Inspirado na tradição artística parisiense do início do
século XX, a exposição Salão de Outono tem sido uma plataforma de lançamento de
novos artistas de Macau na última década com a atribuição do Prémio Fundação
Oriente para as Artes Plásticas. Em ano do 10º aniversário, o evento conta com
a presença no dia da inauguração do escritor angolano Ondjaki para uma sessão
de música e ‘spoken word’ com o título “Chão de Novo”
A
exposição ‘Salão de Outono 2019’ vai ser inaugurada no próximo dia 2 de
Novembro, às 17h30, na Casa Garden com a apresentação de um total de 78 obras
de quase 50 artistas locais. Organizado pela Art For All Society (AFA) e pela
Fundação Oriente, o evento comemora o 10.º aniversário este ano com uma amostra
do que se faz em Macau a nível artístico, e a divulgação do Prémio Fundação
Oriente para as Artes Plásticas, que garante desde logo ao vencedor um prémio
monetário e a oportunidade de visitar Portugal para um programa de intercâmbio
artístico de um mês.
As
78 obras de arte seleccionadas pelo júri incluem pintura a óleo e a acrílico,
aguarela, desenho, escultura, fotografia, gravura e instalação. Segundo a
informação veiculada pela organização, na décima edição do evento participaram
não só jovens e potenciais artistas, mas também artistas que já desempenham um
papel central no cenário da arte contemporânea de Macau, nomeadamente Cai Guo
Jie, Erik Fok, Lai Sio Kit, Francisco Ricarte, Ricardo Meireles ou Sylviye Lei.
Em
declarações ao Ponto Final, Ana Paula Cleto, delegada de Macau da Fundação
Oriente, fez um balanço positivo da primeira década do ‘Salão de Outono’ e
considerou que evento tem sido determinante para ajudar a desenvolver o
trabalho de jovens artistas locais. “Não podemos deixar de confirmar que o
projecto em si foi essencial para o desenvolvimento do trabalho dos artistas em
Macau”, começa por dizer Ana Paula Cleto, acrescentando que desde que a
Fundação Oriente começou a organizar este evento com a AFA, tem-se notado um
aumento de “acontecimentos deste género, no sentido de exposições, a
acontecerem em Macau”.
Uma
opinião partilhada por Alice Kok, presidente da AFA, que assinala também o
aumento do número de artistas e de produção artística de qualidade na última
década por causa do ‘Salão de Outono’. “Há um aumento óbvio do número de
artistas e de produção artística nos últimos dez anos. Hoje em dia têm surgido
jovens com produções artísticas muito mais maduras em comparação com artistas
da mesma idade que surgiam há dez anos. As produções dos jovens artistas são
mais maduras e variadas em termos de qualidade e expressões”, afirmou Alice Kok
ao Ponto Final.
“Nos
últimos anos, o número de entradas tem sido mais ou menos o mesmo, mas em
comparação com o Salão de Outono de há dez anos houve um aumento no total.
Nestes últimos dez anos testemunhámos um grande florescimento das expressões
artísticas criadas por jovens de Macau. O Salão de Outono foi criado
exactamente para isso. Todos os anos é como um banquete com obras de arte à
disposição onde compartilhamos o nosso apreço pelas crescentes formas de arte
criadas por artistas locais. Penso que é um evento muito importante para manter
uma tradição e celebrar a nossa colheita artística”, frisa a presidente da AFA.
Presente
desde o início do projecto, Ana Paula Cleto acompanhou a evolução e a qualidade
dos trabalhos apresentados tanto para o Salão Outono, como nas próprias
candidaturas ao Prémio Fundação Oriente para as Artes Plásticas.
“Os
artistas, de certa forma, começaram a ser menos introvertidos no sentido de
mostrarem a sua arte e começaram a participar em mais exposições. Esta é uma
possibilidade que nós damos a muitos artistas que não têm nenhuma hipótese de
expor em lugar nenhum, nem em Macau, nem fora de Macau, de mostrarem as suas
obras pela primeira vez. Portanto, nesse sentido, o Salão de Outono é um marco
importante”, frisou Ana Paula Cleto, acrescentando também que se nota uma
enorme diferença no crescimento dos jovens artistas de Macau após a residência
em Lisboa.
