Cecília Jorge assina “Poemas para Macau”, uma obra
“intimista”, razão pela qual não entrará no circuito comercial. Ainda que afirme
não ser poetisa, a jornalista, com mais de 40 anos de carreira, diz que “em
todos nós existe um pouco de pulsão poética” – a sua aparece agora em livro,
com poemas escritos ao longo de 30 anos, sobre a comunidade macaense, a
“esperança”, as “vivências”. Ao Jornal Tribuna de Macau contou porque surge
agora este livro que será apresentado na Fundação Rui Cunha, no dia 11 de
Janeiro, pelas 18:30. É um conjunto de cerca de 48 poemas, com prefácio
assinado pela docente Vera Borges, que conduzirá a apresentação
Intitulado
“Poemas para Macau”, o primeiro livro de poemas da jornalista e autora Cecília
Jorge, e “provavelmente o único”, nas suas palavras, vai ser apresentado na
Fundação Rui Cunha, no dia 11 de Janeiro, pelas 18:30. “Sendo jornalista há
mais de 40 anos, sou mais de prosa. Mas, julgo que em todos nós existe um pouco
de pulsão poética, que transparece não sei quando, nem porquê, nem em que
circunstâncias. Será talvez porque a linguagem que usamos para expressar
sentimentos, ou angústias, resolve de repente escolher esse formato? No meu
caso, é. Não escolho fazer poesia e não sou poetisa, de todo, embora goste
muito de ler e ouvir poesia boa”, afirmou ao Jornal Tribuna de Macau.
A
obra inclui uma selecção de cerca de 48 poemas escritos pela jornalista ao
longo dos últimos 30 anos. Cecília Jorge considera que foram “poucos” e
“esporádicos”, até porque a poesia em si acontece “quando calha”. “Eram os que
estavam arquivados na memória dos computadores, das velhas disquetes e das
novas ‘pen drives’. Havia mais, mas já não constam ou porque foram
oferecidos e o original partiu sem cópias, ou porque seguiram em dedicatórias
de obras que publiquei e dei, ou simplesmente porque se perderam de vez”,
observou.
“Poemas
para Macau” são, tal como indica o título, poemas para esta terra que “chão” da
autora. A obra debruça-se essencialmente na temática da identidade cultural, um
tema que, realça, lhe é “caro desde sempre”. “Do Macaense-Macaísta que eu sou e
da comunidade a que pertenço e está dispersa pelo mundo, das vivências, da
nostalgia, do património perdido e de esperança. Mas [os poemas] são
intimistas”, ressalvou a este jornal.
Entre
o conjunto de poemas, disse ser difícil destacar algum, mas acabou por
mencionar o “Macaense” e “Lilau”. O primeiro porque foi quando se apercebeu, ao
fim de “muito matutar, desde os 23 anos” de que se aproximava de uma
“quase-definição” desta identidade colectiva. O segundo porque “é um reflexo de
uma alma”. “E porque o João Aguiar [um grande amigo da autora] me deu a honra
de incluir um excerto dele no primeiro dos três romances dedicados a Macau –
‘Os Comedores de Pérolas’”, acrescentou.
A
obra não entrará no circuito comercial, estando apenas disponível no dia da
apresentação. Cecília Jorge explica porquê a este jornal: “É pessoal e
intimista, embora trate uma temática que interessará ao macaense e a quem se
debruce sobre questões de identidade cultural. Mas é demasiado intimista para
entrar no circuito comercial. Digamos que está reservada a quem conhece bem o
meu percurso de vida e a quem queira mesmo tê-la, para ler e reflectir”.
A
jornalista disse ainda que “Poemas para Macau” surge por uma “questão de
resiliência conjunta” porque Rogério Beltrão Coelho, marido e parceiro na
‘Livros do Oriente’, decidiu “remar contra a maré e retomar um projecto que já
remontava a 2005”. A edição do livro, conta, foi uma prenda recente de
aniversário do marido e dos filhos.
“O
título chegou a constar num dos catálogos de publicações da editora nessa
altura como obra no prelo, mas depois foi sendo adiada porque surgiram outras
prioridades. O prefácio seria do escritor João Aguiar, um grande amigo que
perdemos em 2010, e eu fiquei sem vontade de a publicar. Devo ao entusiasmo e
empenho da Doutora Vera Borges o ensejo de voltar a pegar nos poemas que
entretanto passaram a incluir outros que fui escrevendo”, acrescentou.
É,
aliás, Vera Borges, docente da Universidade de São José, que assina o prefácio.
No prefácio, pode ler-se que “este volume constitui um pranto, um canto de amor
e morte, que se oferta a Macau, numa celebração elegíaca das ‘raízes
arrancadas’ e ‘dispersas’ da comunidade macaense – os ‘Filhos da terra’ que se
descobrem, por várias razões que não se prendem apenas à restituição de Macau à
China no século XX, sem solo, ‘sem poiso’ em qualquer das margens a que a sua
híbrida identidade cultural historicamente os religa.”
“Este
volume é precioso pelos dados que carreia sobre a comunidade macaense, a
evocação saudosa de lugares, ritos, atmosferas; pela lucidez e claridade da
análise que estriba o balanço, magoado, mas ainda assim generoso, do (nosso)
passado imperial; pela consistência e coerência das linhas temáticas que
estruturam este livro; pela coesão verbal, pelo verso terso, a intensidade da
sua dicção”, escreve ainda Vera Borges. “Neste pranto por Macau e a Macau
oferecido, que entendemos como gesto ritual de oblação, retoma-se uma função
imemorial do canto numa voz feminina”.
A
sessão de apresentação do livro estará a cargo de Vera Borges e será conduzida
em português. A entrada é livre. Catarina Pereira – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
Sem comentários:
Enviar um comentário