Há
sensivelmente um mês, o Instituto do Patrimônio Cultural (IPC) de Cabo Verde,
que tem por missão a identificação, inventariação, investigação, salvaguarda,
defesa e divulgação dos valores do patrimônio cultural, móvel e imóvel,
material e imaterial da nação insular, antiga colônia portuguesa, localizada
perto da costa noroeste de África, apresentou virtualmente o projeto do futuro
Museu da Emigração de Cabo Verde.
A
iniciativa, que visa a preservação e valorização da identidade cultural do
arquipélago, formado por dez ilhas vulcânicas na região central do Oceano
Atlântico, através de um espaço museológico que permita perpetuar e
salvaguardar todo o processo histórico da emigração cabo-verdiana, constitui no
âmbito da cultura lusófona uma excelente notícia e um projeto estruturante.
Pois como assinalam os responsáveis do IPC, Cabo Verde é “historicamente desde
a sua génese um país de emigração, migração interna entre as ilhas, emigração
para o estrangeiro”, como seja, a emigração para o continente africano, como
por exemplo, para outras antigas colônias lusas, designadamente São Tomé e
Angola, e para vários países europeus, mormente para Portugal.
Na
esteira das palavras do antropólogo Gaudino Cardoso, Cabo Verde, cuja metade da
população vive fora do país, consequência da escassez de recursos naturais e da
pobreza econômica do território insular, constitui “Avenidas de Comunicação
com o resto do Mundo”.
Uma
“avenida de comunicação” que no caso concreto de Portugal contribui para que a
comunidade cabo-verdiana seja atualmente uma das comunidades imigrantes mais
representativas. No início deste século estimava-se que havia 83 000
descendentes ou originários de Cabo Verde a residirem no território nacional,
dos quais 90% na Grande Lisboa. Como sustenta Sandra Maria Moreira Cabral da
Veiga, na tese Os Emigrantes cabo-verdianos em Portugal: Identidade
construída, os cabo-verdianos “constituem o grupo contemporâneo de
emigrantes com níveis de consolidação mais significativos no contexto da
sociedade portuguesa” e são “uma das mais importantes comunidades de emigrantes
em Portugal, quer em termos numéricos, quer históricos”.
Futuro
polo dinamizador das profundas relações históricas e culturais da nação
cabo-verdiana com a pátria lusa e o mundo lusófono, o recente anúncio da
criação do Museu da Emigração de Cabo Verde pode ter igualmente o condão de
despertar em Portugal o adormecido projeto do Museu Nacional da Emigração, cuja
criação foi aprovada, como recomendação, pela Assembleia da República, a 27 de
outubro de 2017, e cuja construção está prevista desde 2018 em Matosinhos.
Um
projeto, há muito ambicionado pelas comunidades portuguesas espalhadas pelos
quatro cantos do mundo, cuja passagem do papel para a realidade peca por
tardia, que além de uma perspetiva polinuclear de articulação com vários museus
municipais e regionais ligados ao fenômeno migratório, como é o caso por
exemplo, do Museu das Migrações e das Comunidades, em Fafe, o Espaço Memória e
Fronteira, localizado em Melgaço, e o Museu da Emigração Açoriana, instalado na
Ribeira Grande. Deve igualmente, possuir uma dimensão de articulação e
cooperação transnacional, não só com outros núcleos museológicos espalhados
pelas comunidades portuguesas, como é o caso da Galeria dos Pioneiros
Portugueses, um espaço museológico em Toronto, que se dedica à perpetuação da
memória e das histórias dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá,
mas também com o mundo lusófono, como é o caso do vindouro Museu da Emigração
de Cabo Verde. Daniel Bastos – Portugal in “Mundo
Lusíada”
Sem comentários:
Enviar um comentário