. Esse pó que fica nos livros. O pó do tempo.
Nos novos instrumentos não haverá pó. É só o que lhes falta. Esse pó quer dizer
o tempo, quer dizer a própria essência da nossa vida.”
Entre
as várias distinções que Eduardo Lourenço recebeu estão o Prémio Casa da
Imprensa (1974), o Prémio Jacinto do Prado Coelho (1986), o Prémio Europeu de
Ensaio Charles Veillon (1988), o Prémio Camões (1996), o Prémio Pessoa (2011),
e o Prix du Rayonnement de la Langue et de la Littérature Françaises da
Academia Francesa (2016). Em França, recebeu também a condecoração de Officier
de l’Ordre de Mérite, Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres; em Espanha,
a Encomienda de Numero de la Orden del Mérito Civil. Em Portugal, era Grande
Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, de que também possuía a
Grã-Cruz, assim como da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Liberdade.
Era também Oficial da Ordem Nacional do Mérito, Cavaleiro da Ordem das Artes e
das Letras e da Legião de Honra de França.
A missa
de corpo presente decorre na quarta-feira, no Mosteiro dos Jerónimos, em
Lisboa, às 12h, sendo celebrada pelo cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel
Clemente, e pelo cardeal e bibliotecário da Santa Sé, Tolentino Mendonça,
referiu fonte da Presidência da República à Lusa. In “Público”
– Portugal com “Lusa”
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