Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

“Poemas para Macau” numa obra “intimista” de Cecília Jorge

Cecília Jorge assina “Poemas para Macau”, uma obra “intimista”, razão pela qual não entrará no circuito comercial. Ainda que afirme não ser poetisa, a jornalista, com mais de 40 anos de carreira, diz que “em todos nós existe um pouco de pulsão poética” – a sua aparece agora em livro, com poemas escritos ao longo de 30 anos, sobre a comunidade macaense, a “esperança”, as “vivências”. Ao Jornal Tribuna de Macau contou porque surge agora este livro que será apresentado na Fundação Rui Cunha, no dia 11 de Janeiro, pelas 18:30. É um conjunto de cerca de 48 poemas, com prefácio assinado pela docente Vera Borges, que conduzirá a apresentação



Intitulado “Poemas para Macau”, o primeiro livro de poemas da jornalista e autora Cecília Jorge, e “provavelmente o único”, nas suas palavras, vai ser apresentado na Fundação Rui Cunha, no dia 11 de Janeiro, pelas 18:30. “Sendo jornalista há mais de 40 anos, sou mais de prosa. Mas, julgo que em todos nós existe um pouco de pulsão poética, que transparece não sei quando, nem porquê, nem em que circunstâncias. Será talvez porque a linguagem que usamos para expressar sentimentos, ou angústias, resolve de repente escolher esse formato? No meu caso, é. Não escolho fazer poesia e não sou poetisa, de todo, embora goste muito de ler e ouvir poesia boa”, afirmou ao Jornal Tribuna de Macau.

A obra inclui uma selecção de cerca de 48 poemas escritos pela jornalista ao longo dos últimos 30 anos. Cecília Jorge considera que foram “poucos” e “esporádicos”, até porque a poesia em si acontece “quando calha”. “Eram os que estavam arquivados na memória dos computadores, das velhas disquetes e das novas ‘pen drives’. Havia mais, mas já não constam ou porque foram oferecidos e o original partiu sem cópias, ou porque seguiram em dedicatórias de obras que publiquei e dei, ou simplesmente porque se perderam de vez”, observou.

“Poemas para Macau” são, tal como indica o título, poemas para esta terra que “chão” da autora. A obra debruça-se essencialmente na temática da identidade cultural, um tema que, realça, lhe é “caro desde sempre”. “Do Macaense-Macaísta que eu sou e da comunidade a que pertenço e está dispersa pelo mundo, das vivências, da nostalgia, do património perdido e de esperança. Mas [os poemas] são intimistas”, ressalvou a este jornal.

Entre o conjunto de poemas, disse ser difícil destacar algum, mas acabou por mencionar o “Macaense” e “Lilau”. O primeiro porque foi quando se apercebeu, ao fim de “muito matutar, desde os 23 anos” de que se aproximava de uma “quase-definição” desta identidade colectiva. O segundo porque “é um reflexo de uma alma”. “E porque o João Aguiar [um grande amigo da autora] me deu a honra de incluir um excerto dele no primeiro dos três romances dedicados a Macau – ‘Os Comedores de Pérolas’”, acrescentou.

A obra não entrará no circuito comercial, estando apenas disponível no dia da apresentação. Cecília Jorge explica porquê a este jornal: “É pessoal e intimista, embora trate uma temática que interessará ao macaense e a quem se debruce sobre questões de identidade cultural. Mas é demasiado intimista para entrar no circuito comercial. Digamos que está reservada a quem conhece bem o meu percurso de vida e a quem queira mesmo tê-la, para ler e reflectir”.

A jornalista disse ainda que “Poemas para Macau” surge por uma “questão de resiliência conjunta” porque Rogério Beltrão Coelho, marido e parceiro na ‘Livros do Oriente’, decidiu “remar contra a maré e retomar um projecto que já remontava a 2005”. A edição do livro, conta, foi uma prenda recente de aniversário do marido e dos filhos.

“O título chegou a constar num dos catálogos de publicações da editora nessa altura como obra no prelo, mas depois foi sendo adiada porque surgiram outras prioridades. O prefácio seria do escritor João Aguiar, um grande amigo que perdemos em 2010, e eu fiquei sem vontade de a publicar. Devo ao entusiasmo e empenho da Doutora Vera Borges o ensejo de voltar a pegar nos poemas que entretanto passaram a incluir outros que fui escrevendo”, acrescentou.

É, aliás, Vera Borges, docente da Universidade de São José, que assina o prefácio. No prefácio, pode ler-se que “este volume constitui um pranto, um canto de amor e morte, que se oferta a Macau, numa celebração elegíaca das ‘raízes arrancadas’ e ‘dispersas’ da comunidade macaense – os ‘Filhos da terra’ que se descobrem, por várias razões que não se prendem apenas à restituição de Macau à China no século XX, sem solo, ‘sem poiso’ em qualquer das margens a que a sua híbrida identidade cultural historicamente os religa.”

“Este volume é precioso pelos dados que carreia sobre a comunidade macaense, a evocação saudosa de lugares, ritos, atmosferas; pela lucidez e claridade da análise que estriba o balanço, magoado, mas ainda assim generoso, do (nosso) passado imperial; pela consistência e coerência das linhas temáticas que estruturam este livro; pela coesão verbal, pelo verso terso, a intensidade da sua dicção”, escreve ainda Vera Borges. “Neste pranto por Macau e a Macau oferecido, que entendemos como gesto ritual de oblação, retoma-se uma função imemorial do canto numa voz feminina”.

A sessão de apresentação do livro estará a cargo de Vera Borges e será conduzida em português. A entrada é livre. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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