Uma
experiência científica liderada por Rui Curado Silva, docente da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e investigador do
Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), vai
para o espaço a bordo da Estação Espacial Internacional através da Agência
Espacial Europeia (ESA).
Além
da Universidade de Coimbra, a experiência, designada "Ageing of Ge/Si and
CZT samples for sensors and Laue lenses", integra investigadores da
Universidade da Beira Interior (UBI), do Observatório de Astrofísica e Ciências
do Espaço de Bolonha, do Instituto Nacional de Astrofísica de Itália
(INAF/OAS-Bologna), e do Instituto de Materiais para Eletrónica e Magnetismo do
Conselho Nacional de Investigação de Parma (CNR/IMEM-Parma, Itália).
A
experiência foi selecionada no âmbito do concurso “Euro Material Ageing”
promovido pela ESA e pretende analisar os efeitos do ambiente espacial nos
materiais das câmaras dos futuros telescópios de raios gama. Rui Curado Silva explica que, «para
observarmos o Universo nos comprimentos de onda dos raios X e dos raios gama
(astrofísica de altas energias), somos obrigados a enviar para o espaço
telescópios equipados de sensores capazes de captar imagens do céu nessa banda
do espectro eletromagnético. Com efeito, nesta banda do espectro (mais
energética do que a banda do visível), a atmosfera protege-nos e absorve a
radiação antes de chegar à superfície da Terra».
Os
cientistas de Coimbra desenvolveram novos sensores de semicondutor de CZT
(telureto de cádmio e zinco) para as câmaras dos telescópios de raios X e gama.
O problema, esclarece o coordenador da experiência espacial, «é que estes
sensores quando são expostos ao ambiente de radiação orbital no espaço são
danificados e o seu funcionamento degrada-se com o tempo. Até hoje, estes
efeitos nunca foram estudados com a requerida profundidade para este tipo de
sensores».
Por
isso, vão ser enviados alguns desses sensores para o espaço, que serão
instalados numa plataforma que está no exterior da Estação Espacial
Internacional (ISS: International Space Station). Essa plataforma chama-se Bartolomeo
e «está exposta ao ambiente exterior de radiação, bem como a variações de
temperatura extremas: cerca de -150° C quando a ISS orbita do lado noturno da
Terra, e a temperaturas da ordem dos 120° C quando a ISS se encontra do lado do
sol», indica o docente da FCTUC.
Após
um ano de exposição à radiação e a ciclos extremos de variação de temperatura
na plataforma Bartolomeo – tempo que vai durar a missão, cujo lançamento
deverá acontecer entre final de 2021 e meados de 2022 –, «os sensores de CZT
ser-nos-ão enviados de volta para Coimbra. Iremos ligá-los e testá-los para
avaliar se continuam operacionais e, caso funcionem, qual o nível de degradação
do seu funcionamento», explica.
A
partir desta análise, a equipa poderá então validar ou não estes sensores para
serem utilizados nos futuros telescópios espaciais para astrofísica de altas
energias, bem como perceber como será possível produzir sensores ainda
melhores.
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