Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 2 de julho de 2024

Macau – Restaurante “A Vencedora” reabriu portas de surpresa e com “tudo igual”

O restaurante “A Vencedora” voltou a abrir portas, para surpresa de muitos. Mantém o nome, os cozinheiros, os empregados, o menu, os preços. Tudo igual ao que existia quando o espaço fechou há menos de um ano. Foi ontem o primeiro dia da nova vida do estabelecimento, que tem um novo responsável. Simon Chan, amigo do antigo dono, revelou ao Jornal Tribuna de Macau que quer manter “tudo igual ao que era”, garantindo que o contrato é permanente, o que deixa garantias de que a “velha” Vencedora voltou para ficar. Os clientes agradecem o cozido à portuguesa, o bacalhau com grão, as iscas, o caldo verde, regados com bom vinho


Mesas postas e compostas ontem à hora do almoço. O ambiente era especial por se tratar da abertura de um restaurante. Só que “A Vencedora” não é um restaurante qualquer. Em Novembro de 2023 quando o então dono decidiu fechar as portas, ficara a ideia de que o espaço não reabriria, pelo menos com as características que o tornaram famoso.

Tinham sido 106 anos a servir muitas gerações de clientes, com comida típica portuguesa e alguma macaense. O restaurante tradicional, familiar, um dos mais conhecidos entre a comunidade lusa e de enorme aceitação pela qualidade e baixos preços praticados, afinal “ressuscitou”.

Situado na Rua do Campo, junto ao edifício dos Serviços de Administração e Função Pública, o restaurante tem na mesma porta de sempre, envidraçada, um papel com a informação “opening soon”, por isso, está a funcionar ainda a título experimental. “Não está prevista nenhuma abertura oficial, apenas abrir as portas e chamar os clientes, os antigos e os novos”, revelou ao Jornal Tribuna de Macau o novo dono. “Daqui a dois ou três dias já podemos considerar oficialmente aberto”, ressalvou o empresário residente de Macau e nascido em Hong Kong.

Simon Chan, 58 anos, quer cumprir com o que prometeu ao dono anterior. “Ele estava renitente, mas disse-me que gostaria que o restaurante continuasse, desde que fosse com o mesmo estilo, porque foi assim que ganhou nome”, salientou o novo proprietário. “Disse-lhe que manteria tudo igual ao que estava antes e foi assim que o convenci a ceder-me o espaço”, diz.

“Fica tudo igual ao que era antes, pelo menos durante uns tempos, e depois se verá se haverá algumas alterações, que serão sempre para manter a qualidade da comida e os preços acessíveis”, asseverou.

O novo responsável estava surpreendido pelo facto de o nosso jornal querer tirar fotografias. “Não contava com isto, mas é uma confirmação de que o restaurante era muito querido e conhecido na cidade”, acentua, garantindo que a “história deste restaurante merece que cuidemos dele e que o mantenhamos com as características que sempre teve”.

Simon Chan indicou que o contrato de arrendamento não tem dada estipulada, sendo “quase permanente”, sustenta. “A condição é manter o estilo, o menu, os preços, a qualidade, para continuar a servir o público de Macau”.

Clientes “mataram saudades” de um espaço com muita história

Recorde-se de que o tempo do estabelecimento de comidas “A Vencedora”, fundado em 1918, tinha chegado aparentemente ao fim há menos de um ano porque o antigo proprietário, Lam Kok Veng, de 72 anos, que é ainda dono do prédio, decidiu que não tinha mais idade para estar à frente do negócio. Um dos filhos encontra-se a viver fora do território e o outro não estava interessado em manter o restaurante. Estas foram as razões do fecho, para mágoa dos habituais frequentadores.

Clientes que voltaram ontem ao almoço para apadrinhar a reabertura e voltar a degustar aquilo que consideram ser “comida portuguesa saborosa e barata”. É o caso do casal de macaenses António e Helena Carvalho, que se encontravam logo na primeira mesa junto à porta. “Ficámos surpreendidos pela reabertura do restaurante e por isso estamos muito felizes, pois já tínhamos saudades”, disseram ao JTM entre umas dentadas no bacalhau cozido com grão e legumes.

Depois de provar a comida que escolheram, António e Helena garantem que está tudo igual. “Sim, parece que tudo se mantém, desde a qualidade da comida, o menu e os empregados”. Pagar só iriam fazê-lo no fim, mas “já sabemos que os preços estão também quase iguais ao que era antes”. O marido sugere até que “deviam aumentar um bocadinho, era compreensível, porque a vida agora está mais cara e os preços aqui continuariam mesmo assim atractivos”.

Numa mesa mais atrás, a conselheira das Comunidades Rita Santos e o deputado José Pereira Coutinho disseram que quiseram estar presentes no acto da reabertura. Rita Santos, que escolhe os pratos de feijão com patas de porco e o ‘minchi’ como os seus favoritos, tem boas recordações do espaço.

“As memórias são muitas, porque o meu pai, quando era polícia, nos anos 60 e 70, trazia a família aqui para comer, incluindo eu e os meus irmãos”, aponta, acrescentando que “soube no Facebook que o restaurante iria reabrir hoje [ontem] e por isso fiquei muito contente, uma vez que faz parte da nossa história e aqui podemos reencontrar também muitos amigos”.

Na vitrina continuam as peças de cerâmica e lembranças de Portugal, não faltando uma pequena bandeira lusitana. Quanto à ementa, que não muda há mais de 20 anos, lá estão pratos típicos da comida portuguesa, como caldo verde, tacho, ‘minchi’, peixe frito com arroz de tomate, cozido à portuguesa.

Na sua longa história, “A Vencedora”, que é o segundo restaurante mais antigo de Macau, atrás do Fat Sui Lau (1903), foi uma aposta de negócio do avô dos antigos proprietários, que tinha sido cozinheiro num navio ao serviço da Marinha Portuguesa, chamado precisamente “A Vencedora”. O restaurante tornou-se popular entre a comunidade portuguesa, nomeadamente entre os militares em comissão de serviço em Macau. Remontando à década de 1940, por exemplo, havia cerca de 800 soldados portugueses nos quartéis do território.

Como curiosidade, resta recordar que o restaurante só fechou uma vez ao longo de 106 anos, por causa dos incidentes “1-2-3”, de 3 de Dezembro de 1966. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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