O
cônsul de Portugal em Cantão lamentou ontem o “desconhecimento e desinteresse”
dos empresários portugueses pela sua área de jurisdição, uma das mais prósperas
e populosas do país asiático.
“Portugal
está muito pouco representado na província de Guangdong e, particularmente,
muito pouco representado na cidade de Shenzhen”, explicou o cônsul de Portugal
em Cantão, André Sobral Cordeiro, à agência Lusa. O diplomata falava à margem
de um evento de promoção do vinho português realizado num hotel de luxo,
situado no distrito financeiro de Cantão, a capital da província de Guangdong.
Guangdong
é a província chinesa que mais exporta e a primeira a beneficiar das reformas
económicas adoptadas pelo país no final dos anos 1970, integrando três das seis
Zonas Económicas Especiais da China – Shenzhen, Shantou e Zhuhai.
Um
plano de integração regional, designado Área da Grande Baía, visa conectar as
principais cidades da província e as regiões semiautónomas vizinhas de Macau e
Hong Kong, num mercado comum composto por cerca de 70 milhões de habitantes e
um Produto Interno Bruto de 1,5 mil milhões de dólares – maior que as economias
da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20.
A
cidade de Shenzhen, outrora uma vila pacata, é hoje sede das principais firmas
tecnológicas da China, incluindo o grupo de telecomunicações Huawei, a
fabricante automóvel BYD ou o gigante da Internet Tencent. “Alguns países
europeus da nossa dimensão, e até mais pequenos, têm 30 ou 40 empresas em
Shenzhen”, explicou Sobral Cordeiro. “Isto, economicamente, faz a diferença”,
apontou.
As
declarações do diplomata português surgem numa altura em que a China é a única
grande economia mundial a operar em pleno, após ter controlado com sucesso a
pandemia de covid-19. O país está também a empreender uma campanha de
erradicação da pobreza extrema, que inclui a transferência de grande parte da
população rural para áreas urbanizadas, aumentando a necessidade de importar
bens alimentares. “O que a China diz é que quer comprar e a China, de facto,
precisa de comprar, no setor agroalimentar, onde é mais do que óbvio, mas não
só”, afirmou o cônsul.
Wolfgang,
presidente da Associação de Importação de Alimentos de Guangdong, considerou
que, na área dos vinhos, a China passou de um período em que a indústria era
controlada por alguns grandes distribuidores, com monopólio nacional, para um
período de fragmentação. “Os consumidores procuram agora a diferença, algo novo
e com boa relação preço-qualidade”, explicou.
Os
alimentos embalados são outra área promissora, defendeu Wolfgang. “Há cada vez
mais jovens chineses caseiros, que gostam de consumir ‘snacks’ enquanto
assistem televisão ou jogam jogos de computador”, contou.
O
líder da Associação de Importadores de Alimentos de Guangdong lembrou que os
cantoneses “adoram comer” e que Guangdong é uma província voltada para o
comércio externo, com vários portos de grande dimensão. “Somos uma província
muito populosa e temos uma função como centro de distribuição para toda a
China”, descreveu.
Na
ausência de mais iniciativa por parte dos empresários portugueses, investidores
chineses desenvolveram nos últimos anos propriedades vinícolas e marcas em
Portugal, que são agora vendidas na China.
É
o caso do empresário de Macau Wu Zhiwei, proprietário da Quinta da Marmeleira,
em Alenquer. Lançada em 2015, a Marmeleira produz mais de 200 mil garrafas de
vinho, a cerca de 50 quilómetros a norte de Lisboa.
Para
Carmen Wu, assessora do presidente do conselho de administração da Quinta da
Marmeleira, é preciso trazer mais produtos portugueses para a China e promover
“vigorosamente” a cultura portuguesa no país asiático. A propriedade vinícola
conta já com cem hectares de área de cultivo e pretende continuar a expandir,
através da aquisição de terrenos anexos. “O nosso foco não é apenas na
província de Guangdong ou Xangai”, explicou. “Queremos vender em toda a China”,
disse. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”
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