O
cacique indígena brasileiro Raoni Matuktire pediu ao Tribunal Penal
Internacional (TPI) que investigue por “crimes contra a humanidade” o
Presidente brasileiro, acusado de “perseguir” povos indígenas ao destruir o seu
habitat e violar os seus direitos fundamentais.
“Desde
a sua posse [do Presidente Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019], a destruição da
floresta amazónica acelerou sem medida, ocorrendo ainda um aumento do
desmatamento em 34,5% num ano, o maior índice de assassínio de lideranças
indígenas em nestes últimos onze anos, e o colapso e ameaças de órgãos
ambientais”, referiu a denúncia feita ao TPI pelo líder do povo Kayapó e pelo
cacique Almi Surui, revelada ontem pelo jornal Le Monde.
“Esta
situação, a mais dramática dos últimos dez anos, decorre diretamente da
política de Estado desenvolvida pelo Governo de Jair Bolsonaro”, que visa
“remover todos os obstáculos para saquear as riquezas da Amazónia”, de acordo
com a denúncia, que também visa vários Ministros.
Esta
denúncia feita ao TPI, com cinquenta páginas e escrita pelo advogado francês
William Bourdon, reúne as acusações feitas por dezenas de organizações
não-governamentais (ONG) locais e internacionais, instituições internacionais e
cientistas do clima.
Entre
as denúncias estão a suspensão da demarcação de territórios indígenas, um
projeto de lei para abrir áreas protegidas para mineração e agricultura, um
orçamento limitado para agências ambientais assumidas pelos militares,
assassínios impunes de sete líderes indígenas em 2019.
“A
destruição da floresta amazónica”, essencial para a regulação do clima e
atingida por incêndios recordes em 2020, “constituiria um perigo direto não só
para os brasileiros, mas também para toda a humanidade”, referiu o documento.
Os
queixosos consideram que esta política estatal conduz a “homicídios”,
“transferências forçadas de população” e “perseguições”, constituindo “crimes
contra a humanidade” conforme está definido pelo Estatuto de Roma do TPI.
Em
julho de 2020, profissionais de saúde no Brasil também solicitaram uma
investigação do TPI por um “crime contra a humanidade” contra Bolsonaro, desta
vez pela forma como está a lidar com a pandemia da Covid-19.
Há
um mês, em entrevista à agência de notícias AFP, o cacique Raoni acusou o
Presidente brasileiro de querer “aproveitar” a pandemia para eliminar o seu
povo.
O
TPI, criado em 2002 para julgar as piores atrocidades cometidas no mundo e com
sede em Haia (Países Baixos), não é obrigado a acompanhar os milhares de
pedidos feitos ao seu procurador, que decide os casos de forma independente
para ser submetido aos juízes. In “LusoJornal” - França
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