O restaurante “A Vencedora” voltou a abrir portas, para surpresa de muitos. Mantém o nome, os cozinheiros, os empregados, o menu, os preços. Tudo igual ao que existia quando o espaço fechou há menos de um ano. Foi ontem o primeiro dia da nova vida do estabelecimento, que tem um novo responsável. Simon Chan, amigo do antigo dono, revelou ao Jornal Tribuna de Macau que quer manter “tudo igual ao que era”, garantindo que o contrato é permanente, o que deixa garantias de que a “velha” Vencedora voltou para ficar. Os clientes agradecem o cozido à portuguesa, o bacalhau com grão, as iscas, o caldo verde, regados com bom vinho
Mesas
postas e compostas ontem à hora do almoço. O ambiente era especial por se
tratar da abertura de um restaurante. Só que “A Vencedora” não é um restaurante
qualquer. Em Novembro de 2023 quando o então dono decidiu fechar as portas,
ficara a ideia de que o espaço não reabriria, pelo menos com as características
que o tornaram famoso.
Tinham
sido 106 anos a servir muitas gerações de clientes, com comida típica
portuguesa e alguma macaense. O restaurante tradicional, familiar, um dos mais
conhecidos entre a comunidade lusa e de enorme aceitação pela qualidade e
baixos preços praticados, afinal “ressuscitou”.
Situado
na Rua do Campo, junto ao edifício dos Serviços de Administração e Função
Pública, o restaurante tem na mesma porta de sempre, envidraçada, um papel com
a informação “opening soon”, por isso, está a funcionar ainda a título
experimental. “Não está prevista nenhuma abertura oficial, apenas abrir as
portas e chamar os clientes, os antigos e os novos”, revelou ao Jornal Tribuna
de Macau o novo dono. “Daqui a dois ou três dias já podemos considerar
oficialmente aberto”, ressalvou o empresário residente de Macau e nascido em
Hong Kong.
Simon
Chan, 58 anos, quer cumprir com o que prometeu ao dono anterior. “Ele estava
renitente, mas disse-me que gostaria que o restaurante continuasse, desde que
fosse com o mesmo estilo, porque foi assim que ganhou nome”, salientou o novo
proprietário. “Disse-lhe que manteria tudo igual ao que estava antes e foi
assim que o convenci a ceder-me o espaço”, diz.
“Fica
tudo igual ao que era antes, pelo menos durante uns tempos, e depois se verá se
haverá algumas alterações, que serão sempre para manter a qualidade da comida e
os preços acessíveis”, asseverou.
O
novo responsável estava surpreendido pelo facto de o nosso jornal querer tirar
fotografias. “Não contava com isto, mas é uma confirmação de que o restaurante
era muito querido e conhecido na cidade”, acentua, garantindo que a “história
deste restaurante merece que cuidemos dele e que o mantenhamos com as
características que sempre teve”.
Simon
Chan indicou que o contrato de arrendamento não tem dada estipulada, sendo
“quase permanente”, sustenta. “A condição é manter o estilo, o menu, os preços,
a qualidade, para continuar a servir o público de Macau”.
Clientes “mataram saudades” de um espaço com muita
história
Recorde-se
de que o tempo do estabelecimento de comidas “A Vencedora”, fundado em 1918,
tinha chegado aparentemente ao fim há menos de um ano porque o antigo
proprietário, Lam Kok Veng, de 72 anos, que é ainda dono do prédio, decidiu que
não tinha mais idade para estar à frente do negócio. Um dos filhos encontra-se
a viver fora do território e o outro não estava interessado em manter o
restaurante. Estas foram as razões do fecho, para mágoa dos habituais
frequentadores.
Clientes
que voltaram ontem ao almoço para apadrinhar a reabertura e voltar a degustar
aquilo que consideram ser “comida portuguesa saborosa e barata”. É o caso do
casal de macaenses António e Helena Carvalho, que se encontravam logo na
primeira mesa junto à porta. “Ficámos surpreendidos pela reabertura do
restaurante e por isso estamos muito felizes, pois já tínhamos saudades”,
disseram ao JTM entre umas dentadas no bacalhau cozido com grão e legumes.
Depois
de provar a comida que escolheram, António e Helena garantem que está tudo
igual. “Sim, parece que tudo se mantém, desde a qualidade da comida, o menu e
os empregados”. Pagar só iriam fazê-lo no fim, mas “já sabemos que os preços
estão também quase iguais ao que era antes”. O marido sugere até que “deviam
aumentar um bocadinho, era compreensível, porque a vida agora está mais cara e
os preços aqui continuariam mesmo assim atractivos”.
Numa
mesa mais atrás, a conselheira das Comunidades Rita Santos e o deputado José
Pereira Coutinho disseram que quiseram estar presentes no acto da reabertura.
Rita Santos, que escolhe os pratos de feijão com patas de porco e o ‘minchi’
como os seus favoritos, tem boas recordações do espaço.
“As
memórias são muitas, porque o meu pai, quando era polícia, nos anos 60 e 70,
trazia a família aqui para comer, incluindo eu e os meus irmãos”, aponta,
acrescentando que “soube no Facebook que o restaurante iria reabrir hoje
[ontem] e por isso fiquei muito contente, uma vez que faz parte da nossa
história e aqui podemos reencontrar também muitos amigos”.
Na
vitrina continuam as peças de cerâmica e lembranças de Portugal, não faltando
uma pequena bandeira lusitana. Quanto à ementa, que não muda há mais de 20
anos, lá estão pratos típicos da comida portuguesa, como caldo verde, tacho,
‘minchi’, peixe frito com arroz de tomate, cozido à portuguesa.
Na
sua longa história, “A Vencedora”, que é o segundo restaurante mais antigo de
Macau, atrás do Fat Sui Lau (1903), foi uma aposta de negócio do avô dos
antigos proprietários, que tinha sido cozinheiro num navio ao serviço da
Marinha Portuguesa, chamado precisamente “A Vencedora”. O restaurante tornou-se
popular entre a comunidade portuguesa, nomeadamente entre os militares em
comissão de serviço em Macau. Remontando à década de 1940, por exemplo, havia
cerca de 800 soldados portugueses nos quartéis do território.
Como
curiosidade, resta recordar que o restaurante só fechou uma vez ao longo de 106
anos, por causa dos incidentes “1-2-3”, de 3 de Dezembro de 1966. Vítor
Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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