A Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa (FJLP)
defendeu, em carta aberta, o jornalista são-tomense Óscar Medeiros, alvo de uma
ação judicial, repudiando "a instauração e o desenvolvimento do
processo" e apelou à libertação do réu
"A
Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa -- FJLP solidariza-se com o
colega Óscar Medeiros, repudia a instauração e o desenvolvimento do processo
judicial e roga às autoridades, em especial às judiciárias em São Tomé e
Príncipe para que seja encerrado e declarado inocente o jornalista, como medida
de JUSTIÇA!" lê-se na nota enviada à Lusa e assinada pelo presidente da
direção executiva da organização, Alcimir Antonio do Carmo.
Para
a FJLP, a aplicação de processos a jornalistas é "uma clara tentativa de
impor censura, de amedrontar os profissionais da imprensa, de querer expor e
denegrir a imagem daqueles que têm o dever de fiscalizar, sobretudo
autoridades, em defesa do interesse público e da democracia".
Alcimir
Antonio do Carmo justificou a missiva com a finalidade de "dar
conhecimento público internacional" sobre o processo contra Óscar
Medeiros.
Sediada
em São José do Rio Preto, estado brasileiro de São Paulo, a FJLP assume-se como
uma entidade internacional que defende a liberdade de profissão e de expressão
dos jornalistas, reclamando membros filiados em Angola, Brasil, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, assim
como em Macau e Goa.
Óscar
Medeiros é alvo de uma ação judicial por, em 2012, enquanto diretor da TVS -
televisão pública -, ter divulgado uma reportagem com base num relatório de uma
auditoria do Tribunal de Contas feita à gestão das contas dos tribunais que
apontava inúmeras irregularidades, alegadamente cometidas por quatro
magistrados, incluindo o presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Silva
Gomes Cravid.
No
trabalho jornalístico, Óscar Medeiros identificou todos os juízes e
funcionários dos tribunais, Supremo e de primeira instância, visados pelo
relatório como tendo sido os responsáveis por essas irregularidades. Os juízes
decidiram processar criminalmente os auditores do Tribunal de Contas e o
jornalista, mas depois retiraram a queixa contra os autores do documento
O
julgamento foi suspenso pouco mais de uma hora depois de iniciar, tendo sido
adiado para dia 15, devido à ausência de testemunhas de defesa.
O
advogado de Óscar Medeiros, Adelino Isidro, acredita que a sessão do próximo
dia 15 "vai correr muito bem", argumentando que "não há matéria
de facto que possa conduzir a uma condenação".
"O
meu constituinte limitou-se a escrever uma matéria que já era pública, que é o
relatório do Tribunal de Contas, sem qualquer intenção, sem qualquer vontade de
manchar ou denegrir os magistrados", sustentou Adelino Isidro.
O
Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (SJS) e a Associação
dos Jornalistas São-tomenses (AJS) apelaram esta quarta-feira aos magistrados e
funcionários judiciais do país para desistirem da ação judicial contra o
jornalista.
Num
comunicado divulgado na quarta-feira, as duas organizações de jornalistas
manifestaram "total incompreensão e perplexidade" pelo facto de Óscar
Medeiros "continuar a ser alvo de processo judicial", por ter
divulgado o conteúdo de um relatório do Tribunal de Contas que expunha várias
irregularidades na gestão dos fundos dos tribunais.
A
situação provocou uma troca de acusações entre os sindicatos das duas
instituições e a interferência do poder político levou os magistrados e
funcionários judiciais a retirarem o processo contra os auditores, mas
mantiveram-no contra Óscar Medeiros.
O
sindicato e a Associação dos Jornalistas São-tomenses "entendem que tendo
o cerne da questão radicado no relatório e tendo sido retirada a queixa contra
os auditores, perde sentido que os juízes e funcionários judiciais prossigam
com a ação cível de indemnização contra o jornalista e contra o Estado
são-tomense", indica o comunicado.
No
documento de três parágrafos, as duas organizações socioprofissionais apelam
ainda à "coerência e ao bom senso" dos magistrados e funcionários
judiciais, e "reafirmam a firme defesa dos princípios que norteiam a
liberdade de imprensa, os direitos dos jornalistas de informar e o direito do
público de ser informado".
A
SJS e AJS "denuncia toda e qualquer atitude percetível como intimidação,
coação e perseguição dos jornalistas no exercício das suas funções".
Fonte
judicial disse à Lusa que o jornalista é acusado do crime de abuso de liberdade
de imprensa, injúria e difamação, punível com penas de prisão até seis meses ou
indemnização.
Óscar
Medeiros é correspondente da portuguesa RDP-África e da Rádio Voz da América. In “RTP” –
Portugal com “Lusa”
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