A Fundação Sindika Dokolo comprou e repatriou para Angola
20 peças de arte que tinham sido levadas de museus angolanos para coleções
estrangeiras e prepara-se para entregar ao museu de Kinshasa a primeira peça
congolesa recuperada
A
informação foi avançada em entrevista à agência Lusa pelo empresário congolês
Sindika Dokolo, considerado um dos maiores colecionadores de arte em África,
que tem vindo a comprar, através da sua fundação, peças dispersas por coleções
europeias e "roubadas" em África.
"Nós
temos feito um grande trabalho com a fundação, ao nível da parceira com o museu
do Dundo (província angolana da Lunda Norte) e o Governo de Angola, para que se
possam repatriar peças de arte que foram roubadas, que desapareceram do museu.
E até agora já recolhemos e repatriamos 20 peças", afirmou Sindika Dokolo,
que é casado com a empresária angolana Isabel dos Santos.
Segundo
o colecionador, em visita recente a Cabo Verde, duas dessas peças foram
entregues à embaixada de Angola em Bruxelas há cerca de uma semana, para serem
repatriadas para museus angolanos.
"É
uma questão filosófica: a questão da cultura é uma questão de identidade e
também acho que os problemas de desenvolvimento em África não são apenas
técnicos, de economia, de finanças. Tem realmente a ver com o sentido de
identidade, de celebração dos valores próprios, uma tomada de consciência. E
isso é muito mais profundo do que apenas fórmulas do FMI e do Banco
Mundial", enfatizou.
Além
de Angola, e das peças que sobretudo foram levadas do histórico Museu do Dundo
durante a guerra civil angolana (1975 a 2002), a Fundação Sindika Dokolo
vira-se agora para a República Democrática do Congo (RDCongo), país natal
daquele empresário e colecionador de arte.
Crítico
dos quase 20 anos do regime do Presidente Joseph Kabila na RDCongo, Sindika
Dokolo esteve cerca de cinco anos no exílio, devido aos processos movidos em
Kinshasa, tendo regressado apenas em maio último, já depois da chegada ao poder
de Félix Tshisekedi, que tomou posse como chefe de Estado congolês em janeiro.
"Ao
mesmo tempo, agora que posso voltar para a minha terra, para o Congo,
obviamente que eu quero também ser um ator de dinamismo ao nível da cena
cultura e artística. Tem um novo museu em Kinshasa que vai ser inaugurado nas
próximas semanas e já temos identificada uma obra que a minha fundação já
comprou e que gostaríamos de repatriar e oferecer ao seu dono, que é o museu de
Kinshasa", explicou.
Trata-se
de uma máscara do antigo Reino dos Kubas, do centro da República Democrática do
Congo.
"Os
Kubas são uma etnia que não fica muito longe da fronteira com Angola e a ideia
seria tentar fazer uma cerimónia oficial (de entrega da máscara) um pouco à
imagem do que foi feito em Angola, no Palácio Presidencial, com o Presidente da
República (da RDCongo) e com o rei dos Kubas", anunciou ainda o empresário.
Em
fevereiro de 2016, ainda com José Eduardo dos Santos - pai de Isabel dos Santos
- nas funções de Presidente em Angola, a Fundação Sindika Dokolo entregou ao
chefe de Estado, no Palácio Presidencial, em Luanda, duas máscaras e uma
estatueta do povo Tchokwe (leste de Angola), que tinham sido saqueadas durante
o conflito armado, recuperadas após vários anos de negociação com
colecionadores europeus.
Para
Sindika Dokolo, o repatriamento de obras de arte levadas de África para
coleções privadas em países ocidentais é um tema que começa a ganhar nova
força, desde logo com a promessa do Presidente de França, Emmanuel Macron, de
entregar ao continente uma grande parte do acervo francês com património
africano.
"Para
tentar consciencializar a população que a nossa cultura e a nossa arte tem
valor e que a nossa história não começou no dia em que Diogo Cão (navegador
português) viu um sujeito do reino do Congo em 1482 na foz do rio Congo (...)
Acho que através da cultura se consegue trabalhar sobre a pessoa, o cidadão, o
que faz de nós africanos, congoleses", descreveu o empresário, sobre a
recuperação de obras de arte, através da sua fundação.
Na
sua coleção pessoal, Sindika Dokolo conta com mais de 5000 obras de arte de
diversos artistas, nomeadamente africanos. In “Angola
24 Horas” - Angola
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