“Penso
que esta primeira possibilidade que nós damos aos jovens artistas de
participarem no Salão de Outono, e depois a projecção com o prémio, eles depois
lançam-se. Vão a Portugal, fazem uma exposição em Lisboa, são vistos por
pessoas interessadas, coleccionadores, e naturalmente que isto dá-lhes uma
perspectiva, eu diria que isto lhes dá asas para voarem, e vê-se perfeitamente
a diferença do antes de irem a Portugal e o depois, é muito evidente”, afirmou
Ana Paulo Cleto ao Ponto Final.
Prémio Fundação Oriente para as Artes Plásticas
Para
além da exposição de 78 obras de quase 50 artistas locais na Casa Garden, o
Salão de Outono é ainda palco para a atribuição do Prémio Fundação Oriente para
as Artes Plásticas, que garante ao vencedor um prémio monetário e uma
residência artística em Portugal.
No
ano passado, a vencedora do Prémio Fundação Oriente para as Artes Plásticas foi
Yang YiJun com uma escultura em madeira dela própria em tamanho quase natural,
e com uma expressão que marcou o público pelo realismo da figura.
“Este
ano concorrem 21 pessoas ao Prémio Fundação Oriente para as Artes Plásticas, o
que foi um número muito bom porque foi o ano em que tivemos mais candidatos com
peças muito boas, o que fez com que nós atribuíssemos algumas menções honrosas,
mas a obra vencedora é muito interessante e com um conceito por detrás da obra
com uma abordagem moderna e ao mesmo tempo clássica”, revelou Ana Paula Cleto
ao Ponto Final.
Poesia em língua portuguesa na voz de um escritor
angolano
Na
comemoração dos 10 anos do “Salão de Outono”, a Fundação Oriente convidou o
escritor Ondjaki e a violoncelista brasileira Maria Clara Valle para
apresentarem um espectáculo de música e ‘spoken word’ com o título “Chão de
Novo”, que se irá realizar no dia da inauguração do evento, às 19h30, no jardim
da Casa Garden.
O
espectáculo estabelece o encontro da poesia em língua portuguesa, dita pelo
escritor Ondjaki, com a música da brasileira Maria Clara Valle. A poesia é de
escritores de língua portuguesa e o espectáculo varia entre a leitura dos
poemas e a música.
“Os
salões de Outono em França não eram só exposições de obras de arte, eram outras
intervenções artísticas também, e essa também foi sempre a ideia de
complementar este Salão de Outono com mais alguma coisa, para além da pintura,
da escultura, da gravura, das artes plásticas, e o ano passado já tínhamos
convidado para um espectáculo o poeta português José Anjos com o músico João
Morais, que é conhecido pelo ‘O Gajo’, e para além desses dois músicos,
convidámos uma rapariga chinesa para dizer poesia em chinês, e fizemos um
espectáculo no jardim da Casa Garden, precisamente à mesma hora do que vai
acontecer este ano”, começou por dizer a delegada de Macau da Fundação Oriente
sobre a oportunidade de trazer este ano o escritor angolano.
“Para
este ano, considerámos que deveríamos trazer novamente alguém e surgiu-nos a
oportunidade de trazer o Ondjaki. E o Ondjaki é o Ondjaki, um excelente
escritor. Para além desse espectáculo vamos ter ainda um concerto de Jazz.
Espero que estes espectáculos sejam ainda melhores do que nas últimas edições,
e que venha a enriquecer este evento que realizamos todos os anos. Esperemos
contar com mais presenças deste género, nem sempre é possível”, assinalou Ana
Paula Cleto. In “Ponto Final” - Macau
pontofinalmacau@gmail.com
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