Uma
equipa de cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra (FCTUC) desenvolveu, em parceria com a indústria, um sistema
tecnológico inovador de cogeração de energia a partir de biomassa para clientes
com grandes consumos de energia térmica e elétrica, nos setores dos serviços,
pequena e média indústria e agropecuário.
A
cogeração de energia consiste na produção simultânea de duas formas de energia
– neste caso, térmica e elétrica - queimando um único combustível, fóssil ou
não, e caracteriza-se por ser uma forma mais económica, eficiente e sustentável
do que os métodos tradicionais de geração independente.
A
tecnologia de cogeração de energia desenvolvida pelos cientistas da FCTUC, no
âmbito de projetos desenvolvidos com a SCIVEN Lda nos últimos anos, materializa-se
num equipamento modular acoplado a uma caldeira para produção de água quente,
preferencial, mas não necessariamente alimentada a biomassa. O novo sistema
converte-se assim numa minicentral de produção de energia elétrica local, mais
eficiente e sustentável em comparação com as grandes centrais, sempre que o seu
utilizador necessita de energia térmica.
Basicamente,
explicam os coordenadores do projeto, José Baranda Ribeiro, Jorge André e
Ricardo Mendes, do Departamento de Engenharia Mecânica da FCTUC, e Eduardo
Costa, da empresa SCIVEN, «a partir de uma caldeira a biomassa, desenvolvemos
um conjunto de tecnologia capaz de produzir energia elétrica para autoconsumo
enquanto se aquece água ou espaços. Optámos por integrar no sistema piloto uma
caldeira a biomassa, neste caso pellets [granulado proveniente de
desperdícios de madeira, produzidos de forma sustentável], porque estes são uma
fonte de energia renovável, limpa, fiável e de qualidade certificada, para além
de economicamente muito competitiva».
Acrescente-se
que as caldeiras a biomassa de última geração, como as que a SCIVEN explora,
são de operação e manutenção transparente, cómoda, segura e fiável para o
utilizador, estando aptas para os mercados mais exigentes, como o dos serviços.
Atualmente,
as caldeiras mais usadas, por exemplo, em hotéis, IPSS, e edifícios públicos
(hospitais, universidades, aeroportos, etc.), são caldeiras a gás (natural ou
propano) ou a gasóleo, combustíveis muito mais caros que os pellets
entregues no local. Por isso, a sua substituição por este sistema integrado
«será altamente vantajosa para indústrias e serviços que necessitem
simultaneamente de calor e eletricidade, quer do ponto de vista económico quer
ambiental. É uma solução que permite reduzir significativamente os custos de
energia. Está também alinhada com as metas de descarbonização dos processos e
da economia, com um potencial de redução das emissões de CO2 na ordem das
centenas de toneladas por ano. Trata-se, pois, de uma solução particularmente
adequada a instalações de pequena e média dimensão com elevados níveis de
consumo de energia térmica», afirmam os promotores.
Os
coordenadores notam ainda que a implementação em larga escala deste tipo de
sistemas em Portugal «não só permite diminuir a importação de combustíveis
fósseis, contribuindo para uma política energética sustentável, como contribui
para criar novas cadeias de valor. Por exemplo, incentiva uma melhor gestão
florestal, valorizando os resíduos resultantes da limpeza das matas e
diminuindo o risco de incêndios florestais, através de redes locais de recolha,
processamento e consumo de biomassa. Fomenta-se, assim, a valorização dos
recursos naturais endógenos e a fixação das pessoas em meios predominantemente
mais desfavorecidos pela ruralidade e interioridade».
Segundo
os cientistas da FCTUC, a grande inovação deste projeto «é provar a viabilidade
da mini-cogeração de energia, isto é, a cogeração de energia em pequena escala,
dado que a cogeração para grandes potências já é praticada há muitos anos. O
objetivo do projeto é criar valor económico através de um sistema integrado de
cogeração de calor e eletricidade incorporando uma caldeira a biomassa».
A
minicentral piloto construída à escala real, instalada no Departamento de
Engenharia Mecânica da FCTUC, caracteriza-se por uma potência térmica nominal
de 350 kW e uma potência elétrica nominal de 12 kW.
Este sistema tecnológico
foi desenvolvido no âmbito de um projeto financiado pelo programa PT2020 e por
fundos nacionais através da Agência Nacional de Inovação. O consórcio vai
continuar o desenvolvimento da tecnologia com vista a alargar o seu mercado. Universidade
de Coimbra “Faculdade de Ciências e Tecnologia” - Portugal
Sem comentários:
Enviar um comentário