Lisboa
– A economista Georgina veio estudar, a professora Josefa chegou em criança e a
estudante Carla nasceu por cá: são três das 11 histórias reunidas em livro para
mostrar as mulheres cabo-verdianas além do estereótipo da empregada doméstica.
Georgina
Benrós de Mello, economista, ex-ministra do Comércio e Turismo de Cabo Verde e
que, até 2020, ocupou o cargo de directora geral da Comunidade de Países de
Língua Portuguesa (CPLP) é uma das histórias contadas na primeira pessoa no
livro “Histórias e Memórias de Mulheres de Cabo Verde em Portugal”.
A
obra produzida no âmbito do projecto Memória e Feminismos da UMAR – União de
Mulheres Alternativa e Resposta e coordenada por Teresa Sales foi lançada, a
partir de Lisboa, numa sessão online que contou com a presença de
algumas das mulheres retratadas.
“Temos
sido levados a ver o papel das mulheres cabo-verdianas como trabalhadoras
domésticas ou a assimilá-las ao universo musical. Mas as cabo-verdianas em
Portugal são muito mais do que isso”, disse Teresa Sales, durante a
apresentação do livro.
Foi
por isto que, explicou, o projecto quis ouvir as histórias de mulheres
cabo-verdianas que foram chegando a Portugal nas décadas de 70, 80 e 90 do
século passado, bem como das gerações mais jovens, que já por cá nasceram.
Carla
Fonseca é uma dessas vozes mais jovens.
Nascida
em Portugal, casada e com filhos, reviveu no livro, mais do que a sua história,
o percurso da mãe, chegada a Portugal de navio, fugida de casamento arranjado
pelo pai e em busca de melhor vida.
“A
minha mãe veio para Portugal com 14 anos. Foi uma vida sofrida, mas com
perseverança conseguiu conquistar o seu lugar”, disse Carla Fonseca,
sublinhando que o maior orgulho da mãe é o facto de os filhos terem conseguido
estudar.
A
tirar uma licenciatura em Psicologia, Carla sublinhou a importância que a sua
família sempre deu à educação.
“A
educação sempre foi tudo para nós”, disse, adiantando que a mãe, hoje com 67
anos, está no nono ano de escolaridade, cumprindo agora um sonho adiado desde a
juventude.
Para
a jovem, “todos estes testemunhos são importantes porque contribuem para
enaltecer a comunidade cabo-verdiana”, traçando um retrato “de mulheres
batalhadoras, filhas de mulheres batalhadores e que não têm medo de trabalhar”.
Para
Teresa Sales, o “fio condutor” e que une as histórias de “superação e sucesso”
destas mulheres “é o amor a Cabo Verde”, um país que Carla não conhece.
“Nasci
em Portugal, mas sinto o cheiro da terra através da minha mãe. Não conheço Cabo
Verde, mas não desisto porque sinto falta de conhecer e de ver a casa onde a
minha mãe nasceu”, disse.
Ana
Josefa Cardoso, professora e uma das docentes que integrou o projecto “Estudo
em Casa”, outro dos testemunhos do livro, adiantou que, apesar de ter chegado
com 6 anos de idade e ter passado a maior parte da sua vida em Portugal, mantém
“uma ligação muito forte a Cabo Verde”.
“Este
livro veio dar voz a uma comunidade de mulheres e testemunhar o que se faz de
diferente”, disse, considerando que ainda há um conjunto de “ideias
preconcebidas” sobre o que é a mulher cabo-verdiana.
“Quase
que temos um destino traçado, mas nós podemos fazer sempre diferente”,
reforçou.
Além
destas histórias, o livro deu voz a outras mulheres, umas mais mediáticas como
a professora e fundadora, com Georgina Benrós de Mello, da Organização das
Mulheres de Cabo Verde, Alice Matos, ou a cantora Vilma Vieira, outras anónimas
num leque de profissões que inclui operárias, jornalistas, desportistas ou
escritoras.
Além
dos 11 testemunhos, o livro inclui uma homenagem a Helena Lopes da Silva,
destacando o contributo da médica e fundadora do Bloco de Esquerda, entretanto
falecida, na luta pela libertação das antigas colónias portuguesas, nas causas
feministas e na luta anti-racista. In “Inforpress” – Cabo Verde
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